São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Ex-sem-terra vira produtor de soja bem-sucedido em MT

Convencido por militar, Aquilino Sirtoli deixou cidade gaúcha e ganhou 200 hectares

Passados 25 anos, hoje o agricultor possui 1.500 hectares, a maior parte com plantação de soja; fazenda é avaliada em R$ 12 milhões

DO ENVIADO A LUCAS DO RIO VERDE (MT)

Aquilino Sirtoli admite que 25 anos atrás caiu no que chamou de "blablablá" do major Sebastião Curió. Então com 33 anos, recém-casado e com uma criança de colo, aceitou a proposta dos militares e abandonou um acampamento de sem-terra no Rio Grande do Sul para tentar a vida numa inabitada área no centro de Mato Grosso.
Por quatro dias, em dezembro de 1981, viajou em um caminhão lotado de cachorros. "Os militares trouxeram tudo. Se você tivesse uma carroça, móveis, fogão, geladeira, eles colocavam tudo dentro de um caminhão. E eu vim num caminhão que trouxe a cachorrada de todas as famílias. O cheiro era insuportável", afirma.
Sirtoli, 58, lembra da pressão da Igreja Católica, representada por bispos da Pastoral da Terra, e de alguns líderes sem-terra para que recusasse a oferta dos militares. A idéia da maioria dos acampados era pressionar os governos federal e estadual pela desapropriação de áreas no Rio Grande do Sul.
"O Curió fez tudo para desmobilizar o acampamento. Era só blablablá, mas não tive a menor dúvida em vir para cá", afirma Sirtoli, hoje sojicultor bem-sucedido em Mato Grosso. "No acampamento ficaram amigos que não queriam que a gente viesse. Nunca mais voltei, porque poderiam ficar bravos."
Quando chegou a Lucas do Rio Verde, assim como as outras 202 famílias, Sirtoli recebeu um lote de 200 hectares. Hoje acumula uma área de 1.500 hectares quase toda plantada em soja e, segundo ele, avaliada em torno de R$ 12 milhões, sendo R$ 8.000 cada hectare. Sirtoli reserva 300 hectares da fazenda para a plantação de milho.
"Caso nascesse de novo, não sei se faria tudo isso de novo. Estamos aqui porque somos teimosos", diz, com um celular preso à cintura e uma caminhonete Hilux estacionada na sombra de uma árvore na entrada de sua fazenda, a Pinga Fogo, a 12 km do centro da cidade.
Hoje, ao lado de três filhos e da mulher, Jurema, 55, vive numa casa com piscina na região central do município. "Aqui não tinha nada. O primeiro posto de telefone foi instalado depois de um ano. O mercado e o hospital mais próximos ficavam a mais de 200 km. A sorte nossa é que não teve epidemias", afirma o gaúcho de Tapejara. (ES)


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