São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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SÃO PAULO

Proposta do candidato, que prevê volta do sistema de séries e repetência, vai contra sugestão da LDB e não tem apoio de conselho

Plano de Maluf contraria lei da educação

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Por trás dos ataques que o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf, faz à progressão continuada, há um plano que prevê a volta da reprovação de alunos a cada ano letivo, estabelecendo o fim do atual modelo educacional.
A medida proposta por Maluf contraria deliberação do Conselho Estadual de Educação, vai contra sugestão da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e do Ministério da Educação e não tem apoio entre especialistas, pais e sindicato dos professores.
Ao abordar o assunto, Maluf deixa de lado mudanças que o novo regime provocou no Estado, como a redução da evasão.
A redução surgiu por causa do fim da reprovação, que passou a ser admitida ao final dos dois ciclos de quatro anos do ensino fundamental. O modelo veio para substituir o antigo, que era de séries, principalmente devido à repetência ao final de cada ano letivo, como defende hoje Maluf.
Apesar de o pepebista não citar a retenção de alunos em seus programas na TV, em discursos ou nas entrevistas, seu plano de governo para a educação, lançado na semana passada, informa: "Esgotadas as oportunidades de progressão, sem êxito, o estudante permanecerá na mesma série que está cursando e será objeto de acompanhamento pedagógico".
Ao regime, que para especialistas significa a volta ao sistema de séries, Maluf e sua equipe deram o nome de Sistema de Promoção Qualificada e Responsável, modelo que não agradou o presidente do Conselho Estadual de Educação, Francisco José Carbonari.
"[Maluf] Está propondo que se reprove os alunos como se isso garantisse alguma coisa. Nosso sistema foi um dos que mais reprovaram. E [isso] garantiu que qualidade de ensino?", questiona.
De certa forma, as críticas de Maluf à progressão continuada, devido a casos de alunos que passam com deficiência de aprendizado, têm respaldo entre educadores e pais. Mas, para o presidente do conselho, a discussão deveria envolver outras questões.
"Evidentemente existem correções a serem feitas, mas as correções são no sentido de avançar com o processo [de progressão continuada], não de retroceder [ao sistema de séries e à repetência a cada ano", afirmou.
Caso Maluf leva adiante a idéia de voltar ao sistema de séries, segundo Carbonari, será necessário a aprovação do conselho.
"Se você fizer retenção ou aprovação a cada ano, você implantou de novo a série. Isso vai contra as concepções pedagógicas mais avançadas hoje nos países inteligentes", diz Mario Sergio Cortella, professor de pós-graduação em educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
Para o professor, secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo em 92, quando foi implantado a progressão, a proposta de Maluf é "populista". "A reprovação ano a ano é a Rota na rua no campo da educação", afirma.
A proposta malufista também é criticada pela presidente do Napa (Núcleo de Apoio a Pais e Alunos), grupo surgido em 97 na zona oeste de São Paulo em defesa da escola pública. "Reprovar o aluno é a falência do ensino", diz a presidente Cremilda Teixeira.
Ela defende "mecanismos de cobrança" para casos de alunos que passam sem saber.
"O sindicato sempre defendeu a progressão, não da forma como foi implantada", diz Carlos Ramiro de Castro, da Apeoesp (sindicato dos professores).


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