São Paulo, Terça-feira, 26 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME ORGANIZADO
PF investiga caso; segundo grampo telefônico, policial, que está preso, atuaria em cidades do Piauí, Ceará e Maranhão
Coronel é acusado de usar PMs em extorsão

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

O coronel da reserva da Polícia Militar do Piauí José Viriato Correia Lima, que está preso, é acusado de usar policiais militares para praticar extorsão, ameaças e chantagens contra prefeitos do Piauí, Ceará e Maranhão. Essa prática do coronel, apontado como o líder do crime organizado no Estado, consta de relatório da Polícia Federal obtido pela Agência Folha e é revelada em conversas telefônicas grampeadas.
A PF está investigando o caso. Os grampos revelam que o esquema, em muitos casos, contava com a conivência de prefeitos, que dividiriam o lucro do desvio de verbas públicas.
As investigações sobre o crime organizado já provocaram o afastamento de três juízes estaduais, do chefe do Gabinete Militar do governo do Estado, do comandante da PM, a prisão do coronel e de quatro PMs, além de nove pedidos de prisão provisória.
Um dos casos revelados pelas investigações se refere à prática de extorsão contra a prefeita de Parambu (CE), Milene Freitas (PFL). Ela não fala sobre o caso, afirmando que teme morrer.
O grampo oficial revela que o coronel controlava PMs no Piauí e também no Ceará. Os policiais eram usados como forma de intimidar e impedir que as vítimas do coronel se rebelassem contra os "cobradores" do esquema.
"Para evitar qualquer problema, passe em Iguatu (CE), pegue o Tomé e o Raimundo fardados, para que a prefeita (Milene) não chame a polícia e mande meter você (Chicão) e o Alecrim na cadeia", diz o coronel, em um telefonema gravado.
O delegado da PF Airton Lopes e o procurador da República no Piauí Tranvanvan Miranda que investigam a suposta quadrilha desde janeiro passado, afirmam que os grampos revelam que o coronel forçava, na maioria das vezes, a troca de notas fiscais de empresas inexistentes por dinheiro.
Muitas prefeituras, segundo eles, tinham que comprometer nessa fraude parte do FPM (Fundo de Participação dos Estados) -transferência federal de recursos que representa 90% da receita dessas pequenas cidades.
Outra fonte de desvio de recursos, segundo eles, seria o Fundef (Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) e verbas de convênios com o Ministério da Saúde.
Há cerca de duas semanas, a PF apreendeu, no escritório do advogado José Rocha Neiva Filho, que trabalha para o coronel, cheques de prefeituras que seriam descontados em dias de depósito do FPM. A PF não revelou o número de cheques nem os valores.
Os grampos mostram que a ação do coronel contra as prefeituras ia além da troca de dinheiro por notas frias.
Dono de uma empresa de cobrança, o coronel ganhava comissão de até 40% para cobrar de prefeitos cheques emitidos para agiotas e fornecedores.
"Se a prefeita de Parambu se meter, vou caminhar de 12 (espingarda calibre 12) em cima dela", diz o coronel em telefonema grampeado pela PF.
Manoel Portela de Carvalho (PTB) foi eleito prefeito de Aroazes (PI) em 3 de outubro de 96. Antes de assumir, descobriu dezenas de notas fiscais frias no Tribunal de Contas do Estado.
Solicitou uma auditoria e denunciou o caso aos jornais locais. Em dezembro de 96, foi assassinado por dois pistoleiros. O inquérito apontou os supostos autores, que foram inocentados pela Justiça piauiense. A PF reabriu o caso.

Outro lado
O advogado do coronel, Ezequiel Miranda, afirmou que não há ilegalidade no fato de seu cliente ter uma empresa de cobrança.
"Estão questionando os métodos do coronel com base em gravações ilegais, que serão desconsideradas pela Justiça", afirmou.
Segundo ele, estão criando "folclore" em torno do nome do coronel. "É muita fantasia. Não há nada substancial juridicamente contra o coronel", declarou.
De dentro da prisão, o coronel tem ameaçado fazer denúncias contra o superintendente da PF no Estado, Robert Rios Magalhães. Segundo afirmou por meio do seu advogado, Magalhães teria recorrido a seus serviços.
"Ele (coronel) é um louco", disse o superintendente.
O coronel não concede entrevista. Alega estar impedido de fazer declarações por estar em prisão administrativa.
A Agência Folha não conseguiu localizar o advogado José Rocha Neiva Filho.


Texto Anterior: Prefeito se queixa de impostos
Próximo Texto: Crime organizado no MA atinge os três Poderes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.