São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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EM FAMÍLIA

Prefeito de Sobral, Cid Gomes governa cidade do Ceará com o PT de Lula e diz considerar FHC um "frouxo"

PFL fica com "ossinho", diz irmão de Ciro

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRAL (CE)

O prefeito Cid Gomes (PPS), 39, não repete na cidade cearense de Sobral (a 222 km de Fortaleza) a aliança nacional de seu irmão Ciro -que se aproximou de setores considerados conservadores da política para tentar chegar à Presidência da República.
Cid se transformou em liderança regional graças aos efeitos de uma aliança com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi, aliás, para derrubar os setores mais tradicionais da política municipal, representados, em Sobral, pelo PFL -hoje próximo a Ciro no cenário nacional- e pelo PMDB, que Cid conseguiu atrair o PT em 1996, quando se elegeu prefeito pela primeira vez.
Assim como seu irmão presidenciável, Cid tem uma inclinação a frases fortes. Afirma que o PFL tem que manter ""uma distância regulamentar" da campanha de Ciro. "Fica com um ossinho aí", disse sobre o partido de Jorge Bornhausen. Na mesma linha, chamou o presidente Fernando Henrique Cardoso de "frouxo" durante a entrevista em seu gabinete em Sobral.

Agência Folha - Nacionalmente, não parece uma traição a proximidade entre Tasso (PSDB) e Ciro?
Cid Gomes -
Não, de maneira alguma. Em 1998, o Ciro se lançou candidato e conseguiu preservar a relação com o Tasso. Mas o Tasso se dedicou muito ao Fernando Henrique, muito, e os caras (do PSDB) não ficaram satisfeitos. Eu acho que também agora está diferente. O Tasso fez todo o sacrifício e não foi reconhecido. Agora, com muita razão, ele não vai fazer esse sacrifício todo, não, porque o candidato (Serra) é pior.

Agência Folha - Caso vença, o sr. acredita que Ciro conseguirá a harmonia que existe em Sobral, com o apoio do PT e do PSDB?
Cid -
Quem pauta a relação de Executivo e Legislativo é o Executivo. Aqui em Sobral, nos primeiros seis meses de mandato, você pensa que eu não tive problema? Tive, sim senhora.
Chegou o presidente da Câmara aqui, que era uma pessoa que foi criada junto conosco, mas veio ""cheio da razão" reclamar. Os vereadores chegaram a derrubar um veto meu, mas aí eu endureci. Só então a gente conseguiu encontrar um equilíbrio.

Agência Folha - Em boa medida, FHC manteve essa harmonia.
Cid -
Mas sabe quando é que eu me decepcionei com o Fernando Henrique? Você lembra que o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato do Humberto Lucena (ex-senador pelo PMDB-PB que, em 1994, havia utilizado a gráfica do Senado para imprimir material de campanha)? Aí o Senado aprovou uma anistia e ele [FHC" sancionou (em 1995).
Essas coisas são instintivas. O senador lá viu isso e pensou: "O cabra é frouxo". FHC ficou contra toda a opinião pública em nome de atender uma harmonia entre os Poderes. Harmonia é uma coisa, apoiar uma atitude antiética, é outra. Ali eu me decepcionei e as pessoas viram: um frouxo.

Agência Folha - E quanto ao PT? Não há experiências que deram certo aqui?
Cid -
Veja bem, são experiências assim, de dia-a-dia, até positivas. Mas que não resolvem o problema. O orçamento participativo eu uso aqui, a renda mínima, mas isso é paliativo. Você tem que atacar o centro da tensão, você tem que mexer na equação fiscal. Nesse aspecto, ou o PT não tem um projeto ou, se tem, não diz.

Agência Folha - O que o sr. acha da aproximação do PFL com o Ciro?
Cid -
Que se reserve no seu devido lugar, mantenha distância, a distância regulamentar. Fica com um ossinho aí (risos).

Agência Folha - Mas o PFL tem grandes colégios eleitorais, o Antonio Carlos Magalhães na Bahia, por exemplo.
Cid -
O ACM, apesar de todo o fetiche que se faz contra ele, é um cara que tem um grande mérito na Bahia, fez uma excelente administração. É talvez, no Brasil, apesar de o chamarem de oligarquia, o cara que formou mais quadros.


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