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QUESTÃO AGRÁRIA
Estudo da FAO aponta que assistência e infra-estrutura são fatores que também determinam o sucesso do projeto
Falta de recursos atrapalha assentamentos
LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal item das negociações entre o governo e o MST -a
concessão de crédito mais barato
a um grupo de 110 mil assentados- é um dos nós do modelo de
reforma agrária brasileiro. O dinheiro é pouco e os assentados
que esperam por ele, muitos. Mas
a falta de recursos não é o único
ingrediente a determinar o sucesso ou o fracasso dos projetos.
As 110 mil famílias que protestam hoje são as que, entre quase
600 mil assentadas, receberam os
recursos do Pronaf A (Programa
Nacional de Agricultura Familiar)
-em que os assentados têm desconto de 40% na hora de pagar,
três anos de carência e juros de
1,15% ao ano.
Agora, não querem passar para
o Pronaf C, com desconto menor
e juros de 3% ao ano -principalmente porque os bancos que emprestam esses recursos exigem
avalistas ou garantias, coisa que
poucos assentados têm para dar.
Do outro lado, cerca de 300 mil
famílias ainda não receberam
nem mesmo o Pronaf A.
O acesso à assistência e aos financiamentos -dois pontos que
ainda não foram resolvidos- são
apontados em uma pesquisa da
FAO (Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação) como essenciais para
que um assentamento tenha
chances de se desenvolver.
Principalmente porque nem
sempre a terra é fértil ou tem água
suficiente -fator que aparece como o mais importante para o sucesso.
No estudo "Fatores que Afetam
o Desenvolvimento dos Assentamentos", a FAO visitou 20 projetos, dez considerados bons pelo
Incra, e os outros, ruins. Entre os
últimos, em seis o problema era a
terra.
"Em casos como esses, um plano de desenvolvimento é essencial, porque, às vezes a terra não é
boa para plantar, mas pode ser
para piscicultura. É preciso descobrir a sua vocação", afirma Marcelo Silva, diretor de desenvolvimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Plano
Desde 1998, o ministério exige
dos assentados um plano para
que se defina o que pode ser feito
no assentamento.
Porém, para colocar em prática
o plano é necessário esperar pelos
recursos de investimento -que
nem sempre chegam com regularidade.
Terra boa, recurso, assistência,
infra-estrutura, organização dos
assentados e acesso a um mercado consumidor foram apontados
no estudo como os pontos principais do sucesso de um projeto.
Até hoje, dos 1.561 projetos que
poderiam estar emancipados,
apenas 147, com 74 mil famílias, já
receberam os títulos.
"O nosso dinheiro é escasso",
afirma Silva. "Precisamos que alguns assentados avancem para o
Pronaf C para que possamos dar o
A para os que faltam."
O Pronaf A entrou no lugar do
antigo Procera (Programa de Crédito Especial para a Reforma
Agrária), em que o assentado recebia recursos para implantação e
mais R$ 2.000 para custeio, com
juros de 3% e um desconto de
50%.
A principal diferença é que o
Pronaf A pode ser recebido apenas uma vez, e os recursos para
custeio do Procera poderiam ser
retirados todos os anos.
Um estudo feito pela FAO mostra que, criado em 1985 para ajudar os assentamentos a se emanciparem, o Procera não funcionou.
As razões: o alto desconto para
pagamento, a falta de punição para os que não pagavam, a indiferença dos bancos quanto à qualidade dos projetos, a ausência de
assistência técnica e a total falta de
fiscalização.
As dificuldades do programa,
no entanto, não estavam apenas
no lado dos agricultores. A falta
de assistência técnica prejudicava
o avanço dos assentamentos.
"O assentado não conseguia fazer um bom plano, não recebia o
dinheiro, ou recebia e investia mal
por desconhecimento e acabava
perdendo tudo", diz Carlos Guanziroli, da FAO.
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