São Paulo, sexta, 26 de junho de 1998

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RELIGIÃO
Cardeal, agora responsável pela nomeação de bispos católicos, diz que não indicará quem defender análises marxistas
D. Lucas rejeita religioso inspirado em Marx

da Sucursal de Brasília

D. Lucas Moreira Neves afirmou ontem que não vai recomendar ao papa a nomeação de religiosos que preguem a Teologia da Libertação com o uso de conceitos marxistas.
No cargo de prefeito da Congregação para os Bispos, d. Lucas terá a responsabilidade de examinar os pedidos de nomeação de bispos enviados por todas as partes do mundo. Há cerca de 4.600 bispos no mundo e cerca de 300 no Brasil.
A Teologia da Libertação é uma corrente teológica, surgida na América Latina a partir dos anos 60, que defende ser uma exigência da caridade cristã a libertação do oprimido, que seria obtida com reformas sociais.
Para seus combatedores, essa teologia utiliza categorias de pensamento de origem marxista. É uma referência ao filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), para quem a história do homem é a da luta entre as diferentes classes sociais, determinadas pelas relações econômicas da época.
"Há várias teologias da libertação. A defendida pelo papa é baseada na solidariedade e não é aquela que parte de uma análise marxista", afirmou d. Lucas.
Segundo ele, a doutrina pregada pelo candidato é um dos requisitos analisados para a nomeação ao cargo de bispo. Ele disse que a Teologia da Libertação de orientação marxista não tem o apoio do papa.
Na avaliação do prefeito apostólico nomeado, outro requisito para o candidato a bispo deve ser o relacionamento com as autoridades civis. Além disso, ele disse que pesam na nomeação as atividades sociais do religioso.
No novo cargo, d. Lucas terá audiência com o papa uma vez por semana. Se o papa pedir, o prefeito nomeado poderá avaliar a situação de determinada diocese. D. Lucas disse que não há problemas nas dioceses brasileiras.
A avaliação dos candidatos a bispo também é feita por outros 20 cardeais que participam da congregação, disse d. Lucas.
Ele deverá assumir o novo cargo no dia 25 de julho. Disse que poderá ser consultado sobre a nomeação de seu substituto em Salvador, se a sucessão não for decidida pelo próprio bispo antes de sua posse no Vaticano. "É natural que ele me consulte", disse d. Lucas.
O ex-presidente da CNBB disse que pedia desculpas aos religiosos da Bahia por não ter comunicado os entendimentos feitos com o papa para sua transferência. Os bispos da CNBB desconheciam também o assunto. Até o dia 10 de julho, o ex-presidente da CNBB continuará na função de administrador apostólico da diocese de Salvador . (ABNOR GONDIM)


Colaborou a Redação


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