São Paulo, Terça-feira, 26 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PDT x PT
Governador do Rio abranda críticas e acusa apenas grupo de Santana
Garotinho demite 15, mas PT "light" fica no governo

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

A ruptura entre o governador Anthony Garotinho (PDT) e uma parte do PT fluminense culminou ontem com a exoneração de cerca de 15 funcionários indicados para os cargos pelo deputado federal Carlos Santana (PT), entre eles o secretário de Transportes, Raul de Bonis, e vários diretores da área de transportes.
Garotinho, porém, recuou em suas declarações: disse que, na última sexta-feira, ao falar do PT como "Partido da Boquinha" (interessado em cargos), não se referia a todo o partido, mas apenas ao grupo de Santana.
"O que eu disse eu repito. A conduta desse grupo é fisiológica. Quando eu disse essa frase, e repito, eu disse, esses setores do PT deviam sair do PT e ir para o "Partido da Boquinha". Eu não disse o PT. Eu disse esses seguidores."
O líder petista Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem, em São Paulo, a decisão do partido.
"Se o PT decidiu sair do governo, eu acho que agiu de forma irresponsável. Desde o começo do governo Garotinho, eu tenho ponderado com o PT do Rio que era preciso negociar com o governador como partido político e não pessoalmente", disse.
Garotinho declarou que resolveu exonerar o grupo de Santana anteontem à noite, quando soube do comportamento do deputado na convenção petista -o grupo do deputado defendeu, e a convenção aprovou, a entrega dos cargos petistas no governo.
"Eu não posso admitir que pessoas que estejam participando da administração fiquem fazendo jogo duplo. Antes que as pessoas ligadas ao deputado colocassem os cargos à disposição, tomei a liberdade de exonerá-los. É uma resposta ao deputado Carlos Santana, para ele saber que no Estado do Rio de Janeiro tem governo."
Garotinho disse que não esperaria carta de demissão. "Quem tá pensando que vai ficar no meu governo fabricando crise, fazendo fofoca, não precisa nem pedir demissão. Foi demitido hoje. Ninguém aqui vai fazer bagunça", disse. Segundo ele, o PT como um todo tinha 250 cargos.
Carlos Santana ameaçou ontem cassar, por meio do Diretório Regional do PT no Rio, os direitos partidários dos demais petistas que permanecerem no governo.
O governador disse que "não há crise no governo, a crise é do PT", e que não vai permitir que essa crise interfira no governo.
"Eu não posso viver entre esse dilema de um PT que me ama e um que me odeia. Isso é um dilema freudiano. Isso não é para mim, eu tenho que administrar o Estado. Eu fico com o PT que me ama. O PT que me odeia vá cuidar da vida dele", afirmou.
Segundo Garotinho, a vice-governadora Benedita da Silva, os secretários Antônio Pitanga (Ação Social), Jorge Bittar (Planejamento) e Gilberto Palmares (Trabalho), todos da corrente petista Articulação, considerada ""light", lhe disseram que pretendem continuar no governo.
Garotinho tomou café ontem com Benedita, Pitanga e Bittar. Disse que foi informado por eles da decisão de recorrer ao Diretório Nacional do PT para permanecer no governo e que a aliança -pelo menos com essa parte do partido- se mantém.
O governador afirmou ter conversado ontem de manhã pelo telefone com presidente nacional do PT, José Dirceu, e disse que este "compreendeu perfeitamente" o conteúdo de suas declarações.
Segundo Garotinho, a aliança "com esse PT que tem uma postura construtiva" está mantida.
"A aliança não foi fisiológica, foi programática. Não estamos discutindo um carguinho aqui, um carguinho ali. A resposta que eu tenho que dar à convenção do PT é que aqueles que lá pediram a ruptura estão saindo hoje."


Colaborou a Reportagem Local.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: "A crise é no PT, não no governo", afirma pedetista
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.