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ELDORADO DO CARAJÁS
Fernando Brito disse ter ouvido jurado afirmar: "R$ 3.000 "morre" para salvar o coronel?"
Acusador é primo de prefeito petista
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
O funcionário público Fernando Brito, que depôs no
Ministério Público
sobre a suposta tentativa de suborno
do júri do caso de Eldorado do
Carajás, é primo do prefeito de
Belém, Edmilson Rodrigues (PT).
Brito foi levado a depor pela vice-prefeita Ana Júlia Carepa (PT).
Colegas de trabalho de Brito
disseram à Folha que ele costuma
usar broche do PT em períodos
de campanha eleitoral e alardeia o
parentesco com o prefeito.
A vice-prefeita foi a primeira a
fazer a denúncia. Ela disse que um
dos jurados teria afirmado a ela
que outro membro do júri teria
lhe oferecido R$ 3.000 para absolver o coronel Mário Colares Pantoja, que comandou a operação
da PM que resultou na morte de
19 sem-terra, em abril de 1996.
Brito disse ontem que divulgaria uma nota, mas depois desistiu.
O prefeito afirmou, pela sua assessoria, que o fato de Brito ser
seu primo é "irrelevante".
No domingo passado, Ana Júlia
disse à Folha que conhecia Brito,
mas não sabia o nome dele. "Foi
uma pessoa do povo que me contou a história (do suposto suborno) no último dia do julgamento", afirmou. No dia seguinte,
apresentou Brito -que é funcionário da Defesa Civil Municipal- ao Ministério Público.
No depoimento, constatou-se
que a versão da vice-prefeita tinha
contradições. Brito fez parte dos
31 pré-selecionados para o júri,
mas não foi sorteado, ficando fora
do grupo de sete jurados.
Ele disse que não podia afirmar
que recebeu uma proposta de suborno. Contou que, cinco dias antes do julgamento, o jurado Sílvio
Queiroz Mendonça perguntou a
ele, em "tom de brincadeira": "R$
3.000 "morre" (é o bastante) para
salvar o coronel (Pantoja)?".
Mendonça nega.
O jurado Cláudio Ozela confirmou que ouviu Mendonça fazer a
"brincadeira". Pedro Muniz, outro jurado, disse não ter escutado.
Está praticamente parada a
apuração do caso. O delegado Vicente Costa, responsável pelo inquérito, não conseguiu pegar cópias dos depoimentos e intimou
Ana Júlia.
Promotores que colheram os
depoimentos se recusaram a entregar as cópias porque o delegado não tinha registrado o inquérito com um número de protocolo.
O promotor que acompanhará
o inquérito, Armando Brasil, não
tinha sido comunicado oficialmente até ontem. Também não tinha tido acesso aos depoimentos.
O promotor Marco Aurélio
Nascimento, responsável pela
acusação dos 150 réus, disse ontem que "existe a possibilidade"
de o julgamento ser retomado
amanhã. "Comigo ou com outro
promotor", afirmou.
Por discordar da conduta do
juiz Ronaldo Valle, Nascimento
abandonou o tribunal do júri
após a absolvição de Pantoja, do
major José Maria Oliveira e do capitão Raimundo Almendra.
A atitude do promotor provocou a suspensão do julgamento, já
que o tribunal não pode funcionar sem o acusador.
Almir Gabriel
O governador Almir Gabriel
(PSDB) criticou o projeto do governo federal que transferiria os
crimes contra os direitos humanos para a esfera federal. "O fato
de concentrar exageradamente
em Brasília imobiliza o país."
Gabriel evitou falar sobre o resultado da primeira sessão do julgamento. "Eu não vou responder
pelo simples fato de que, como
testemunha, eu não posso emitir
opinião."
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