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Frei Betto diz que latifúndio
é violência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tenta acalmar
os ânimos no campo, seu assessor
especial, Carlos Alberto Libânio
Christo, o Frei Betto, engrossa o
coro do MST no Planalto e declara
que a verdadeira violência no
campo é o latifúndio.
Em artigo comemorativo do
Dia do Agricultor (25 de julho),
intitulado "Terra encharcada de
sangue", Frei Betto critica os opositores do movimento ao comparar a causa do MST à luta pela
abolição da escravatura e à resistência ao regime militar.
"Hoje, é o MST o alvo de quem
não suporta o clamor dos pobres
e se cala diante de uma estrutura
fundiária injusta. Onde anda a
Justiça diante dos 21 que tombaram sob balas assassinas em Eldorado dos Carajás? A impunidade
escancara as portas à criminalidade", diz Frei Betto no texto, que
foi divulgado ontem no informe
eletrônico quinzenal do MST.
Segundo Frei Betto, o artigo foi
escrito há dois meses para a revista "Sem Fronteiras", publicação
mensal cristã na qual escreve regularmente. Porém, disse que as
opiniões expressadas são atuais.
"Violência é a existência do latifúndio. Violência é [haver] milhões de hectares improdutivos
-áreas do tamanho de Luxemburgo- em um país que tem milhões de pessoas passando fome",
disse Frei Betto à Folha, ao ser
questionado sobre a postura do
governo em relação à questão.
Ele não quis comentar o discurso de quarta-feira de João Pedro
Stédile, um dos principais líderes
do MST, no qual teria conclamado os 23 milhões de pessoas da luta camponesa para acabar com os
27 mil fazendeiros do país.
"Tenho excelente relação com o
João Pedro", disse, lembrando
que assessorou o MST até o fim de
2002 e que hoje faz o "meio-de-campo" com o Planalto.
Segundo ele, o presidente Lula
está "tranquilo" porque a reforma
será feita neste segundo semestre.
Vilões e pelourinho
No texto, Frei Betto critica a
concentração de terras e diz que
"muitos" ainda preferem entender que, neste país, "em se cercando, ninguém tasca".
"Há muita terra neste país para
pouca gente. Basta dizer que 44%
pertencem a apenas 1%. (...) São
cerca de 15 milhões perambulando por estradas e acampamentos,
teimando em sonhar que, entre
tanta terra ociosa, hão de encontrar o pedaço de chão que os redima da indigência e do risco de favelização na cidade", diz o texto.
Frei Betto também elogia as atividades do MST e cita três prêmios recebidos pela entidade por
seu trabalho social.
Sobre o regime militar, lembrou
que os militantes de esquerda
eram considerados "terroristas".
"Hoje a história reconhece os verdadeiros vilões, aqueles que deram o golpe de Estado e instauraram a tortura e o desaparecimento de prisioneiros."
Frei Betto conclui o artigo avisando que 25 de julho será dia de
mortes anunciadas "enquanto
não houver uma reforma agrária
e justiça que não pise no direito
dos pobres. O Brasil não merece
uma terra encharcada de sangue".
(LEILA SUWWAN)
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