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Cardeal põe fim a trauma da igreja, diz professor
Para Luiz Pondé, d. Cláudio repara efeitos do papado de João Paulo 2º sobre o Brasil
Especialista afirma que
nomeação de cardeal desfaz
idéia de que a eleição de
Bento 16 significou "tapa
na cara" da América Latina
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Felipe Pondé é professor da pós-graduação em ciências da religião e do departamento de teologia da PUC-SP,
além de professor da Faap. Autor do livro "O Homem Insuficiente" (Edusp) e "Crítica e
Profecia - Filosofia da Religião
em Dostoiévski" (ed. 34), Pondé afirma que a ida de d. Cláudio ao Vaticano é sinal de que a
a Santa Sé resolveu curar um
"trauma" que havia entre a
igreja do Brasil e o papado.
(LB)
FOLHA - O que significa a ida de d.
Cláudio ao Vaticano?
LUIZ FELIPE PONDÉ - Acho que não
há dúvida de que há um movimento de aproximação com o
Brasil. Mas, veja: quando a gente fala de Igreja Católica, devemos sempre tomar cuidado. A
gente nunca sabe plenamente
nada sobre a igreja.
Porém, a passagem do
d. Cláudio para o Vaticano tem
uma dimensão clara: receber
um cardeal brasileiro num cargo importante é ajudar a desfazer um boato que circulou muito, de que a eleição de Bento 16
significava um tapa na cara da
América Latina. A ida de d.
Cláudio é uma reconstrução.
FOLHA - D. Cláudio diz que equilibrou a igreja em SP. É verdade?
PONDÉ - Ele sabe lidar com as
várias faces da igreja, inclusive
no sentido de curar esse trauma que a América Latina e o
Brasil ficaram por causa dos últimos anos do Vaticano com
João Paulo 2º. Trauma no sentido da exclusão da Teologia da
Libertação [teoria que embasou a esquerda católica].
FOLHA - D. Cláudio tem cada pé em
um mundo, é isso?
PONDÉ - Ao mesmo tempo que
ele defende o Lula, faz um discurso de que a igreja tem razão
em não aceitar o casamento de
homossexuais. Ele fala as duas
coisas na mesma frase. Quase
parece o Tancredo Neves, tem
inteligência política.
FOLHA - Isso é um sinal do papa para o Brasil?
PONDÉ - Acho que sim. Um sinal de que ele está atento. É um
sinal da sabedoria, de perceber
que o Brasil não é um "colégio
católico", como se falaria de
"colégio eleitoral". D. Cláudio
leva também informação confiável ao Vaticano, porque não é
simplesmente alguém que
rompeu com a igreja no momento em que ela começou a
fazer a virada conservadora.
FOLHA - O sr. acha que a proximidade com o Lula pesou?
PONDÉ - A igreja sempre teve
sabedoria de buscar uma relação de sobrevivência, de parceria, com o poder secular. Se o
[Geraldo] Alckmin tivesse ganho, haveria um canal com a
igreja. Mas Lula ganhou, e a
igreja continua capaz de estabelecer um canal.
FOLHA - D. Cláudio fala muito de
eficiência na Igreja. O avanço dos
pentecostais é o que motiva esse
discurso?
PONDÉ - Uma das coisas que
talvez signifique a crise da Teologia da Libertação é que ela
não conseguiu prever e também não impediu o pentecostalismo. O pentecostalismo deu um banho de competência de
conversão, sem entrar no mérito ideológico. Quando você está
falando de eficácia, esse é um
dos problemas.
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