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CELSO PINTO
A "desrepressão" financeira
Washington - A decisão do
Banco Central, sexta-feira, de permitir que Estados e Municípios
com bom comportamento fiscal
possam tomar até R$ 600 milhões
nos bancos é um "primeiro passo" na direção de dar mais liberdade a eles, explicou o presidente
do BC, Armínio Fraga, em conversa com o colunista.
A idéia é combinar uma garantia de disciplina, que seria dada
pela aprovação da lei de responsabilidade fiscal, com maior liberdade para se endividar, desde que
submetidos à avaliação do mercado. A medida também é parte do
projeto do BC de "desreprimir" o
sistema financeiro, eliminando
aplicações compulsórias e dando
mais flexibilidade para aplicar recursos.
A curto prazo, a medida funcionará como "um prêmio aos bons
governos". Armínio garante que a
medida foi desenhada "dentro de
uma postura conservadora", por
três razões.
A primeira é que só beneficiará
Estados e municípios que estejam
cumprindo todos os pré-requisitos de bom comportamento fiscal
definidos pela resolução 78 do Senado. Armínio disse não saber
quantos poderiam caber nesse figurino, mas outra fonte disse que
é provável que não beneficie mais
do que seis municípios, entre eles
Vitória.
A segunda é o teto de R$ 600 milhões, que cabe nos gastos orçamentários sem comprometer a
meta de um superávit primário de
3,1% do PIB. É verdade que parte
da receita imaginada para cumprir essa meta depende de decisões do Supremo Tribunal Federal, mas Armínio diz que, se o governo perder, haverá cortes equivalentes nos gastos.
De outro lado, contudo, o governo não pretende superar a meta fiscal acertada com o FMI. Se
houver espaço para mais gastos,
sem comprometer os 3,1%, eles
serão liberados.
A terceira razão é que o critério
para os bancos emprestarem os
R$ 600 milhões exclui, na prática,
os bancos estatais. Só bancos privados poderão emprestar, se considerarem o risco adequado.
A idéia de dar mais liberdade,
no futuro, para Estados e municípios se endividarem com bancos
privados faz sentido, mas apenas
se ficar claro que o governo federal não vai assumir a dívida, caso
ela não seja paga, como tem acontecido nas últimas décadas. Daí
porque depende da lei de responsabilidade fiscal.
A medida se encaixa no projeto
de "desrepressão financeira", que
Armínio pretende anunciar, com
mais detalhes, em algumas semanas. Ele tem três dimensões: a redução dos compulsórios bancários, a eliminação das aplicações
obrigatórias dos bancos e a redução na carga tributária nas operações financeiras.
A redução dos compulsórios já
começou e vai continuar. De forma prudente, como diz Armínio.
Eliminar aplicações compulsórias mexe em dois vespeiros: os
créditos agrícola e para o setor
imobiliário. Armínio diz que o BC
ainda está estudando alternativas
para esses setores. No caso do crédito imobiliário, alguma flexibilidade já foi permitida, mas a idéia
é ir muito além disso. Não há prazo para a mudança.
A mudança tributária já está incluída no projeto de reforma tributária que está sendo examinado pelo Congresso. A idéia é eliminar a incidência de IOF, Cofins,
PIS e CPMF sobre as transações.
São impostos que incidem em
cascata e penalizam o custo final
do dinheiro.
Armínio chegou em Washington na sexta, para a reunião anual
do FMI. Participou de um seminário fechado, "The World Economy Laboratory", do Massachusetts Institute of Technology
(MIT). Ele reúne, anualmente, investidores e autoridades de peso,
e, por ser fechado, se caracteriza
pela franqueza.
Armínio traçou um quadro otimista para o próximo ano. Mesmo num cenário negativo, com
problemas internacionais, ele
acha que o Brasil poderia crescer
2% a 3%. Num cenário positivo, a
economia cresceria de 3% a 4%,
com chances de surpresas para cima.
Ele explicou que a inflação não
fugiu de controle com a desvalorização por três fatores: a recessão,
o fato de a economia ser pouco
aberta e de a indexação, hoje, ser
baixa. Ele não acha que haverá repique inflacionário, mas admitiu
que o BC está alerta para o impacto da recuperação econômica sobre os preços.
A uma pergunta se a impopularidade do presidente poderia afetar as reformas, Armínio minimizou o risco. Lembrou que o presidente tem mantido uma firme
disposição em adotar medidas
duras, mas necessárias. "Ele sabe
que não existe atalho, nem saída
fácil", disse.
Clinton costuma reclamar da
"minoria organizada" contra ele,
observou Armínio. "Fernando
Henrique, ao contrário, costuma
dizer que seu problema é a maioria desorganizada que o apóia",
emendou.
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