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ALAGOAS
Suposta tentativa de suborno torna "quase inevitável" o indiciamento de Augusto Farias, afirma delegado
Fita complica irmão de PC, diz polícia
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
O delegado Alcides Andrade afirmou ontem ser
"quase inevitável" o
indiciamento do
deputado Augusto
Farias (PPB-AL) sob a acusação
de mandante das mortes do seu
irmão Paulo César Farias e de Suzana Marcolino.
"Agora, com as fitas, ficou quase inevitável", disse Andrade, que
comanda com o delegado Antônio Carlos Lessa, presidente do
inquérito, a investigação sobre as
mortes ocorridas em 1996.
O secretário da Segurança de
Alagoas, Edmilson Miranda, confirmou a existência de uma fita
cassete e de outra de vídeo com o
registro de conversas entre Lessa
e um funcionário do grupo empresarial da família Farias.
Conforme a Folha revelou ontem, as gravações, feitas sigilosamente pelo delegado, mostram
suposta tentativa de suborno para
Lessa não indiciar o deputado.
O secretário da Segurança disse
que as fitas serão anexadas aos
autos do inquérito do caso PC,
mas que seu conteúdo não será
divulgado. No caso de indiciamento de Augusto Farias, as gravações devem ser um dos principais elementos do relatório policial, a ser concluído em 15 dias.
A polícia não revelou o nome do
suposto intermediário, que teria
falado em nome dos Farias.
A Folha apurou que nas duas fitas, gravadas em almoços nos dias
22 de julho e na segunda-feira
passada em Maceió, o interlocutor de Lessa foi o jornalista Roberto Baía, chefe da sucursal da "Tribuna de Alagoas" em Arapiraca, a
maior cidade do interior alagoano. A "Tribuna" é controlada por
Augusto e irmãos.
A Folha localizou Roberto Baía
pelo celular. Ele pediu que fosse
contatado cinco minutos mais
tarde e, daí em diante, o telefone
não foi mais atendido.
O jornalista não respondeu aos
recados deixados na secretária
eletrônica e na sucursal da "Tribuna" em Arapiraca.
Na primeira conversa com Lessa, Baía disse que "todo homem
tem seu preço" e que Lessa pode
ganhar "o que quiser".
A Folha ligou pelo menos 25 vezes para o deputado Augusto Farias, para seu advogado José Fragoso e para o porta-voz da família
Farias, Gabriel Mousinho. Nenhum respondeu aos recados.
O Laboratório de Fonética da
Unicamp conclui hoje laudo com
a descrição dos trechos audíveis
da fita cassete, cujo som é de baixíssima qualidade -o diálogo foi
gravado numa churrascaria com
música ao vivo.
O foneticista Ricardo Molina,
da Unicamp, reconheceu ter recebido a fita, enviada pelos delegados, mas disse que não relatará
publicamente o conteúdo.
A segunda fita, com ótimo som,
é um vídeo gravado com o auxílio
de microcâmera de uma rede de
televisão. As imagens são ruins
porque foram feitas contra a luz,
mas os rostos do delegado e de
Roberto Baía aparecem nitidamente em alguns momentos.
Antônio Carlos Lessa afirmou
ontem que os termos da primeira
gravação são mais "incisivos" do
que os da segunda, mas se negou
a dar detalhes sobre as conversas
com o funcionário da "Tribuna".
No primeiro inquérito sobre o
caso PC, em 1996, a polícia sustentou que Suzana Marcolino assassinou o namorado e se suicidou
em seguida. Agora, quatro ex-seguranças de PC já foram indiciados como co-autores das duas
mortes.
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