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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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LÍNGUA SOLTA

Após dizer que nem Congresso nem Judiciário o atrapalhariam, presidente afirma que respeita as instituições

Lula recua e diz que foi mal interpretado

Sérgio Lima/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cerimônia no Planalto


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara, José Sarney (PMDB-AP) e João Paulo Cunha (PT-SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou ontem da declaração feita na véspera, de que nem o Congresso nem o Judiciário iriam impedi-lo de colocar o Brasil em posição de destaque.
Lula repetiu o que havia dito, mas afirmou que não se referia às reformas constitucionais.
Em discurso anteontem, o presidente disse o seguinte: "Podem ficar certos de que não tem chuva, não tem geada, não tem terremoto, não tem cara feia, não tem o Congresso Nacional, não tem o Poder Judiciário... Só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar".
A declaração causou mal-estar no Judiciário e no Congresso e está sendo usada pela oposição para desgastar a imagem do governo.
Na sua retratação, feita a pretexto de esclarecimento, Lula dirigiu-se o tempo todo ao Congresso e mencionou apenas uma vez o Judiciário. Para aprovar as reformas no Congresso, o governo precisa dos votos de três quintos dos membros de cada Casa.
Sarney e João Paulo foram ao Palácio do Planalto anunciar formalmente, ao lado de Lula, a convocação extraordinária do Congresso para o mês de julho. Convidados, os líderes de partidos de oposição boicotaram o evento.
"Eu acho importante aproveitar este momento para dizer aos presidentes da Câmara e do Senado que em nenhum momento passou pela cabeça do presidente da República qualquer ofensa ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário", disse Lula.
O anúncio da convocação foi ofuscado pela retratação de Lula e pelo fato de que a pauta de projetos a serem apreciados não foi definida. Lula disse que não há "nada pior em política do que o equívoco ou as pessoas interpretarem tudo pelas manchetes dos jornais". "Eu conheço muito bem como é que funciona o noticiário. Quero dizer que o que eu disse está escrito, com todas as letras: que jamais me passou pela cabeça qualquer ofensa a qualquer Poder deste país", afirmou.
O presidente disse ter sido surpreendido com uma manchete de jornal -não disse qual- que vinculava sua declaração à apreciação das reformas e utilizou isso como mote para se explicar.
"Se eu não acreditasse nas instituições, eu não teria fundado um partido político, não teria sido candidato a presidente da República e não teria ido ao Congresso Nacional, como eu fui, duas vezes, depois da posse", disse.
Segundo Lula, as reformas não são só do interesse do presidente da República, mas uma necessidade da sociedade brasileira. O objetivo, segundo ele, é retomar o crescimento econômico e evitar que o país volte a presenciar cenas como a que aconteceu no Rio, "naquela fila em que as pessoas, para arrumarem um emprego de gari, foram quase massacradas".
Em outro evento, à noite, Lula voltou ao tema. "Eu agora estou mais cuidadoso porque, quando você vira presidente da República, qualquer coisa que você fala vira manchete no jornal no dia seguinte. Se você falar brincadeira. Se você falar coisa séria, não sai."


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