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TENSÃO POLÍTICA
Líder do MST acusa imprensa de distorcer declarações; ruralistas vão recorrer à Justiça contra sem-terra
"Não quis incitar violência", afirma Stedile
PAULO ROLEMBERG
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM ARACAJU
João Pedro Stedile, um dos
coordenadores nacionais do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), disse ontem
em Aracaju (SE) que não quis incitar a violência no campo com
declarações dadas na quarta-feira.
Num acampamento em Canguçu (RS), Stedile definiu o MST como "um exército de 23 milhões de
pessoas" que não podem "dormir
enquanto não acabarem com eles
[os latifundiários]".
As declarações foram publicadas na quinta-feira, pelo jornal
gaúcho "Zero Hora", e ontem, pela Folha e por outros jornais.
"Evidentemente, o jornalista
não me entrevistou. Ele botou
uma versão distorcida", disse ontem. "Não tive o intuito de ficar
incitando violência ou confronto.
O que eu fiz foi uma análise de
classe da sociedade brasileira."
Em nota, o MST disse que "as
declarações do companheiro João
Pedro Stedile foram claramente
manipuladas e distorcidas, com
má intenção, pelo veículo "Zero
Hora". O Movimento Sem Terra
não emite declarações ou entrevistas para nenhum veículo do
grupo RBS, por sua postura parcial e favorável ao latifúndio.
Acreditamos que esse é um grupo
de comunicação que não merece
credibilidade".
Marcelo Rech, diretor de Redação do "Zero Hora", disse à Agência Folha que as informações não
foram manipuladas. "As declarações dadas por João Pedro Stedile
foram gravadas pelo repórter e reproduzidas na íntegra."
Stedile também comentou as
afirmações do presidente do PT,
José Genoino, de que o governo
Lula não é conivente com os movimentos sociais nem "com ações
de desrespeito às leis". "Acho que
é um exagero do Genoino.Ele sabe que as mobilizações sociais são
um direito do povo brasileiro e
são a única forma do governo ter
força social organizada para fazer
as mudanças", declarou.
O líder dos sem-terra disse que
as lutas que existem, seja no meio
rural ou na cidade, não dependem da vontade dos movimentos.
E que as invasões vão continuar.
"Os pobres tem o direito e precisam se organizar. O MST não vai
parar de organizar os pobres para
que eles usem todas as formas de
organização possível", disse.
O líder do MST participou da
passeata que reuniu cerca de 10
mil pessoas, segundo a PM, que
percorreu ruas da cidade até o ginásio estadual de esportes Constâncio Vieira.
Ruralistas
O presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 45, disse
ontem que pedirá ao Ministério
Público Federal ação criminal,
por "incitação ao crime", contra
Stedile e que enviará ofício às Forças Armadas "pedindo providências contra as declarações de
guerra" do líder do MST.
"Se eu fizesse declarações semelhantes, hoje já estaria na cadeia. É
grande a diferença de tratamento
dispensada ao MST e aos ruralistas. Só porque ele é amigo do presidente Lula não significa que pode dizer tudo sem consequências", afirmou. Segundo Garcia,
"o Exército, a Marinha e a Aeronáutica precisam se posicionar
contra essa incitação à guerra".
As declarações também provocaram reação da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande
do Sul), que ingressou no Ministério Público Estadual com notícia-crime contra Stedile, com pedido de prisão preventiva, por crime contra a paz.
O procurador-geral, Roberto
Bandeira Pereira, disse ontem que
vai encaminhar o expediente à
Promotoria em Canguçu, onde
Stedile deu declarações.
Stedile disse que a postura da
Farsul constitui parte do "jogo de
cena" dos latifundiários. "Eles sabem que não têm moral nenhuma
para manter tanta terra improdutiva. Então, ficam criando factóides", declarou.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência
Folha, em Londrina
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