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JANIO DE FREITAS
O país dos maus papéis
A falsidade do argumento
que levou o Brasil a ajudar a
fuga e asilo de Vladimiro Montesinos, o bandido controlador
da corrupção peruana, não precisa de nada além da lógica
mais simplória para desmascarar-se.
Caso Montesinos estivesse
mesmo na iminência de dar ou
tentar um golpe de Estado, com
seus aliados militares, é porque
estaria em posição de força no
Peru. Mas a fuga, ao cabo de
uma semana escondido, denuncia o oposto. Só a completa fragilidade, com falta de condições
até para continuar simplesmente no país, poderia levá-lo ao último recurso que é a fuga.
Ao desempenhar o principal
papel na articulação da fuga e
asilo de Montesinos no Panamá, Fernando Henrique Cardoso não proporcionou a proteção
brasileira a uma figura qualquer. O currículo de Montesinos
merece ser lembrado, ainda que
da maneira mais resumida.
Expulso do Exército por ter
vendido à CIA segredos militares do seu país, relativos a um
possível conflito com o Chile, foi
presidiário por um ano. Denunciado pelo maior traficante de
drogas do Peru, preso mais por
equívoco, como receptador dos
pagamentos para proteção ao
narcotráfico. Controlador do
SNI de lá, articulou todos os tipos de corrupção que dominam
o governo de Fujimori, inclusive
a eleitoral. Mais recentemente,
tornou-se o principal suspeito
no descoberto contrabando de
armas, via Peru, para a guerrilha colombiana. De reconhecida
crueldade, foi o orientador da
repressão brutal do governo Fujimori à oposição partidária, às
organizações civis e à mídia independente.
O governo brasileiro é o grande responsável externo pela gravidade da situação peruana, por
ter recusado apoio, na OEA, à
exigência de nova eleição, dadas as evidências da fraude que
deu Fujimori como vencedor pela terceira vez. Os fatos estão
condenando a posição do governo Fernando Henrique que
comprometeu o Brasil com o regime mais corrupto e violento
da atualidade latino-americana. Nova condenação virá em
breve.
O argumento dado por Fernando Henrique à presidente do
Panamá, Myreia Moscoso, para
recuar na rejeição de asilo a
Montesinos, é um artifício sem o
menor contato com a realidade
evidente. A fuga de Montesinos
não é solução para a crise peruana, quanto mais a única solução. Talvez seja até agravadora, porque nega ao povo peruano a possibilidade de vê-lo submetido a investigação e julgamento. O grande corrupto, o
grande criminoso está a salvo.
Com a ajuda decisiva do Brasil,
que articulou seu abrigo no Panamá, para gozar em liberdade
o produto dos seus feitos.
Fernando Henrique Cardoso
estende ao âmbito internacional sua repulsa a investigações
de corrupção. Os protegidos ainda lhe dão o título de grande benemérito. Mas o Brasil é que fica
como o país dos papéis indecentes.
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