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ACRE
Presidente de tribunal rebate as críticas contra o Judiciário e diz que manifestações a favor do petista Jorge Viana são "convocadas"
TRE nega pressão para cassar governador
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
Acirrando o tom do conflito entre os Poderes no Acre, a presidente do TRE (Tribunal Regional
Eleitoral) local, Miracele de Souza
Lopes Borges, diz que as manifestações a favor do governador Jorge Viana (PT) em Rio Branco estão sendo ""convocadas".
Borges, 61, respondeu às críticas
de que o TRE teria sido parcial e
sofrido pressões para cassar a
candidatura de Viana, que concorre à reeleição, e o tornar inelegível pelos próximos três anos. "É
um delírio. Não é de hoje que alguns descontentes com decisões
do TRE agridem a honra dos juízes", disse, afirmando que eles estudarão medidas legais contra
quem os acusadores.
Borges abriu mão ontem de seu
sigilo bancário como reação a declarações do corregedor do TRE-AC, Pedro Francisco Silva, que
disse ter "receio" de que o crime
organizado tenha influenciado os
votos dos juízes pela impugnação
da candidatura de Viana.
A seguir, os principais trechos
da entrevista, cujas perguntas foram enviadas na sexta-feira e respondidas por escrito.
Agência Folha - Pessoas estão indo às ruas de Rio Branco pois acreditam que a decisão do TRE teve caráter político para favorecer a oposição ao governador Jorge Viana. O
que senhora tem a dizer sobre isso?
Miracele de Souza Lopes Borges
-A decisão do TRE foi exclusivamente jurídica, à luz das alegações, das provas e da defesa produzidas nos autos. As manifestações da população, de que o senhor fala, o que se sabe é que foram concentrações convocadas.
Pois bem, se a decisão favoreceu
esse ou aquele é uma avaliação
que não interessa ao tribunal. O
juiz decide de acordo com a lei e
com a sua consciência.
Agência Folha - Viana diz que a
decisão mostra que o grupo do ex-deputado Hildebrando Pascoal
[cassado em 99" ainda tem força no
Estado, insinuando ligação do Judiciário com o crime organizado. Como a senhora rebate a acusação?
Borges - É um delírio. Não é crível que um governador tenha falado tais palavras. Que força tem
Hildebrando se ele está preso por
determinação da Justiça Eleitoral,
sem interferência do governo do
Estado? Não é de hoje que alguns
descontentes com decisões do
TRE agridem a honra dos juízes
com excessos que caracterizam
difamação, calúnia e injúria.
Agência Folha - Os advogados de
defesa alegam que não houve amplo direito de defesa no caso. É exagero?
Borges - Sim. O TRE entendeu
que não houve cerceamento ao
direito de defesa.
Agência Folha - As ações de impugnação em geral são compostas
de provas como falhas nos registros de candidatura. No caso de
Viana, um símbolo [o logotipo de
uma árvore" usado antes da campanha foi a prova. O tribunal inovou?
Borges - A ação de impugnação
ao registro de candidatura, prevista na lei complementar 64/90,
dá amplas possibilidades de produção de provas em todo e qualquer caso de inelegibilidade. O caso submetido ao crivo do TRE do
símbolo da árvore seguido do slogan foi considerado abuso do poder político e de autoridade pelo
seu uso massivo, indiscriminado
mesmo, caracterizando propaganda institucional ilícita de promoção pessoal, a custa dos cofres
público, em benefício do governador e candidato à reeleição.
Agência Folha - Por que a senhora
acha que a posição do Procuradoria
Eleitoral, que era contra a ação,
não foi levada em consideração?
Borges - Os juízes do tribunal
não são obrigados a endossar o
parecer do Ministério Público.
Agência Folha - O TRE pretende
reagir de alguma forma à acusação
de ter sido parcial?
Borges - A Constituição garante
a livre manifestação do pensamento, mas pune os excessos, sobretudo as ofensas e crimes praticados por meio dos meios de comunicação. Os juízes estão acompanhando as manifestações, tomando as providências legais que
entenderem cabíveis.
Agência Folha - O TSE já entendeu, em três situações de impugnação de candidatos que estavam no
poder (Alagoas, Amapá e Distrito
Federal), que os TREs sofrem muita
pressão de grupos locais. O TRE do
Acre descarta essa possibilidade?
Borges - O TRE decidiu com
muita tranquilidade, ouvindo as
partes e analisando detidamente
as provas e as teses levantadas. O
TSE, que fica mais distante dos fatos, tende a decidir refletindo esse
distanciamento.
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