UOL

São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LÍNGUA SOLTA

Senador José Sarney informou presidente da reação dos congressistas e negociou pedido de desculpas

Oposição boicota solenidade com Lula

RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O recuo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua declaração sobre o Congresso e o Judiciário foi influenciado diretamente pelo boicote de três líderes do Senado à solenidade de convocação extraordinária do Congresso.
Em discurso feito anteontem na sede da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), Lula afirmara que nem o Congresso nem o Judiciário o impediriam de colocar o país em uma posição de destaque. As afirmações foram consideradas uma afronta no Congresso, principalmente pelos partidos de oposição no Senado, como PFL e PSDB, e pelo PDT. Na Câmara, os líderes limitaram-se a telefonar para o presidente da Casa.
Em protesto contra as declarações, os líderes da oposição no Senado articularam um boicote à solenidade no Palácio do Planalto na qual foi anunciada a pauta da convocação extraordinária de julho. "Lula deu uma declaração desnecessária, intempestiva e inábil", afirmou o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN).
"Tomando ao pé da letra o que o presidente falou, significa que, mesmo que o Congresso rejeite e o STF [Supremo Tribunal Federal] declare inconstitucional, ele fará as reformas. O que ele fará? Baixará um AI-5? Esse comportamento é perigoso", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM).
Dizendo-se "indignados" e "constrangidos" com as afirmações do presidente, Agripino, Péres e o líder tucano, Arthur Virgílio (AM), exigiram uma reunião com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), no início da manhã, do qual cobraram uma posição em defesa do Congresso e não de aliado do Planalto. Eles sugeriram que Sarney não fosse à solenidade na qual Lula anunciaria a convocação extraordinária.
Durante a conversa, Sarney concordou que Lula havia se "excedido" nas declarações. Ele telefonou na mesma hora para o presidente, revelando a decisão dos líderes de não irem ao Planalto e de cobrarem uma retratação.
Sarney e o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), informaram o presidente da reação dos parlamentares. Lula pediu que Sarney e João Paulo -com quem também conversou ao telefone- fizessem um apelo aos líderes para que fossem à reunião e prometeu dar explicações sobre as declarações feitas.
Agripino, Virgílio e Péres recusaram. "Não poderíamos aceitar uma retratação interna para declarações que foram públicas", disse o líder do PFL a Sarney.
"O presidente, na minha opinião, precisa calçar as sandálias da humildade. Ele está começando a extrapolar. Ele está agindo com truculência", disse Agripino.
Para o líder tucano Arthur Virgílio, Lula foi "leviano": "Seria indigno de nossa parte irmos lá para fazer moldura para um presidente que ontem [anteontem] nos destratou enquanto instituição".
Do Senado, Sarney e Cunha rumaram para o Planalto para conversar com Lula. Argumentaram que só um pedido de desculpas evitaria uma crise. O presidente cedeu às pressões e negou publicamente a intenção de criticar o Congresso. Sarney e João Paulo falaram depois de Lula. Ao final, o presidente brincou com o petista: "Pegou pesado, hein?".


Texto Anterior: Pauta de julho do Congresso fica indefinida
Próximo Texto: Indicados de Lula tomam posse no STF
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.