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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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CIDADANIA

Estudo mostra que 56% não se interessam por influenciar políticas públicas

Maioria no Brasil não exerce o poder político, diz pesquisa

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de o primeiro artigo da Constituição afirmar que "todo poder emana do povo", a idéia desse poder ainda é distante para a maioria dos brasileiros.
É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da ONG (organização não-governamental) Ação Educativa.
De acordo com a pesquisa, apenas 44% dos brasileiros disseram que acreditam exercer esse poder, enquanto 30% afirmaram que não o exercem e 26% não souberam opinar.
Os resultados mostram que a maioria dos brasileiros (56%) não tem interesse em participar de nenhum tipo de prática que influencie, de alguma maneira, as políticas públicas.
A pesquisa foi realizada com recursos fornecidos pela Petrobras e ouviu 2.000 pessoas entre 29 de outubro e 2 de novembro deste ano. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
O objetivo da pesquisa foi ter uma idéia da percepção que o brasileiro possui a respeito da democracia.

Participação direta
Mesmo entre aqueles que disseram que acreditam exercer algum poder, a maioria (68%) cita apenas a eleição de representantes como exemplo dessa prática.
A participação direta foi lembrada por 26%, enquanto 6% citaram as duas formas.
Os organizadores da pesquisa entenderam como participação direta a atuação em conselhos de educação, movimentos sociais, audiências públicas, reuniões para discussão de Orçamento Participativo e até mesmo o encaminhamento de ações para o Ministério Público.
"O fato de apenas 44% dos brasileiros acreditarem exercer o poder mostra que esse índice é relativamente baixo, mas a gente imaginava um percentual ainda menor num país com pouca tradição participativa como o Brasil", informou Camilla Croso, coordenadora do Observatório da Educação e da Juventude da ONG Ação Educativa.
Croso afirmou não considerar negativa a informação de que a maioria dos brasileiros não tem interesse em participar de ações diretas que influenciem as políticas públicas.
"Isso desmonta o mito de que todos querem participar, mas, entre os que disseram que não se interessam, uma parcela significativa [35%] disse que não deseja por falta de informação. Isso demonstra que ainda temos um terreno fértil para aumentar essa participação", disse ela.

Entidades
O cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), analisou os resultados a pedido da Folha.
Ele afirmou que a pesquisa do Ibope e da Ação Educativa sugere que esteja havendo um aumento da participação direta do brasileiro em ações políticas por mecanismos que não dependem de entidades associativas.
"Talvez a invenção do Orçamento Participativo e de outras práticas recentes tenham criado mecanismos de envolvimento direto do cidadão com o Poder Executivo sem que ele precise procurar um sindicato, partido ou outras organizações para influenciar as decisões", disse Nicolau.
De acordo com o cientista político do Iuperj, uma pesquisa que foi realizada pelo instituto do Rio no ano passado constatou que mais de 70% da população brasileira não é filiada a nenhum partido político, sindicato ou outro tipo de associação.
"O número de brasileiros filiados a partidos políticos é menor ainda, variando de 3% a 4% nas pesquisas de opinião", informou Nicolau.


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