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LÍNGUA SOLTA
Senador José Sarney informou presidente da reação dos congressistas e negociou pedido de desculpas
Oposição boicota solenidade com Lula
RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O recuo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua declaração sobre o Congresso e o Judiciário foi influenciado diretamente pelo boicote de três líderes do
Senado à solenidade de convocação extraordinária do Congresso.
Em discurso feito anteontem na
sede da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), Lula afirmara que nem o Congresso nem o
Judiciário o impediriam de colocar o país em uma posição de destaque. As afirmações foram consideradas uma afronta no Congresso, principalmente pelos partidos
de oposição no Senado, como
PFL e PSDB, e pelo PDT. Na Câmara, os líderes limitaram-se a telefonar para o presidente da Casa.
Em protesto contra as declarações, os líderes da oposição no Senado articularam um boicote à
solenidade no Palácio do Planalto
na qual foi anunciada a pauta da
convocação extraordinária de julho. "Lula deu uma declaração
desnecessária, intempestiva e inábil", afirmou o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN).
"Tomando ao pé da letra o que
o presidente falou, significa que,
mesmo que o Congresso rejeite e
o STF [Supremo Tribunal Federal] declare inconstitucional, ele
fará as reformas. O que ele fará?
Baixará um AI-5? Esse comportamento é perigoso", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM).
Dizendo-se "indignados" e
"constrangidos" com as afirmações do presidente, Agripino, Péres e o líder tucano, Arthur Virgílio (AM), exigiram uma reunião
com o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB), no início da manhã, do qual cobraram uma posição em defesa do Congresso e não
de aliado do Planalto. Eles sugeriram que Sarney não fosse à solenidade na qual Lula anunciaria a
convocação extraordinária.
Durante a conversa, Sarney
concordou que Lula havia se "excedido" nas declarações. Ele telefonou na mesma hora para o presidente, revelando a decisão dos
líderes de não irem ao Planalto e
de cobrarem uma retratação.
Sarney e o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), informaram o presidente da reação dos parlamentares. Lula pediu que Sarney e João
Paulo -com quem também conversou ao telefone- fizessem um
apelo aos líderes para que fossem
à reunião e prometeu dar explicações sobre as declarações feitas.
Agripino, Virgílio e Péres recusaram. "Não poderíamos aceitar
uma retratação interna para declarações que foram públicas",
disse o líder do PFL a Sarney.
"O presidente, na minha opinião, precisa calçar as sandálias
da humildade. Ele está começando a extrapolar. Ele está agindo
com truculência", disse Agripino.
Para o líder tucano Arthur Virgílio, Lula foi "leviano": "Seria indigno de nossa parte irmos lá para
fazer moldura para um presidente que ontem [anteontem] nos
destratou enquanto instituição".
Do Senado, Sarney e Cunha rumaram para o Planalto para conversar com Lula. Argumentaram
que só um pedido de desculpas
evitaria uma crise. O presidente
cedeu às pressões e negou publicamente a intenção de criticar o
Congresso. Sarney e João Paulo
falaram depois de Lula. Ao final, o
presidente brincou com o petista:
"Pegou pesado, hein?".
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