São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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ELDORADO DO CARAJÁS
Fernando Brito disse ter ouvido jurado afirmar: "R$ 3.000 "morre" para salvar o coronel?"
Acusador é primo de prefeito petista

LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém


LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém


O funcionário público Fernando Brito, que depôs no Ministério Público sobre a suposta tentativa de suborno do júri do caso de Eldorado do Carajás, é primo do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PT). Brito foi levado a depor pela vice-prefeita Ana Júlia Carepa (PT).
Colegas de trabalho de Brito disseram à Folha que ele costuma usar broche do PT em períodos de campanha eleitoral e alardeia o parentesco com o prefeito.
A vice-prefeita foi a primeira a fazer a denúncia. Ela disse que um dos jurados teria afirmado a ela que outro membro do júri teria lhe oferecido R$ 3.000 para absolver o coronel Mário Colares Pantoja, que comandou a operação da PM que resultou na morte de 19 sem-terra, em abril de 1996.
Brito disse ontem que divulgaria uma nota, mas depois desistiu. O prefeito afirmou, pela sua assessoria, que o fato de Brito ser seu primo é "irrelevante".
No domingo passado, Ana Júlia disse à Folha que conhecia Brito, mas não sabia o nome dele. "Foi uma pessoa do povo que me contou a história (do suposto suborno) no último dia do julgamento", afirmou. No dia seguinte, apresentou Brito -que é funcionário da Defesa Civil Municipal- ao Ministério Público.
No depoimento, constatou-se que a versão da vice-prefeita tinha contradições. Brito fez parte dos 31 pré-selecionados para o júri, mas não foi sorteado, ficando fora do grupo de sete jurados.
Ele disse que não podia afirmar que recebeu uma proposta de suborno. Contou que, cinco dias antes do julgamento, o jurado Sílvio Queiroz Mendonça perguntou a ele, em "tom de brincadeira": "R$ 3.000 "morre" (é o bastante) para salvar o coronel (Pantoja)?". Mendonça nega.
O jurado Cláudio Ozela confirmou que ouviu Mendonça fazer a "brincadeira". Pedro Muniz, outro jurado, disse não ter escutado.
Está praticamente parada a apuração do caso. O delegado Vicente Costa, responsável pelo inquérito, não conseguiu pegar cópias dos depoimentos e intimou Ana Júlia.
Promotores que colheram os depoimentos se recusaram a entregar as cópias porque o delegado não tinha registrado o inquérito com um número de protocolo.
O promotor que acompanhará o inquérito, Armando Brasil, não tinha sido comunicado oficialmente até ontem. Também não tinha tido acesso aos depoimentos.
O promotor Marco Aurélio Nascimento, responsável pela acusação dos 150 réus, disse ontem que "existe a possibilidade" de o julgamento ser retomado amanhã. "Comigo ou com outro promotor", afirmou.
Por discordar da conduta do juiz Ronaldo Valle, Nascimento abandonou o tribunal do júri após a absolvição de Pantoja, do major José Maria Oliveira e do capitão Raimundo Almendra.
A atitude do promotor provocou a suspensão do julgamento, já que o tribunal não pode funcionar sem o acusador.

Almir Gabriel
O governador Almir Gabriel (PSDB) criticou o projeto do governo federal que transferiria os crimes contra os direitos humanos para a esfera federal. "O fato de concentrar exageradamente em Brasília imobiliza o país."
Gabriel evitou falar sobre o resultado da primeira sessão do julgamento. "Eu não vou responder pelo simples fato de que, como testemunha, eu não posso emitir opinião."


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