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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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REGIME MILITAR

Luís Francisco Carvalho Filho diz que presidente "não vestiu boné dos desaparecidos'; para Nilmário, há precipitação

Comissão vê erro de Lula no caso Araguaia

LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Luís Francisco Carvalho Filho, disse ontem que o governo federal "errou duas vezes" ao propor a criação de uma comissão interministerial com a finalidade de localizar os corpos de ex-integrantes da guerrilha do Araguaia -movimento armado combatido pelo Exército entre 1972 e 1975.
"O primeiro erro foi criar uma comissão com um objetivo inútil. Para resolver esse assunto basta vontade política. Além disso, todo o processo foi feito sem o conhecimento dos familiares, o que é absurdo", disse Carvalho Filho.
A nova comissão, que precisa de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser criada, será integrada pelos ministros José Dirceu (Casa Civil), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Nilmário Miranda (Direitos Humanos), José Viegas (Defesa ) e Álvaro Ribeiro da Costa (AGU).
O governo informou que a nova comissão tem como objetivo tirar dos familiares o ônus de provarem que seus parentes foram vítimas do Estado. Durante quatro meses, que podem ser prorrogados por mais quatro, a comissão ficará encarregada de juntar provas para ajudar os familiares.
"Não precisa de uma comissão de notáveis para localizar os corpos dos desaparecidos políticos. Precisa de vontade política", afirmou Carvalho Filho. Desde 2000, a comissão enviou quatro pedidos de ajuda ao Ministério da Defesa, todos sem resposta. O último, enviado a Viegas no mês passado, também ficou sem resposta.
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já vestiu o boné de muitos movimentos, mas não vestiu ainda o "boné dos desaparecidos'", afirmou Carvalho Filho.

Precipitação
Nilmário Miranda considerou as críticas precipitadas. "Não existe uma comissão ainda, o decreto não foi assinado pelo presidente. Então, não dá para saber o que estará escrito no decreto. O governo, pela primeira vez, está propondo assumir um papel, que sempre foi cobrado, de colher informações. O grupo vai buscar as informações e repassar para a Comissão de Mortos e Desaparecidos, que é permanente", disse.
Suzana Lisboa, representante dos familiares das vítimas na comissão, criticou o governo pelo fato de os familiares não terem sido consultados. "Tivemos conhecimento da nova comissão por meio da imprensa. Vejo com muita estranheza e desconforto essa situação", disse.


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