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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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NAÇÕES UNIDAS

Relatório da FAO aponta redução de famintos na população brasileira principalmente durante a gestão FHC

Fome cresce no mundo, mas cai no Brasil

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Houve um aumento do número de pessoas que passam fome no mundo na década passada (de 1990 a 2001), mas o Brasil conseguiu reduzir de 12% para 9% o percentual de famintos entre a população. No início dos anos 90, 18,6 milhões de pessoas eram consideradas subnutridas no país. Hoje, esse número caiu para cerca 15,6 milhões de pessoas.
Em termos proporcionais, o Brasil tem hoje quase a metade do percentual de subnutridos em relação à média dos países em desenvolvimento, de 17%.
Os dados são de relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) sobre subnutrição no mundo divulgado ontem em Washington (Estados Unidos).
Segundo o documento, o número de famintos no mundo soma hoje 842 milhões de pessoas, a maioria na África e na Ásia.
No Brasil, boa parte da redução na década passada ocorreu durante sete anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A prioridade dada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao programa Fome Zero é elogiada no relatório da FAO, mas o órgão afirma que "ainda é muito prematuro para dizer se o programa terá sucesso".

Previsão
"Acreditamos que o Fome Zero tem todas as condições e medidas para ser bem-sucedido quando estiver implementado. Até aqui, não temos indicações das conquistas já obtidas", afirmou Hartwig de Haen, diretor-geral-adjunto da FAO durante entrevista.
Questionado pela Folha sobre no que o Fome Zero poderia diferir das políticas do governo anterior, Hartwig de Haen afirmou não ter "como responder".
Haen disse, no entanto, que Lula vem demonstrando "vontade política" e que o problema da fome trouxe um novo "envolvimento nacional" no Brasil.
Apesar dos avanços, o Brasil continua tendo mais famintos do que países como o Chile (4%), Equador (4%) e Uruguai (3%).

América do Sul
Na América do Sul, a Bolívia segue no primeiro lugar em número de desnutridos, com 22% da população, apesar de uma redução de quatro pontos percentuais na década passada.
Entre 1990 e 2001, a Argentina figurou como o único país sem subnutridos na região, mas a FAO ressalta que o relatório apresentado ontem não mediu os efeitos da crise econômica por que passou o país nos últimos dois anos.
Com exceção da Venezuela, todos os países da região tiveram redução ou mantiveram estável o número de famintos. Os subnutridos na Venezuela passaram de 11% em 1990 a 18% em 2001.
A FAO já considera impossível atingir a meta de reduzir pela metade (tendo 1990 como base) o número de famintos no mundo até o ano de 2015.

Retrocesso
O estudo mostrou a reversão de uma tendência de melhora na primeira metade dos anos 90, quando a população subnutrida no mundo foi reduzida em 37 milhões. Na segunda metade da década, no entanto, houve um aumento de 18 milhões.
Entre os 126 países pesquisados, apenas 19, incluindo a China, tiveram redução no número de subnutridos entre 90 e 2001.
Entre os 842 milhões de famintos do mundo, 798 milhões estão nos países pobres ou nas nações em desenvolvimento.
Segundo o relatório, as nações que reduziram a fome em geral também tiveram um crescimento econômico mais acentuado, diminuíram a taxa de natalidade, melhoraram indicadores de saúde e educação e registraram menos infecções por HIV.
Embora a ONU quantifique em 2.800 calorias diárias a nutrição ideal, o órgão informa que o critério adotado pela FAO leva em conta "um número significativamente menor de calorias e de refeições diárias consumidas" nos países pesquisados.


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