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ELIO GASPARI
Um novo astro,
o levantador de PIB
Há muito tempo não se
ouvia coisa igual: "Eu não
derrubo, só levanto o PIB", informou o ministro do Planejamento, Guido Mantega. A nova versão do gigante Atlas, capaz de carregar o mundo nas
costas, disse isso numa das
mais miseráveis discussões econômicas dos últimos tempos.
Passado um ano de ruína, os
ministérios do Planejamento e
da Fazenda divergem: Mantega diz que a economia vai crescer 0,8%, e a turma de Antonio
Palocci fala em 0,4%. Segundo
Mantega, tudo se deveu a um
acesso de "mau humor" da ekipekonômica.
Se a economia brasileira pudesse crescer à custa do humor
dos economistas da Fazenda
ou da capacidade do doutor
Mantega de "levantar" PIB,
não haveria 2,5 milhões de desempregados nas seis maiores
regiões metropolitanas brasileiras.
O que há de doloroso na quiromancia econômica do PT Federal é a maneira como ela repete os embustes do tucanato.
Coisa assim: em janeiro anuncia-se que a economia crescerá
4%. Em junho fala-se em 3% .
Em dezembro anuncia-se que a
taxa será inferior a 1%, mas isso não tem importância porque
o mercado estima que no próximo ano o crescimento chegue a
4%. Muda-se de ano e começa
tudo de novo.
Em janeiro os sábios petistas
previam um crescimento de
2,8%. No final de março os
doutores Palocci e Henrique
Meirelles baixaram a bola para
algo entre 1,8% e 2,2%. Numa
conta grosseira, cada décimo
de ponto percentual de crescimento do PIB significa a criação de 30 mil postos de trabalho. A revisão indicava que, por
baixo, já tinham sumido 180
mil daqueles 10 milhões de empregos que a marquetagem petista prometeu criar em quatro
anos. Em junho, quando Lula
prometia o "espetáculo do crescimento", o Ipea reajustou o cenário e estimou a expansão da economia em 1,6%.
Em agosto, na tradição tucana o doutor Antonio Palocci
anunciava que o Brasil tinha
condições de crescer 3% a partir de 2004. Passados dois meses, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
prometeu "por volta de 4%".
Um mês depois começou a interessante trajetória do ministro Mantega no mundo da quiromancia do desenvolvimento.
Diante de uma previsão de
0,5% feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, seu
ministério divulgou uma nota
estimando que o crescimento
ficaria entre 0,7% e 1,1%. Em
seguida, ofereceu um preço de
liquidação: 0,98%.
Só os orixás podem dizer qual
a confiabilidade das projeções
centesimais da taxa de crescimento da economia, mas nessa
briga por migalhas Mantega se
apresenta como otimista porque promete em novembro um
crescimento de 0,8%, menos de
um terço do que seus colegas
ofereciam em janeiro. A ekipekonômica nunca chegou a esse
grau de prestidigitação.
O desastre do primeiro ano
de administração petista nada
tem a ver com a qualidade do
humor da Fazenda ou das virtudes do atletismo econômico
de Mantega. Ela se chama desemprego, ruína e recessão. A
economia brasileira precisa absorver 1,5 milhões de pessoas
por ano. Com os 0,8% do otimismo de Mantega, faltam 1,2
milhão de empregos. Com os
0,6% da última previsão do governor Meirelles, faltam cerca
de 1,3 milhão. Com os 0,4% da
ekipekonômica, faltam algo como 1,4 milhão. Isso para não se
falar na qualidade dos serviços
que aparecem. Cinco ocupações respondem por 70% das
vagas geradas nos anos 90 em
São Paulo: serviços domésticos,
ambulantes, limpeza e segurança.
Mantega, o levantador de
PIB, poderia fazer dupla com
Ricardo Berzoini, o cortador de
aposentados.
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