São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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ALAGOAS
Suposta tentativa de suborno torna "quase inevitável" o indiciamento de Augusto Farias, afirma delegado
Fita complica irmão de PC, diz polícia

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


O delegado Alcides Andrade afirmou ontem ser "quase inevitável" o indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL) sob a acusação de mandante das mortes do seu irmão Paulo César Farias e de Suzana Marcolino.
"Agora, com as fitas, ficou quase inevitável", disse Andrade, que comanda com o delegado Antônio Carlos Lessa, presidente do inquérito, a investigação sobre as mortes ocorridas em 1996.
O secretário da Segurança de Alagoas, Edmilson Miranda, confirmou a existência de uma fita cassete e de outra de vídeo com o registro de conversas entre Lessa e um funcionário do grupo empresarial da família Farias.
Conforme a Folha revelou ontem, as gravações, feitas sigilosamente pelo delegado, mostram suposta tentativa de suborno para Lessa não indiciar o deputado.
O secretário da Segurança disse que as fitas serão anexadas aos autos do inquérito do caso PC, mas que seu conteúdo não será divulgado. No caso de indiciamento de Augusto Farias, as gravações devem ser um dos principais elementos do relatório policial, a ser concluído em 15 dias.
A polícia não revelou o nome do suposto intermediário, que teria falado em nome dos Farias.
A Folha apurou que nas duas fitas, gravadas em almoços nos dias 22 de julho e na segunda-feira passada em Maceió, o interlocutor de Lessa foi o jornalista Roberto Baía, chefe da sucursal da "Tribuna de Alagoas" em Arapiraca, a maior cidade do interior alagoano. A "Tribuna" é controlada por Augusto e irmãos.
A Folha localizou Roberto Baía pelo celular. Ele pediu que fosse contatado cinco minutos mais tarde e, daí em diante, o telefone não foi mais atendido.
O jornalista não respondeu aos recados deixados na secretária eletrônica e na sucursal da "Tribuna" em Arapiraca.
Na primeira conversa com Lessa, Baía disse que "todo homem tem seu preço" e que Lessa pode ganhar "o que quiser".
A Folha ligou pelo menos 25 vezes para o deputado Augusto Farias, para seu advogado José Fragoso e para o porta-voz da família Farias, Gabriel Mousinho. Nenhum respondeu aos recados.
O Laboratório de Fonética da Unicamp conclui hoje laudo com a descrição dos trechos audíveis da fita cassete, cujo som é de baixíssima qualidade -o diálogo foi gravado numa churrascaria com música ao vivo.
O foneticista Ricardo Molina, da Unicamp, reconheceu ter recebido a fita, enviada pelos delegados, mas disse que não relatará publicamente o conteúdo.
A segunda fita, com ótimo som, é um vídeo gravado com o auxílio de microcâmera de uma rede de televisão. As imagens são ruins porque foram feitas contra a luz, mas os rostos do delegado e de Roberto Baía aparecem nitidamente em alguns momentos.
Antônio Carlos Lessa afirmou ontem que os termos da primeira gravação são mais "incisivos" do que os da segunda, mas se negou a dar detalhes sobre as conversas com o funcionário da "Tribuna".
No primeiro inquérito sobre o caso PC, em 1996, a polícia sustentou que Suzana Marcolino assassinou o namorado e se suicidou em seguida. Agora, quatro ex-seguranças de PC já foram indiciados como co-autores das duas mortes.


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