|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA EXTERNA
Presidente diz que passou parte da vida gritando "Fora, FMI" e que situação do país dispensa outra negociação
Lula não vê necessidade de acordo com FMI
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O Brasil está numa situação econômica tão estável atualmente
que não precisa fazer um novo
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). A declaração
foi feita ontem pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva durante
palestra no Council of Foreign Affairs, em Nova York.
"Passei boa parte da minha vida
política gritando "Fora, FMI" e
agora o Brasil está numa situação
confortável. Hoje, não é necessário fazer um novo acordo com o
Fundo. Não precisamos mais negociar com uma espada na cabeça", disse o presidente Lula.
Na platéia, estavam personalidades do mundo das finanças e
empresários internacionais de renome como os megainvestidores
George Soros e David Rockfeller,
além do ex-diretor-geral-adjunto
do FMI Stanley Fisher.
Ao fazer uma análise de seus
nove meses de governo, Lula fez
questão de enfatizar que o Brasil
hoje é um porto seguro para investimentos e que os principais
nós da economia brasileira -a
inflação e a vulnerabilidade externa- já foram desatados.
"O risco-país está em menos de
700 pontos. Deveria estar zero,
pois não há mais risco de investir
no Brasil. Teremos neste ano um
superávit comercial de US$ 20 bilhões", afirmou o presidente.
Aposta no fracasso
Na sequência, Lula deu um recado mais direto para eventuais
especuladores presentes no evento: "Quem apostar no fracasso do
Brasil vai perder".
Depois, num tom mais conciliador, Lula pediu a ajuda de Deus,
dos amigos e dos investidores para ajudar o Brasil a crescer.
"Espero que os investidores internacionais possam dar uma sólida contribuição para a retomada
dos investimentos produtivos no
país", afirmou o presidente.
O avanço das reformas previdenciária e tributária foi citado
como um exemplo de que o seu
governo caminha na direção certa: "Assumimos o governo com o
compromisso de dar entrada nessas reformas no primeiro semestre. Antes de novembro, teremos
as reformas aprovadas".
Lula lançou mão de suas já tradicionais metáforas para mostrar
que a economia brasileira segue à
risca a cartilha da disciplina fiscal.
"Já teve uma época em que eu tinha um filho, depois outro, mas o
dinheiro continuava o mesmo.
Governo o Brasil como cuido da
minha casa. Quando o dinheiro
está curto, corto os supérfluos e só
compro bens novos quando sei
que vou ter como pagar", disse.
A comparação entre as dificuldades que já enfrentou para administrar o orçamento doméstico
com as dificuldades de administrar o Orçamento da União provocou risos na platéia.
O andamento da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) e a
repercussão sobre a rodada da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), em Cancún, também
foram temas que fizeram parte da
palestra do presidente brasileiro.
A exemplo do que já havia defendido em encontro com sindicalistas americanos, Lula disse ser
a favor da união do G22 (grupo de
países em desenvolvimento) como a melhor estratégia de articulação contra o "apartheid comercial dos países protecionistas".
"O objetivo não é o confronto,
mas o fortalecimento da OMC.
Não queremos ser tratados como
cidadãos de segunda classe", disse
o presidente na palestra.
A defesa da aliança entre os países mais pobres, entretanto, não
impediu que Lula também fizesse
autocríticas e críticas aos parceiros brasileiros da América Latina.
"Na América do Sul, no Brasil,
não podemos culpar os países ricos pelos nossos problemas. Esses
problemas são culpa da nossa elite e de governantes que não fizeram o que tinha de ser feito há 50
anos", afirmou o presidente.
Sobre a Alca, Lula declarou que,
sem avanços nas negociações
agrícolas, o andamento do bloco
econômico pode desacelerar.
Texto Anterior: Quem tem medo de Cuba? Próximo Texto: Frases Índice
|