São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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Araguaia era referência em aulas do Exército

General Araújo, que chefia as buscas de ossadas, foi ensinado sobre êxito militar de campanha

Colegas da turma, formada em 1977 pela Academia Militar das Agulhas Negras, lembram de slides com corpos de guerrilheiros


Joel Silva/Folha Imagem
Integrantes de comissão que busca ossadas de guerrilhas do Araguaia tentam identificar possíveis locais para escavação

RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os oficiais que combateram a guerrilha do Araguaia foram instrutores da turma da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em que se formou o general Mário Lúcio de Araújo, comandante logístico da atual busca das ossadas dos cerca de 60 desaparecidos no conflito.
De 1974 a 77, os cerca de 400 cadetes da turma receberam ensinamentos sob a influência do êxito militar da campanha. Os instrutores que derrotaram a guerrilha comunista eram adorados pelos alunos, disse à Folha um coronel da reserva.
Desde então, a vitória na guerrilha virou referência para o Exército em treinamentos e instruções de combate na selva.
Na classe, também estava o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão da reserva do Exército. Bolsonaro disse que as aulas sobre as estratégias do combate desenvolvido contra os guerrilheiros rurais enviados à selva amazônica pelo então clandestino PC do B mostraram aos cadetes quais eram as intenções "daquela cambada comunista".
À Folha, em entrevista na semana passada, o general Araújo, 53, não foi tão incisivo quanto os colegas de turma. Ele chegou a negar que tenha assistido, na Aman, a aulas sobre o Araguaia. Falou apenas que a classe conheceu as doutrinas militares de ações antiguer- rilha, sem o estudo do caso específico do Araguaia.
O coronel colega de turma dele conta que chegou a ver fotografias de corpos de guerrilheiros, projetadas em slides -material que permanece inédito até hoje. Nas aulas, os instrutores falavam das mortes dos guerrilheiros e dos métodos que usavam para obter informações, disse o oficial, que não se identifica sob a justificativa de não querer se indispor com amigos militares.
Os instrutores eram tenentes, capitães e majores recém-chegados da floresta, vinculados à Siesp (Seção de Instrução Especial) da Aman, escola de formação de oficiais do Exército, instalada em Resende (RJ).
Bolsonaro, 54, lembra que, além das aulas, havia instruções nas matas do Parque Nacional de Itatiaia (vizinho a Resende), em que eram simuladas situações antiguerrilha.
O episódio histórico conhecido como guerrilha do Araguaia aconteceu na região do Bico do Papagaio -sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte de Goiás, hoje Tocantins- na primeira metade dos anos 70. Os guerrilheiros começaram a chegar na região na década anterior. As Forças Armadas reprimiram a guerrilha de 1972 a 1975, quando foi extinta.
Em 2003, a juíza Solange Salgado determinou que o governo localize e entregue às famílias os restos mortais dos desaparecidos. Todos os recursos da União fracassaram.
Para cumprir a ordem judicial, o Ministério da Defesa montou a comissão de buscas, com 33 integrantes militares e civis e o apoio logístico da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, comandada pelo general.


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