São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/O PUBLICITÁRIO

Empresário detinha em 2002 cerca de R$ 3,8 mi entre aplicações, carros e participações em empresas; em 2003, valor saltou para R$ 6,7 mi

Patrimônio de Valério dobra no 1º ano de Lula

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do "mensalão", o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza dobrou de patrimônio no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre aplicações financeiras, imóveis, participações em empresas e carros de luxo, detinha em 2002 cerca de R$ 3,8 milhões. Em 2003, seu patrimônio saltou para R$ 6,7 milhões, de acordo com dados bancários, cartoriais e informações prestadas ao Detran, aos quais a Folha teve acesso.
O salto de seus bens de um ano para o outro se deve em grande medida aos ganhos que suas empresas lhe renderam. Em 2002, recebeu das agências de publicidade (e coligadas) das quais é sócio R$ 504 mil a título de lucros e dividendos. No ano seguinte, foram R$ 2,95 milhões. Ou seja, o retorno que suas empresas lhe proporcionaram no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes maior do que em 2002.
O governo federal é um dos principais clientes das agências de propaganda de Marcos Valério. São cinco importantes contas: Banco do Brasil, Correios, ministérios do Trabalho e dos Esportes e a estatal Eletronorte. A imagem da Câmara dos Deputados também está sob a responsabilidade do empresário -o contrato de publicidade foi fechado na gestão do ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP) em 2003.
Marcos Valério atua no ramo da propaganda, mas não é publicitário por formação. Graduou-se em engenharia. Poucos anos atrás, encaixava-se no perfil de classe média, pelo menos de acordo com sua declaração de renda referente a 1997, quando seu patrimônio declarado era de R$ 233.323, formado por R$ 115 mil de cotas da empresa de publicidade SMPB e R$ 118.323 aplicados na caderneta de poupança do banco BCN.
A Folha teve acesso a esse dado por meio de documentos que estão no STF (Supremo Tribunal Federal), por causa de um processo por improbidade administrativa no qual Marcos Valério é um dos réus. Em ação cautelar, o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e contábil da SMPB Comunicação Ltda.
Marcos Valério e sua mulher, Renilda Santiago, levam vida condizente com a riqueza de que desfrutam. São muitos imóveis e carros caros, como dois Pajeros Sport avaliados em mais de R$ 120 mil cada um. Em fundos de investimentos, CDBs (Certificados de Depósito Bancário), contas correntes e cadernetas de poupança, ao todo, eram mais de R$ 4,56 milhões em 2003.
É preciso ressaltar que Marcos Valério já era um homem rico antes do governo petista, com patrimônio de R$ 3,8 milhões segundo dados de 2002. Antes da chegada do PT ao poder, ele mantinha bons contatos com políticos mineiros de outros partidos.
O processo que corre no STF, por exemplo, é fruto de investigação do Ministério Público de Minas Gerais por conta de contrato de patrocínio fechado pelas estatais mineiras Copasa e Comig com a SMPB, em 1998, no valor de R$ 3 milhões.
De acordo com o procurador-geral da República, o ex-governador do Estado naquela época, senador Eduardo Azeredo (PSDB), e o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade (eleito pelo PFL, mas hoje no PL), teriam se beneficiado do contrato com a SMPB nas eleições daquele ano.
Clésio foi sócio de Marcos Valério nas agências de publicidade. Só deixou a SMPB para se candidatar a vice-governador na chapa de Azeredo à reeleição, três semanas antes de a empresa receber os R$ 3 milhões das estatais.

Enriquecimento
Marcos Valério se torna realmente um homem de posses de 1998 a 2002, período que abrange o último ano do governo Azeredo e a gestão de seu sucessor, o peemedebista Itamar Franco.
Apesar do enriquecimento anterior à administração do presidente Lula, chama a atenção como a fortuna de Marcos Valério aumenta rapidamente em 2003. Em 2001, seu patrimônio era de R$ 3,3 milhões. No ano seguinte, sobe para R$ 3,8 milhões, um crescimento de 15%. De 2002 para 2003, a variação é de 76%.
Há também uma curiosidade na forma como Marcos Valério lida com seus recursos. Praticamente todo o seu dinheiro e os seus bens estão em nome de sua mulher ou de seus filhos.
De acordo com os dados bancários aos quais a Folha teve acesso, dos R$ 4,56 milhões de que o casal dispõe em aplicações financeiras, R$ 4,18 milhões estão em nome de Renilda.


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