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NAÇÕES UNIDAS
Relatório da FAO aponta redução de famintos na população brasileira principalmente durante a gestão FHC
Fome cresce no mundo, mas cai no Brasil
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Houve um aumento do número
de pessoas que passam fome no
mundo na década passada (de
1990 a 2001), mas o Brasil conseguiu reduzir de 12% para 9% o
percentual de famintos entre a
população. No início dos anos 90,
18,6 milhões de pessoas eram
consideradas subnutridas no
país. Hoje, esse número caiu para
cerca 15,6 milhões de pessoas.
Em termos proporcionais, o
Brasil tem hoje quase a metade do
percentual de subnutridos em relação à média dos países em desenvolvimento, de 17%.
Os dados são de relatório da
FAO (Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e a Alimentação) sobre subnutrição no
mundo divulgado ontem em
Washington (Estados Unidos).
Segundo o documento, o número de famintos no mundo soma hoje 842 milhões de pessoas, a
maioria na África e na Ásia.
No Brasil, boa parte da redução
na década passada ocorreu durante sete anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. A prioridade dada pelo
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva ao programa Fome Zero é
elogiada no relatório da FAO, mas
o órgão afirma que "ainda é muito prematuro para dizer se o programa terá sucesso".
Previsão
"Acreditamos que o Fome Zero
tem todas as condições e medidas
para ser bem-sucedido quando
estiver implementado. Até aqui,
não temos indicações das conquistas já obtidas", afirmou Hartwig de Haen, diretor-geral-adjunto da FAO durante entrevista.
Questionado pela Folha sobre
no que o Fome Zero poderia diferir das políticas do governo anterior, Hartwig de Haen afirmou
não ter "como responder".
Haen disse, no entanto, que Lula vem demonstrando "vontade
política" e que o problema da fome trouxe um novo "envolvimento nacional" no Brasil.
Apesar dos avanços, o Brasil
continua tendo mais famintos do
que países como o Chile (4%),
Equador (4%) e Uruguai (3%).
América do Sul
Na América do Sul, a Bolívia segue no primeiro lugar em número
de desnutridos, com 22% da população, apesar de uma redução
de quatro pontos percentuais na
década passada.
Entre 1990 e 2001, a Argentina
figurou como o único país sem
subnutridos na região, mas a FAO
ressalta que o relatório apresentado ontem não mediu os efeitos da
crise econômica por que passou o
país nos últimos dois anos.
Com exceção da Venezuela, todos os países da região tiveram redução ou mantiveram estável o
número de famintos. Os subnutridos na Venezuela passaram de
11% em 1990 a 18% em 2001.
A FAO já considera impossível
atingir a meta de reduzir pela metade (tendo 1990 como base) o
número de famintos no mundo
até o ano de 2015.
Retrocesso
O estudo mostrou a reversão de
uma tendência de melhora na primeira metade dos anos 90, quando a população subnutrida no
mundo foi reduzida em 37 milhões. Na segunda metade da década, no entanto, houve um aumento de 18 milhões.
Entre os 126 países pesquisados,
apenas 19, incluindo a China, tiveram redução no número de subnutridos entre 90 e 2001.
Entre os 842 milhões de famintos do mundo, 798 milhões estão
nos países pobres ou nas nações
em desenvolvimento.
Segundo o relatório, as nações
que reduziram a fome em geral
também tiveram um crescimento
econômico mais acentuado, diminuíram a taxa de natalidade,
melhoraram indicadores de saúde e educação e registraram menos infecções por HIV.
Embora a ONU quantifique em
2.800 calorias diárias a nutrição
ideal, o órgão informa que o critério adotado pela FAO leva em
conta "um número significativamente menor de calorias e de refeições diárias consumidas" nos
países pesquisados.
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