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POLÍTICA EXTERNA
Pressionado pela imprensa estrangeira, presidente ressalta diferenças, mas descarta discuti-las com Fidel
Não vou palpitar na política de Cuba, diz Lula
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva rejeitou as pressões internacionais para que interceda pela
liberdade de presos políticos em
Cuba no encontro que terá hoje
com o ditador Fidel Castro.
"Não é boa política um chefe de
Estado se meter em assuntos internos de outro país. Vou tratar
dos interesses do Brasil. Não vou
dar palpite em política interna de
outro país", afirmou Lula ontem,
no México.
A ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras divulgou nesta
semana uma carta aberta em que
pede ao presidente Lula que ajude
na libertação de 30 jornalistas presos na ilha supostamente por motivações políticas.
O presidente brasileiro foi interpelado várias vezes por jornalistas
estrangeiros sobre sua posição a
respeito de Cuba. Ele respondeu:
"O que penso sobre Cuba está
dito, escrito e publicado. O que
penso sobre Cuba vai do direito
de autodeterminação do povo cubano às discordâncias ao longo de
todos estes anos que tenho demonstrado. Basta ver, por exemplo, a diferença de organização
entre o PT e o Partido Comunista
cubano. Ou, por exemplo, a estrutura sindical que sempre defendi e
aquela existente em Cuba".
Será a primeira visita de Lula a
Cuba na condição de presidente.
Ele é amigo do ditador Fidel Castro desde 1980, quando se conheceram em Manágua (Nicarágua),
na comemoração do primeiro
aniversário da revolução sandinista. Em 1995, Fidel foi à casa de
Lula em São Bernardo do Campo.
Lula afirmou que pretende discutir com Cuba a realização de
acordos comerciais. Ao novamente ser questionado se não teria um papel humanitário a desempenhar na questão cubana,
Lula respondeu, rindo:
"Tenho tantos problemas na
minha terrinha, que, se eu resolver parte deles, já terei prestado
um grande papel à humanidade."
O presidente brasileiro afirmou
que começa hoje sua primeira visita oficial a Cuba independentemente dos atos com que concorde
ou não de Fidel Castro.
Mas fez uma condenação do
bloqueio comercial à ilha determinado pelos Estados Unidos.
"Os cubanos não tiveram a
oportunidade de realizar muitas
coisas que outros países puderam
fazer por causa dele", disse Lula.
Ele se reuniu por duas horas
com o presidente mexicano, Vicente Fox, na residência oficial.
Motivos sentimentais
Lula chega hoje a Cuba para
uma visita de 26 horas que combina motivos sentimentais, políticos e econômicos. A comitiva de
Lula, basicamente a mesma das
viagens a Nova York e ao México,
é composta por oito ministros,
dois parlamentares e o governador do Estado do Amazonas,
Eduardo Braga (PPS).
O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, que se exilou em Cuba
durante o regime militar e diz ter
ligação afetiva com o país, chegou
ontem a Havana e foi recebido no
aeroporto pelo embaixador brasileiro, Tilden Santiago -entusiasta do regime cubano. Apesar de
não integrar a comitiva, pelo menos um membro do governo petista vai se juntar à equipe brasileira -o assessor especial da Presidência Frei Betto, amigo de Fidel,
que chegou antes para proferir
uma palestra numa universidade.
Segundo um diplomata brasileiro que participou da organização da viagem, o governo está
convicto de que Fidel não vai criar
nenhuma situação de constrangimento para Lula nem procurar tirar proveito político da visita.
A agenda de Lula, que começa
às 12h e se encerra às 14h de amanhã -mais que o dobro da do
México-, prevê uma única aparição pública, a oferenda de flores
no túmulo do herói nacional José
Martí, na praça da Revolução.
Está sendo esperado um público pequeno, porque o evento não
está sendo alvo de divulgação.
Segundo a Embaixada do Brasil
em Havana, em nenhum momento o governo cubano manifestou a
intenção de promover um evento
de massa para explorar a visita de
Lula. Segundo o diplomata brasileiro, essa informação foi difundida por pessoas interessadas no
fracasso da visita. A agenda da
viagem não prevê discursos de
nenhum dos presidentes.
Grupos defensores de direitos
civis pediram audiência a Lula,
mas até ontem à noite ainda não
havia sido definido quem os receberia. Estava certo que não seria o
presidente. Lula terá dois encontros privados com Fidel.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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