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QUESTÃO AGRÁRIA
Governo não dará empréstimos para assentados pela linha A
Principal reivindicação do
MST não vai ser atendida
DANIELA NAHASS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A resposta do governo à principal reivindicação dos sem-terra
será negativa. Durante a reunião
de hoje entre governo e MST, o secretário nacional de Agricultura
Familiar, Nelson Borges, vai dizer
aos líderes do movimento que
não haverá empréstimo de R$
2.000 para 110 mil famílias de assentados nas condições da linha A
do Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura
Familiar).
Borges vai reiterar ao MST que
os sem-terra poderão pegar dinheiro emprestado na linha C do
Pronaf. "Acredito que agricultura
familiar é uma atividade econômica e não uma atividade de esmola. Nem eles (os sem-terra)
querem isso", afirmou Borges.
A linha A é uma linha de crédito
exclusiva para trabalhadores assentados no programa de reforma
agrária do governo e prevê um
empréstimo único de R$ 9.500,
com juros de 1,15% e desconto de
40% na hora do pagamento.
O público da linha C é o agricultor familiar com renda anual de
R$ 1.500 a R$ 8.000, com juros de
4% ao ano e rebate fixo de R$ 400.
Nelson Borges admitiu que os
assentados terão dificuldades em
conseguir empréstimos bancários
na linha C porque as instituições
financeiras exigem garantias.
"Admito que há um descompasso
entre a filosofia da agricultura familiar e as instituições financeiras, que visam o lucro. Os bancos
brasileiros não estão acostumados a lidar com pobre", afirmou.
A desconfiança dos bancos se
reflete nos números. Apenas
10,24% dos recursos previstos para investimentos na linha C para a
safra 1999/2000 foram liberados
até agora. "O gerente de banco
não quer correr risco de levar calote."
Borges disse que considera legítima a reivindicação do MST, que
exige a desburocratização dos
empréstimos da linha C. "O governo já está estudando mudanças, mas essa dificuldade não é exclusiva dos sem-terra. É de todo
agricultor atendido pelo Pronaf."
Para Nelson Borges o governo
não pode aceitar a reivindicação
do MST porque estaria mudando
a lógica do Pronaf, que quer a
"evolução" dos agricultores familiares. Para o governo, o "ideal" é
o assentado entrar na linha A e
sair como linha D, que atende
agricultores familiares com renda
anual de até R$ 27,5 mil.
O secretário lembrou ainda que
a proposta apresentada pelo MST
foi rejeitada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Agrário,
que agrega outras entidades de
agricultores familiares.
Nelson Borges disse que a atual
concepção de reforma agrária do
governo, conhecida como "Novo
Mundo Rural", está em vigor desde o ano passado.
"Antes, o programa de reforma
agrária tinha porta de entrada e
não tinha porta de saída. O Tesouro arcava com tudo e não dá
para bancar a reforma agrária a
vida inteira", afirmou.
Desde o ano passado, os assentados passaram a ser atendidos
pelo Pronaf. Os sem-terra representam 10% (400 mil) do público
total do programa, que existe desde 1995.
Para Borges o Pronaf está dando
certo, mas o Ministério do Desenvolvimento Agrário não tem dados quantitativos sobre a evolução dos agricultores familiares.
Borges admitiu que o Pronaf
não funciona como deveria. "Se
estivéssemos em um país rico, estaria funcionando que nem máquina, mas não está."
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