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OLHAR ESTRANGEIRO
Um calmante para os mercados
PETER COLLINS
Apesar de vestir de terno e
falar em estabilidade, Lula
ainda não convenceu os mercados, e quanto mais ele sobe nas
pesquisas, mais sobem o dólar e o
risco-país. Como a maior parte da
dívida pública está atrelada ou
ao dólar ou à taxa Selic (que, nas
condições atuais, o BC não pode
cortar), alguns economistas dizem que a dívida acabará sendo
insuportável a não ser que as condições do mercado melhorem.
Portanto, se vencer, Lula terá
urgentemente que "dar um calmante" aos mercados, tranquiilizando-os no sentido de que um
default não seria inevitável e que
o seu governo seria sim capaz de
manejar as finanças.
Pois, vale um olhar atrás na vitória do Tony Blair nas eleições
britânicas de 1997: apesar dos esforços dos conservadores de pintar Blair de "inexperiente" e os
novos Trabalhistas de "lobos vestidos de ovelhas", os mercados
saudaram a chegada deles ao poder com uma subida na libra, nos
bônus governamentais e na Bolsa
de Valores.
Claro, há diferenças entre os
dois casos: embora o PT mantenha o mesmo líder ex-sindicalista
barbudo que só recentemente deixou de falar na linguagem radical, Blair foi um novo líder de
uma geração mais nova, um advogado que foi da escola particular à Universidade de Oxford, e
nunca tinha sido esquerdista.
Ainda assim, há lições para Lula tirar do êxito do Blair em acalmar os investidores. No dia depois
da eleição, ele criou um "choque
positivo" ao anunciar que daria
independência ao Banco da Inglaterra (banco central). O presidente dele continuaria o mesmo.
Já o PT não descarta a independência do BC. Manter no cargo
seu presidente, Armínio Fraga, de
forma permanente é tido como
improvável, mas pedir a ele que
fique alguns meses para ajudar
na transição, não tanto.
Blair já tinha se comprometido
com a meta da inflação de 2,5%
do governo anterior. Lula, se for
eleito, deve anunciar a sua meta o
quanto antes, e de preferência o
mais perto possível da atual meta
central de 4% para 2003.
Tal "choque positivo" também
pode ser criado por anunciar a intenção de aprovar, nos primeiros
meses de governo, reformas ousadas tributárias ou previdenciárias, especialmente.
Tony Blair repetiu constantemente que manteria nos primeiros dois anos os limites de gastos
públicos previstos pelo governo
anterior. Quanto mais vezes o Lula repetir o compromisso recente
de manter um superávit primário
suficiente para estabilizar a proporção dívida/PIB, melhor.
Em 1997 os mercados duvidaram pouco da capacidade do
Blair de frear a ala radical do seu
partido porque ele chegou no poder com uma maioria esmagadora de deputados, muitos deles
"clones" seus moderados. Lula
não terá essa vantagem, mas pode acalmar os mercados por construir uma maioria com os grandes partidos de centro, como
PSDB e PMDB. Seria um erro
pensar em um governo minoritário que só busque maiorias eventuais para aprovar reformas.
A proposta de Aécio Neves, que
provavelmente será governador
do segundo maior Estado brasileiro, além de ser um dos principais caciques tucanos de um pacto de governabilidade entre governadores e executivo federal,
deve ser acolhida de braços abertos. Afinal, será difícil, mas não
impossível, para um eventual presidente Lula superar o pessimismo profundo dos mercados e convencê-los que, nas palavras do
jingle do Blair em 1997, "As coisas
só vão melhorar".
PETER COLLINS, correspondente no
Brasil da revista inglesa "The Economist", escreve mensalmente nesta seção,
às quintas-feiras
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