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CENTRO-OESTE
São pelo menos 50 concorrentes, contra 30 na eleição de 1996
MS bate recorde de índios candidatos
CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM AQUIDAUANA
A comemoração dos 500 anos
do Brasil motivou um ""boom" de
candidaturas de índios no Mato
Grosso do Sul. São pelo menos 50
concorrentes, recorde na história
do Estado. Na disputa municipal
de 1996, eram 30 os postulantes
sul-matogrossenses, num universo de 80 candidatos pelo Brasil.
O espectro político das candidaturas varia do PMDB ao PT. O
mote recorrente de todos os candidatos é o episódio em que a polícia baiana entrou em choque
com índios que tentavam protestar em 22 de abril. "Chega de ver o
índio sofrer, até o presidente do
país manda bater na gente, queremos direitos iguais", disse o terena Mairson Francisco, 36.
Ele é petista desde 1987 e disputa a vaga de vereador no município de Aquidauana, a 150 km de
Campo Grande. A cidade tem 13
vereadores, 2 dos quais terenas.
Na quinta-feira passada, Mairson arrancava aplausos de um
grupo de cem índios que assistia a
um comício promovido na aldeia
Limão Verde, a 25 km do centro
de Aquidauana. Os discursos dos
índios são bem semelhantes aos
dos demais candidatos: eles também prometem melhorias para a
comunidade e demonstram conhecimento dos trâmites legislativos -no bom e no mau sentido.
"É preciso suar a camisa para
aprovar um projeto. Primeiro temos de convencer os outros vereadores, depois o prefeito da cidade. Às vezes um prefeito até paga para os vereadores aprovarem
projetos de interesse próprio, mas
isso não vou fazer nunca", disse
Mairson, que é pai de três filhos e
recebe de um a dois salários mínimos trabalhando na lavoura.
O também terena Alceri Marques, 25, é professor do ensino
fundamental e tem propostas parecidas com a de Mairson.
Só na região de Aquidauana e
Miranda (que ficam no Pantanal),
13 índios disputam as eleições.
São 5.000 os eleitores indígenas.
Estima-se que, para vencer por
um partido grande, cada índio
precisa de pelo menos 500 votos.
"Antes, o político branco entrava na aldeia, fazia churrasco e
pronto, arrancava nossos votos",
disse Marques, que recebe um salário mínimo para sustentar mulher e quatro filhos. Um vereador
local recebe em média R$ 2.000
mensais. Os dois índios que já são
vereadores em Aquidauana disputam a reeleição. Edmilson Aurélio Marcos, disputa pelo PSDB e
Enedino da Silva, pelo PPS.
Marcos é o candidato mais rico
entre os índios. Aos 47 anos, aposentado pela Caixa Econômica,
ele tem dois carros e três cabos
eleitorais. Ele, que trocou recentemente o PMDB pelo PSDB, se elegeu em 96 com 534 votos -metade dos quais de eleitores não-índios, por suas contas.
O índio repete um fenômeno de
algumas capitais: se recusou aparecer em uma fotografia ao lado
de uma quadro com a foto de Fernando Henrique Cardoso, seu
correligionário, que mantém na
parede de seu gabinete. Só que ele
é sincero: "Ele (FHC) não está
bem com a minha comunidade,
fica chato, posso perder voto".
Mato Grosso do Sul possui a segunda maior comunidade indígena do país, com 60 mil índios em
58 aldeias. Segundo a Funai, cerca
de 20 mil estão aptos a votar -o
comparecimento é facultativo.
Os 50 concorrentes disputam as
eleições em 22 dos 77 municípios
do Estado. Das seis etnias reconhecidas, apenas uma não disputa o pleito. São os ofayés-xavantes,
comunidade formada por apenas
19 índios. Disputam as eleições os
índios guaranis, caiovás, guatós,
terenas e kadiwéus.
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