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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/O PUBLICITÁRIO
Empresário detinha em 2002 cerca de R$ 3,8 mi entre aplicações, carros e participações em empresas; em 2003, valor saltou para R$ 6,7 mi
Patrimônio de Valério dobra no 1º ano de Lula
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um
dos operadores do "mensalão", o
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza dobrou de patrimônio no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre aplicações financeiras,
imóveis, participações em empresas e carros de luxo, detinha em
2002 cerca de R$ 3,8 milhões. Em
2003, seu patrimônio saltou para
R$ 6,7 milhões, de acordo com
dados bancários, cartoriais e informações prestadas ao Detran,
aos quais a Folha teve acesso.
O salto de seus bens de um ano
para o outro se deve em grande
medida aos ganhos que suas empresas lhe renderam. Em 2002, recebeu das agências de publicidade
(e coligadas) das quais é sócio R$
504 mil a título de lucros e dividendos. No ano seguinte, foram
R$ 2,95 milhões. Ou seja, o retorno que suas empresas lhe proporcionaram no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes
maior do que em 2002.
O governo federal é um dos
principais clientes das agências de
propaganda de Marcos Valério.
São cinco importantes contas:
Banco do Brasil, Correios, ministérios do Trabalho e dos Esportes
e a estatal Eletronorte. A imagem
da Câmara dos Deputados também está sob a responsabilidade
do empresário -o contrato de
publicidade foi fechado na gestão
do ex-presidente da Casa João
Paulo Cunha (PT-SP) em 2003.
Marcos Valério atua no ramo da
propaganda, mas não é publicitário por formação. Graduou-se em
engenharia. Poucos anos atrás,
encaixava-se no perfil de classe
média, pelo menos de acordo
com sua declaração de renda referente a 1997, quando seu patrimônio declarado era de R$ 233.323,
formado por R$ 115 mil de cotas
da empresa de publicidade SMPB
e R$ 118.323 aplicados na caderneta de poupança do banco BCN.
A Folha teve acesso a esse dado
por meio de documentos que estão no STF (Supremo Tribunal
Federal), por causa de um processo por improbidade administrativa no qual Marcos Valério é um
dos réus. Em ação cautelar, o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, pediu a quebra dos
sigilos bancário, fiscal e contábil
da SMPB Comunicação Ltda.
Marcos Valério e sua mulher,
Renilda Santiago, levam vida condizente com a riqueza de que desfrutam. São muitos imóveis e carros caros, como dois Pajeros
Sport avaliados em mais de R$ 120
mil cada um. Em fundos de investimentos, CDBs (Certificados de
Depósito Bancário), contas correntes e cadernetas de poupança,
ao todo, eram mais de R$ 4,56 milhões em 2003.
É preciso ressaltar que Marcos
Valério já era um homem rico antes do governo petista, com patrimônio de R$ 3,8 milhões segundo
dados de 2002. Antes da chegada
do PT ao poder, ele mantinha
bons contatos com políticos mineiros de outros partidos.
O processo que corre no STF,
por exemplo, é fruto de investigação do Ministério Público de Minas Gerais por conta de contrato
de patrocínio fechado pelas estatais mineiras Copasa e Comig
com a SMPB, em 1998, no valor de
R$ 3 milhões.
De acordo com o procurador-geral da República, o ex-governador do Estado naquela época, senador Eduardo Azeredo (PSDB),
e o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade (eleito pelo
PFL, mas hoje no PL), teriam se
beneficiado do contrato com a
SMPB nas eleições daquele ano.
Clésio foi sócio de Marcos Valério nas agências de publicidade.
Só deixou a SMPB para se candidatar a vice-governador na chapa
de Azeredo à reeleição, três semanas antes de a empresa receber os
R$ 3 milhões das estatais.
Enriquecimento
Marcos Valério se torna realmente um homem de posses de
1998 a 2002, período que abrange
o último ano do governo Azeredo
e a gestão de seu sucessor, o peemedebista Itamar Franco.
Apesar do enriquecimento anterior à administração do presidente Lula, chama a atenção como a fortuna de Marcos Valério
aumenta rapidamente em 2003.
Em 2001, seu patrimônio era de
R$ 3,3 milhões. No ano seguinte,
sobe para R$ 3,8 milhões, um
crescimento de 15%. De 2002 para
2003, a variação é de 76%.
Há também uma curiosidade na
forma como Marcos Valério lida
com seus recursos. Praticamente
todo o seu dinheiro e os seus bens
estão em nome de sua mulher ou
de seus filhos.
De acordo com os dados bancários aos quais a Folha teve acesso,
dos R$ 4,56 milhões de que o casal
dispõe em aplicações financeiras,
R$ 4,18 milhões estão em nome de
Renilda.
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