São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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CELSO PINTO
A debandada dos bancos

Os bancos norte-americanos foram os que reduziram de forma mais agressiva os recursos que tinham aplicados no Brasil, durante a crise do segundo semestre do ano passado. Foram seguidos pelos bancos franceses, alemães e japoneses.
Dados recém-divulgados pelo Bank for International Settlements (BIS), uma espécie de banco central de bancos centrais, mostram que o Brasil perdeu US$ 11,2 bilhões em recursos a receber ("claims") dos bancos privados entre junho e dezembro do ano passado. A posição total dos bancos caiu de US$ 84,5 bilhões para US$ 73,3 bilhões.
A moratória russa foi no final de agosto e se transformou numa crise internacional nos meses seguintes. Em dezembro, o Brasil assinou um pacote de ajuda de US$ 41 bilhões com o FMI e os países ricos do G-7.
Enquanto o governo americano liderava as negociações do pacote de ajuda ao Brasil, contudo, seus bancos tiravam dinheiro do país. A posição dos bancos americanos caiu de US$ 16,8 bilhões para US$ 12,7 bilhões no segundo semestre. Foi uma redução de US$ 4,1 bilhões, ou 24% do total. Foi a queda mais significativa em números absolutos, já que os bancos americanos são os que têm maior volume de recursos no país, mas também em termos relativos.
Os bancos alemães são os segundos com maior volume de recursos no Brasil. Eles cortaram em US$ 1,6 bilhão (12%), de US$ 12,8 bilhões para US$ 11,2 bilhões, seus recursos no Brasil. O Deutsche Bank, recorde-se, foi o banco que fez as análises mais pessimistas em relação ao Brasil neste período, insistindo sobre o risco de moratória da dívida interna.
Os bancos franceses vêm em seguida e foram mais agressivos na retirada do que os alemães: o corte foi de US$ 7,9 bilhões para US$ 6,1 bilhões. Uma redução de US$ 1,8 bilhão (23%). Os bancos japoneses cortaram sua posição em US$ 1 bilhão (19%), de US$ 5,2 bilhões para US$ 4,2 bilhões.
Em contrapartida, um grupo de bancos europeus aumentou suas posições no Brasil, a despeito da crise, especialmente os holandeses, os britânicos e os espanhóis. O BIS não discrimina a posição de cada banco, mas o que esses três grupos têm em comum é o fato de incluírem bancos que haviam comprado, recentemente, bancos importantes no Brasil.
O holandês ABN-Amro comprou o Real. O britânico HSBC comprou o Bamerindus. O espanhol BBV comprou o Excel/Econômico e o também espanhol Santander comprou o Geral do Comércio e o Noroeste. Parece razoável a hipótese de que o aumento das posições dos bancos desses países em meio à crise deve estar ligada à sua entrada recente no país.
Os bancos holandeses aumentaram os recursos em US$ 1,9 bilhão (27%), de US$ 7 bilhões para US$ 8,9 bilhões. Os britânicos aumentaram em US$ 732 milhões (12,6%), de US$ 5,8 bilhões para US$ 6,5 bilhões. Os espanhóis elevaram em US$ 493 milhões (11%), de US$ 4,6 bilhões para US$ 5,1 bilhões. Os bancos italianos também elevaram, mas apenas marginalmente, sua posição, de US$ 3,7 bilhões para US$ 3,8 bilhões, ou US$ 89 milhões (2%).
Houve quem argumentasse, no ano passado, que a maior internacionalização do sistema bancário brasileiro havia agravado a perda de recursos. Isso porque as filiais tinham que respeitar limites globais de risco Brasil definidas pelas matrizes.
Os números do BIS sugerem que, em alguns casos, isso não ocorreu. O grosso da corrida dos bancos contra o Brasil (US$ 7,3 bilhões, ou 65% do total) concentrou-se nos bancos americanos, alemães e franceses.
Considerando o total dos ativos ("assets outstanding") dos bancos internacionais no Brasil, a queda foi de US$ 19,7 bilhões entre junho de 98 e março deste ano, passando de um pico de US$ 112,8 bilhões para US$ 93,1 bilhões. O grosso da queda dos ativos ocorreu no segundo semestre do ano passado (US$ 13,6 bilhões), mas a queda continuou no primeiro trimestre deste ano (US$ 6,1 bilhões).
Em relação aos títulos emitidos pelo Brasil, havia um total de US$ 40,6 bilhões em junho deste ano, pouco abaixo do total de dezembro de 98 (US$ 41,6 bilhões). Houve reduções em três trimestres seguidos: o terceiro de 98 (US$ 2,1 bilhões), o quarto de 98 (US$ 3 bilhões) e o primeiro deste ano (US$ 2,9 bilhões). A recuperação no segundo trimestre deste ano, contudo, foi significativa: houve um aumento de US$ 2,7 bilhões.


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