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Pela 4ª vez, irmã de desaparecido procura ossada
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO GERALDO DO ARAGUAIA (PA)
É num pequeno pedaço de
terra entre uma limeira, uma
touceira de açaí e uma taboca,
como o bambu é conhecido na
região, que descansa a paz de
Mercê de Castro, 49. Depois de
quase 30 anos de busca, ela diz
ter certeza que é ali que está enterrado o corpo de seu irmão
Antônio Teodoro de Castro, o
Raul da guerrilha do Araguaia.
A certeza vem do testemunho do guia que estava com os
militares na hora em que seu irmão foi executado, em 1974,
um senhor chamado Isaías, que
jamais havia contado a história.
Isaías acompanhava Sebastião Curió Rodrigues de Moura,
o major Curió, quando Raul,
então com 28 anos, foi executado, ao lado de outro guerrilheiro, Cilon da Cunha Brun, o Simão, da mesma idade.
A narrativa bate com a versão
dos moradores, de que eles foram executados juntos. A história militar diz que eles teriam
sido mortos com outros guerrilheiros. A escavação, que deve
começar no mês que vem, pode
elucidar a questão: o general
que comanda a logística da operação, Mário Lúcio de Araújo,
disse que a clareza e a precisão
das indicações tornam esse um
"ponto quente".
É a quarta vez que Mercê visita a região. Na primeira, em
1980, saiu frustrada. Agora,
com revelações recentes do
major Curió, ela deixou sua casa, em Curitiba, e viajou de carro, com o marido e a filha, os
3.000 km até São Geraldo do
Araguaia, no Pará.
Quando chegou, não foi falar
com o grupo de busca que acabara de chegar à região. Bateu
de porta em porta até chegar a
Isaías, que só falou depois de
muita insistência. Com a ajuda
da Associação dos Torturados
na Guerrilha do Araguaia, conseguiu que a comissão de buscas escavasse o local onde ela
diz que o irmão está enterrado.
A reconstituição das últimas
horas de Raul emocionou Mercê. Ao meio-dia de uma quarta-feira, o irmão, abatido pela malária, era conduzido, junto com
o guerrilheiro Simão, por Curió, o sargento do Exército Joaquim Arthur, conhecido como
sargento Ivan, e o guia Isaías.
No caminho Raul xingava
muito Simão, que, preso, torturado e com esperança de ser libertado, havia levado os militares a um ponto de encontro.
Ainda cuspiu em Curió, o que
foi o estopim, segundo Isaías,
para um tiro de fuzil na cabeça.
Mercê agora trata o tema como encerrado. "Limpei o nome
do meu irmão." Em 1993, Raul
apareceu numa lista de justiçados pela guerrilha, o que hoje é
descartado por estudiosos.
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