São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OUTRO LADO

Segundo empresário, corretora tornou-se centro das atenções para distrair a PF da transação ilegal de dinheiro para partidos políticos

Empresa é alvo de massacre, diz sócio da Bônus-Banval

DA REPORTAGEM LOCAL

A Bônus-Banval transformou-se em alvo de massacre da mídia para evitar que as investigações da Polícia Federal e das CPIs cheguem aos verdadeiros donos do dinheiro repassado ilegalmente a partidos políticos. A avaliação é de um dos sócios da corretora, que não quis ter seu nome divulgado nos jornais.
A Bônus-Banval, segundo ele, foi a única empresa que ofereceu à CPI e à Polícia Federal a quebra de seus sigilos bancários, telefônicos e fiscais, além de documentos. Foi a primeira a reconhecer a movimentação de valores acima do total informado por Marcos Valério. E teve a preocupação, diz o sócio, de periciar essas operações.
"Gostaria de entender por que a Bônus-Banval virou um alvo tão privilegiado quando há coisas muito mais graves para apurar, com valores mais elevados", diz o advogado da Bônus-Banval, Antônio Sérgio de Moraes Pitombo.
A explicação, para o sócio, é simples: desviar a atenção sobre as atividades da Guaranhuns, empresa de fachada, na definição dele, que serviu para o repasse dos recursos.
Laudo elaborado pela Bordin Consultores atesta que todas as operações da Bônus-Banval com o publicitário Marcos Valério de Souza foram legais e devidamente registradas, segundo a corretora.
Valério depositou R$ 6,5 milhões na Bônus-Banval, segundo os registros da Bordin. Os recursos foram integralmente repassados à Natimar para a compra de ouro e investimentos na BM&F. Mais tarde, o resultado das aplicações foi transferido a pessoas indicadas pela Natimar por meio de cartas. A Bônus-Banval reteve apenas o valor da comissão de corretagem.
A lista de beneficiários finais das operações foi entregue à CPI dos Correios e à Polícia Federal. A auditoria feita para mostrar a transparência dos negócios da corretora foi usada pela mídia para atacar a corretora, segundo o sócio.
Os problemas da empresa começaram, conta ele, em 2002, quando um cliente deu um calote de R$ 4,5 milhões na corretora, o que quase levou a empresa à lona. Os donos chegaram a fazer empréstimos de agiotas; todos os negócios que pudessem encorpar o caixa eram muito bem-vindos.
Foi assim, disse, que a Bônus-Banval entrou em contato com vários corretores autônomos - profissionais que fecham negócios em nome da empresa, mas carregam sua própria carteira de clientes. Por meio deles, os doleiros teriam usado a corretora para fazer negócios. Mas, ressalta, apenas em operações legais.
Apesar da chegada dos novos clientes, os donos mantiveram a disposição de vender a corretora. Conforme o sócio relatou à Folha, isso pareceu possível quando o deputado José Janene (PP-PR), pai de uma das funcionárias da Bônus-Banval, apresentou um interessado: Marcos Valério.
Durante meses, afirma o sócio, todos se desdobraram para atender os pedidos de Valério. Em agosto de 2004, quando o publicitário disse que não iria comprar a Bônus-Banval, os sócios venderam à BM&F o título para operar no mercado. Não foram cassados ou expulsos, diferentemente do que foi noticiado, diz a corretora.
O sócio diz que jamais fechou transações para Alberto Youssef, Dario Messer e Toninho da Barcelona. Também nunca viu o deputado José Dirceu (PT-SP). Informa ainda que os negócios com fundos de pensão eram esporádicos e em pequeno volume.
Valério nega ter tentado comprar a Bônus-Banval ou contatos com a Natimar.
Ricardo Tepedino, advogado de Edemar Cid Ferreira, diz que não há qualquer prova de que o banqueiro tenha remetido recursos para fora do Brasil. A Folha não conseguiu localizar Nelma Cunha nem seu advogado. (MCC e JL)


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