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Ex-sem-terra vira produtor de soja bem-sucedido em MT
Convencido por militar, Aquilino Sirtoli deixou cidade gaúcha e ganhou 200 hectares
Passados 25 anos, hoje o agricultor possui 1.500 hectares, a maior parte com plantação de soja; fazenda é avaliada em R$ 12 milhões
DO ENVIADO A LUCAS DO RIO VERDE (MT)
Aquilino Sirtoli admite que
25 anos atrás caiu no que chamou de "blablablá" do major
Sebastião Curió. Então com 33
anos, recém-casado e com uma
criança de colo, aceitou a proposta dos militares e abandonou um acampamento de sem-terra no Rio Grande do Sul para
tentar a vida numa inabitada
área no centro de Mato Grosso.
Por quatro dias, em dezembro de 1981, viajou em um caminhão lotado de cachorros.
"Os militares trouxeram tudo.
Se você tivesse uma carroça,
móveis, fogão, geladeira, eles
colocavam tudo dentro de um
caminhão. E eu vim num caminhão que trouxe a cachorrada
de todas as famílias. O cheiro
era insuportável", afirma.
Sirtoli, 58, lembra da pressão
da Igreja Católica, representada por bispos da Pastoral da
Terra, e de alguns líderes sem-terra para que recusasse a oferta dos militares. A idéia da
maioria dos acampados era
pressionar os governos federal
e estadual pela desapropriação
de áreas no Rio Grande do Sul.
"O Curió fez tudo para desmobilizar o acampamento. Era
só blablablá, mas não tive a menor dúvida em vir para cá", afirma Sirtoli, hoje sojicultor bem-sucedido em Mato Grosso. "No
acampamento ficaram amigos
que não queriam que a gente
viesse. Nunca mais voltei, porque poderiam ficar bravos."
Quando chegou a Lucas do
Rio Verde, assim como as outras 202 famílias, Sirtoli recebeu um lote de 200 hectares.
Hoje acumula uma área de
1.500 hectares quase toda plantada em soja e, segundo ele,
avaliada em torno de R$ 12 milhões, sendo R$ 8.000 cada
hectare. Sirtoli reserva 300
hectares da fazenda para a
plantação de milho.
"Caso nascesse de novo, não
sei se faria tudo isso de novo.
Estamos aqui porque somos
teimosos", diz, com um celular
preso à cintura e uma caminhonete Hilux estacionada na sombra de uma árvore na entrada
de sua fazenda, a Pinga Fogo, a
12 km do centro da cidade.
Hoje, ao lado de três filhos e
da mulher, Jurema, 55, vive numa casa com piscina na região
central do município. "Aqui
não tinha nada. O primeiro
posto de telefone foi instalado
depois de um ano. O mercado e
o hospital mais próximos ficavam a mais de 200 km. A sorte
nossa é que não teve epidemias", afirma o gaúcho de Tapejara.
(ES)
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