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TRABALHO ESCRAVO
Projeto prevê penas para utilização de mão-de-obra forçada
FHC apóia expropriação de terras
SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que vai
apoiar as propostas elaboradas
pelo grupo de combate ao trabalho escravo, entre elas, a expropriação de terras onde foram encontrados trabalhadores nessa situação, a tipificação desse tipo de
crime e a proposta de deixar esses
casos sob a responsabilidade da
Justiça Federal.
FHC se reuniu ontem no Palácio da Alvorada com o secretário
de Estado dos Direitos Humanos,
Paulo Sérgio Pinheiro, e com representante da OIT (Organização
Internacional do Trabalho).
Segundo Pinheiro, Fernando
Henrique Cardoso afirmou que
vai se empenhar na implementação das propostas -a serem encaminhadas ao Congresso. Elas
também devem fazer parte da
pauta do governo de transição.
Algumas propostas já fazem
parte de projetos em tramitação
no Congresso, sendo um deles o
que prevê pena de reclusão de cinco a dez anos para quem utilizar
mão-de-obra escrava.
De acordo com Pinheiro, o
apoio faz parte da estratégia do
governo de combate ao trabalho
escravo, que já conta com o Grupo Executivo de Repressão ao
Trabalho Forçado e o Grupo Especial de Fiscalização Móvel.
Segundo dados do Ministério
do Trabalho, de 1995 a 2002, 4.581
trabalhadores mantidos em situação análoga à escravidão foram libertados, porém apenas 26 pessoas foram presas em flagrante e
três condenadas.
O grupo também propôs a criação de um banco de dados com
informações sobre o trabalho escravo no Brasil -que deverá estar pronto no próximo ano.
Justiça
O grupo de combate ao trabalho
escravo defende que os casos sejam julgados pela Justiça Federal,
ao contrário da proposta do TST
(Tribunal Superior do Trabalho),
que defende que a competência
seja da Justiça do Trabalho.
De acordo com Pinheiro, "seria
um retrocesso delirante dizer que
isso [trabalho escravo] não é crime federal", disse.
Segundo o sociólogo José de
Souza Martins, integrante do grupo executivo, "a escravidão praticada hoje é mais cruel, perversa e
violenta do que era a escravidão
oficial negra, que terminou em
1888". "Naquela época, o escravo
era capital, um investimento.
Agora o trabalhador é comprado
por um preço ridículo, pago com
poucos dias de trabalho e portanto não faz diferença matar ou não
matar, torturar ou mutilar, como
tem ocorrido."
Caracteriza o trabalho escravo a
coerção moral ou física, o cerceamento da liberdade de ir e vir, o
não-recebimento de salário e o ciclo de dívidas dos trabalhadores
com os patrões, ou seja, são obrigados a comprar produtos (alimentos, por exemplo) no próprio
local de trabalho.
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