São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Cardeal põe fim a trauma da igreja, diz professor

Para Luiz Pondé, d. Cláudio repara efeitos do papado de João Paulo 2º sobre o Brasil

Especialista afirma que nomeação de cardeal desfaz idéia de que a eleição de Bento 16 significou "tapa na cara" da América Latina

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Felipe Pondé é professor da pós-graduação em ciências da religião e do departamento de teologia da PUC-SP, além de professor da Faap. Autor do livro "O Homem Insuficiente" (Edusp) e "Crítica e Profecia - Filosofia da Religião em Dostoiévski" (ed. 34), Pondé afirma que a ida de d. Cláudio ao Vaticano é sinal de que a a Santa Sé resolveu curar um "trauma" que havia entre a igreja do Brasil e o papado. (LB)

FOLHA - O que significa a ida de d. Cláudio ao Vaticano?
LUIZ FELIPE PONDÉ
- Acho que não há dúvida de que há um movimento de aproximação com o Brasil. Mas, veja: quando a gente fala de Igreja Católica, devemos sempre tomar cuidado. A gente nunca sabe plenamente nada sobre a igreja. Porém, a passagem do d. Cláudio para o Vaticano tem uma dimensão clara: receber um cardeal brasileiro num cargo importante é ajudar a desfazer um boato que circulou muito, de que a eleição de Bento 16 significava um tapa na cara da América Latina. A ida de d. Cláudio é uma reconstrução.

FOLHA - D. Cláudio diz que equilibrou a igreja em SP. É verdade?
PONDÉ
- Ele sabe lidar com as várias faces da igreja, inclusive no sentido de curar esse trauma que a América Latina e o Brasil ficaram por causa dos últimos anos do Vaticano com João Paulo 2º. Trauma no sentido da exclusão da Teologia da Libertação [teoria que embasou a esquerda católica].

FOLHA - D. Cláudio tem cada pé em um mundo, é isso?
PONDÉ
- Ao mesmo tempo que ele defende o Lula, faz um discurso de que a igreja tem razão em não aceitar o casamento de homossexuais. Ele fala as duas coisas na mesma frase. Quase parece o Tancredo Neves, tem inteligência política.

FOLHA - Isso é um sinal do papa para o Brasil?
PONDÉ
- Acho que sim. Um sinal de que ele está atento. É um sinal da sabedoria, de perceber que o Brasil não é um "colégio católico", como se falaria de "colégio eleitoral". D. Cláudio leva também informação confiável ao Vaticano, porque não é simplesmente alguém que rompeu com a igreja no momento em que ela começou a fazer a virada conservadora.

FOLHA - O sr. acha que a proximidade com o Lula pesou?
PONDÉ
- A igreja sempre teve sabedoria de buscar uma relação de sobrevivência, de parceria, com o poder secular. Se o [Geraldo] Alckmin tivesse ganho, haveria um canal com a igreja. Mas Lula ganhou, e a igreja continua capaz de estabelecer um canal.

FOLHA - D. Cláudio fala muito de eficiência na Igreja. O avanço dos pentecostais é o que motiva esse discurso?
PONDÉ
- Uma das coisas que talvez signifique a crise da Teologia da Libertação é que ela não conseguiu prever e também não impediu o pentecostalismo. O pentecostalismo deu um banho de competência de conversão, sem entrar no mérito ideológico. Quando você está falando de eficácia, esse é um dos problemas.


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