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CRIME ORGANIZADO
PF investiga caso; segundo grampo telefônico, policial, que está preso, atuaria em cidades do Piauí, Ceará e Maranhão
Coronel é acusado de usar PMs em extorsão
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
O coronel da reserva da Polícia
Militar do Piauí José Viriato Correia Lima, que está preso, é acusado de usar policiais militares para
praticar extorsão, ameaças e
chantagens contra prefeitos do
Piauí, Ceará e Maranhão. Essa
prática do coronel, apontado como o líder do crime organizado
no Estado, consta de relatório da
Polícia Federal obtido pela Agência Folha e é revelada em conversas telefônicas grampeadas.
A PF está investigando o caso.
Os grampos revelam que o esquema, em muitos casos, contava
com a conivência de prefeitos,
que dividiriam o lucro do desvio
de verbas públicas.
As investigações sobre o crime
organizado já provocaram o afastamento de três juízes estaduais,
do chefe do Gabinete Militar do
governo do Estado, do comandante da PM, a prisão do coronel
e de quatro PMs, além de nove pedidos de prisão provisória.
Um dos casos revelados pelas
investigações se refere à prática de
extorsão contra a prefeita de Parambu (CE), Milene Freitas
(PFL). Ela não fala sobre o caso,
afirmando que teme morrer.
O grampo oficial revela que o
coronel controlava PMs no Piauí
e também no Ceará. Os policiais
eram usados como forma de intimidar e impedir que as vítimas do
coronel se rebelassem contra os
"cobradores" do esquema.
"Para evitar qualquer problema, passe em Iguatu (CE), pegue
o Tomé e o Raimundo fardados,
para que a prefeita (Milene) não
chame a polícia e mande meter
você (Chicão) e o Alecrim na cadeia", diz o coronel, em um telefonema gravado.
O delegado da PF Airton Lopes
e o procurador da República no
Piauí Tranvanvan Miranda que
investigam a suposta quadrilha
desde janeiro passado, afirmam
que os grampos revelam que o coronel forçava, na maioria das vezes, a troca de notas fiscais de empresas inexistentes por dinheiro.
Muitas prefeituras, segundo
eles, tinham que comprometer
nessa fraude parte do FPM (Fundo de Participação dos Estados)
-transferência federal de recursos que representa 90% da receita
dessas pequenas cidades.
Outra fonte de desvio de recursos, segundo eles, seria o Fundef
(Fundo de Desenvolvimento e
Manutenção do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) e verbas de convênios
com o Ministério da Saúde.
Há cerca de duas semanas, a PF
apreendeu, no escritório do advogado José Rocha Neiva Filho, que
trabalha para o coronel, cheques
de prefeituras que seriam descontados em dias de depósito do
FPM. A PF não revelou o número
de cheques nem os valores.
Os grampos mostram que a
ação do coronel contra as prefeituras ia além da troca de dinheiro
por notas frias.
Dono de uma empresa de cobrança, o coronel ganhava comissão de até 40% para cobrar de prefeitos cheques emitidos para agiotas e fornecedores.
"Se a prefeita de Parambu se
meter, vou caminhar de 12 (espingarda calibre 12) em cima dela",
diz o coronel em telefonema
grampeado pela PF.
Manoel Portela de Carvalho
(PTB) foi eleito prefeito de Aroazes (PI) em 3 de outubro de 96.
Antes de assumir, descobriu dezenas de notas fiscais frias no Tribunal de Contas do Estado.
Solicitou uma auditoria e denunciou o caso aos jornais locais.
Em dezembro de 96, foi assassinado por dois pistoleiros. O inquérito apontou os supostos autores,
que foram inocentados pela Justiça piauiense. A PF reabriu o caso.
Outro lado
O advogado do coronel, Ezequiel Miranda, afirmou que não
há ilegalidade no fato de seu cliente ter uma empresa de cobrança.
"Estão questionando os métodos do coronel com base em gravações ilegais, que serão desconsideradas pela Justiça", afirmou.
Segundo ele, estão criando "folclore" em torno do nome do coronel. "É muita fantasia. Não há
nada substancial juridicamente
contra o coronel", declarou.
De dentro da prisão, o coronel
tem ameaçado fazer denúncias
contra o superintendente da PF
no Estado, Robert Rios Magalhães. Segundo afirmou por meio
do seu advogado, Magalhães teria
recorrido a seus serviços.
"Ele (coronel) é um louco", disse o superintendente.
O coronel não concede entrevista. Alega estar impedido de fazer declarações por estar em prisão administrativa.
A Agência Folha não conseguiu
localizar o advogado José Rocha
Neiva Filho.
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