|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA DOIS
Polícia Federal tem indícios de que a Bônus-Banval, que operou para o caixa dois da legenda, via Marcos Valério, esquenta dinheiro para doleiros
Corretora ligada ao PT é suspeita de lavagem
MARIO CESAR CARVALHO
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal tem indícios
de que a corretora que operou para o PT, a Bônus-Banval, não faz
só negócios oficiais na Bolsas de
Valores e na BM&F (Bolsa Mercantil e de Futuros): a empresa lava recursos para doleiros, segundo o levantamento inicial dos policiais. A PF trabalha com duas hipóteses: 1) o esquema de caixa
dois do PT ter sido alimentado
por alguns desses doleiros; e 2) a
Bônus-Bonval funcionar como
uma espécie de caixa de compensação entre doleiros.
Pelo menos quatro doleiros conhecidos realizaram operações
no mercado financeiro por meio
da corretora. Dois são alvo das investigações da CPI do Mensalão:
Nelma Cunha, de Santo André, e
Carlos Alberto Quaglia, de Florianópolis. Um terceiro investigado
pela CPI, Lucio Bolonha Funaro,
também recorria à Bônus-Banval.
O advogado da Bônus-Banval,
Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, diz que "não se pode confundir a corretora com a conduta de
alguns clientes". Para Pitombo, a
empresa é alvo de campanha difamatória (leia mais na pág. A9).
Os primeiros indícios de que a
corretora paulista tinha duas faces, uma legal e outra clandestina,
foram descobertos pela PF e pelo
Ministério Público Federal no
curso das investigações sobre a
quebra do Banco Santos, no ano
passado. Entre os doleiros que
uma empresa controlada pelo
banqueiro Edemar Cid Ferreira
usava para remeter recursos para
o exterior, segundo a PF, apareceu
a Bônus-Banval Participações,
dos mesmos sócios da corretora.
O fato de a Bônus-Banval Corretora não ser sido usada na operação tem uma explicação simples, na visão dos policiais: ela está
sob as leis da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários), que, em tese, exerceria uma fiscalização
mais rigorosa. Já a empresa de
participações não precisa dar satisfação a nenhum órgão regulador por eventuais negócios heterodoxos ou irregulares que faça.
A PF começou a desvendar o elo
entre a Bônus-Banval e os doleiros ao investigar uma lista de pessoas que teriam recebido recursos
da corretora, fornecida pela própria empresa. O primeiro susto
dos policiais foi ouvir dos supostos beneficiados pelas aplicações
que eles nunca tinham ouvido falar da Bônus-Banval. Tinham,
sim, vendido dólares para doleiros. A suspeita dos policiais é que
esses doleiros tinham transferido
os dólares que compraram para a
corretora numa operação de lavagem de dinheiro.
Um dos doleiros que apareceu
na investigação da PF sobre a Bônus-Banval foi Dario Messer. Na
última terça-feira, Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da
Barcelona, relatou à CPI dos Bingos e do Mensalão que Messer era
o doleiro usado pelo PT para esquentar doações ilegais. As ordens de pagamento, de acordo
com o doleiro, eram dadas pelo
lobista Marcos Valério de Souza
-ele nega as acusações.
"Eu confio em você"
O sistema usado por doleiros
para remeter dinheiro para fora
do país é conhecido internacionalmente por "hawala" -termo
árabe que significa "eu confio em
você". No Brasil, "hawala" é conhecido como dólar-cabo. Nesse
sistema, não há documentos escritos; o que há é uma troca de
créditos em moedas diferentes.
Por exemplo: um doleiro em
São Paulo quer depositar US$ 1
numa offshore nas Bahamas. Ele
entra em contato com um corresponde seu de lá, que faz o depósito no Panamá. O doleiro brasileiro registra um crédito para ele no
valor correspondente. Quando o
parceiro precisar mandar dinheiro para o Brasil, o doleiro de São
Paulo faz o pagamento em reais
para o cliente do doleiro panamenho, sem que haja remessa física
de dinheiro.
O "halawa" é o inferno dos que
investigam lavagem de dinheiro:
não há documentos que provem a
compensação. Esse sistema é usado por traficantes de drogas e terroristas. A Al Qaeda, de Osama
Bin Laden, movimenta seus recursos usando esse método, segundo o governo dos EUA.
Doleira do ABC
Toninho da Barcelona apresentou na CPI uma nova personagem
do mercado paralelo que operaria
para o PT, segundo ele: Nelma
Cunha, dona de uma casa de câmbio em Santo André. Ela teria feito
operações em dólar para o PT
quando Celso Daniel era prefeito
da cidade, de 2000 a 2002.
Pode ser mera coincidência,
mas Nelma foi cliente da Bônus-Banval. A corretora informa que
Nelma perdeu muitos recursos
nas suas aplicações. Perda, em
mercado de dólar futuro, é uma
das formas de transferir dinheiro
de forma dissimulada para alguém que não quer ser identificado. Nesse investimento, o aplicador aposta numa tendência para o
dólar -de alta, por exemplo. Se o
dólar cai, ela perde -e quem
apostou em queda sai ganhando.
A polícia acha que políticos ou
partidos pode estar na ponta que
saiu ganhando -seria a forma legal que a doleira usou para esquentar recursos.
O argentino Carlos Alberto
Quaglia, um dos sócios da Natimar, é outro do mercado de dólares que aplicou na Natimar. A empresa informa que os R$ 6,5 milhões investidos pela Natimar na
Bônus-Banval saíram do caixa de
Marcos Valério - o que é negado
tanto por ele quanto por Quaglia.
A lista de investidores que usavam a Natimar para investir na
corretora inclui a mulher do doleiro Najun Turner, que foi usado
pelo então presidente Fernando
Collor em 1992 para tentar justificar recursos que recebera do esquema montado por seu tesoureiro Paulo César Farias.
Texto Anterior: Plínio diz hoje se fica no partido Próximo Texto: PF desconfia de empréstimo sem garantias Índice
|