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Brasil voltou a ser importante para o Vaticano, diz padre
José Oscar Beozzo afirma que nomeação de d. Cláudio mostra que Santa Sé resolveu normalizar relação com a igreja do país
Segundo especialista,
Bento 16 difere de João
Paulo 2º porque resolveu
que o país deveria voltar a
"jogar o jogo" da Santa Sé
DA REPORTAGEM LOCAL
O padre José Oscar Beozzo é
coordenador do Cesep (Centro
Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular)
e membro do Cehila (Centro de
Estudos de História da Igreja
na América Latina). Autor de
"A Igreja do Brasil", ele diz que
o papado de Bento 16 surpreende porque recolocou o Brasil no
"jogo" do Vaticano.
(LB)
FOLHA - O que significa a ida de d.
Cláudio para o "ministério" do papa?
JOSÉ OSCAR BEOZZO - A partir dos
anos 70, mudou a política da
igreja em relação ao Brasil. Saiu
o apoio e veio a contenção. As
nomeações, os cargos importantes em Roma, a presidência
do Celam (Conselho Episcopal
Latino-Americano) se deslocaram para as três igrejas nas
quais o Vaticano se apoiou, inclusive para frear o Brasil: Argentina, Colômbia e México. O
Brasil foi colocado a escanteio.
Hoje, dois elementos mostram uma mudança de rumo.
Um, ter trazido a 5ª Conferência Geral do Episcopado da
América Latina e do Caribe para o Brasil. O Brasil não pleiteou trazer a conferência para
cá, não tinha força. Foi o próprio papa que disse que colocava a conferência no Brasil, em
um gesto de dizer que o Brasil
volta a ser "player", chamado a
desempenhar papel mais estreito. O segundo fator, que
mostra com clareza esse processo de reaproximação, é a nomeação de d. Cláudio para um
cargo importante na Santa Sé.
FOLHA - Mas por que o arcebispo
de SP e não outro cardeal?
BEOZZO - D. Cláudio se tornou
uma figura próxima da Santa Sé
pelo trabalho que ele tinha na
CNBB quando se começou a
montar o Congresso Mundial
da Família [no Rio, em 1997,
quando João Paulo 2º veio ao
país]. Ele trabalhou muito estreitamente com o grupo então
hegemônico no Vaticano. Acho
que isso pesou. Ele se tornou
confiável. Quando foi nomeado
para SP, talvez imaginassem
que ele fosse mudar muito o rumo que d. Paulo Evaristo Arns
imprimiu, o que não aconteceu.
D. Cláudio se preocupa muito com a questão do trabalho, é
um bispo de pastoral, tem preocupação com as pessoas. Foi diferente de d. Paulo no sentido
da organização da igreja e com
a preocupação de mapear o que
a igreja estava fazendo na cidade. Resumindo, d. Paulo era como um regente de orquestra. D.
Cláudio é a orquestra. d. Paulo
descentralizou. D. Cláudio centralizou, inclusive na relação
com os bispos auxiliares, que
com d. Paulo eram praticamente bispos ordinários das regiões, com responsabilidades
no conjunto da Arquidiocese.
FOLHA - Bento 16 surpreendeu?
BEOZZO - Sim. Ele decidiu normalizar as relações com o Brasil. O papa tem confiança em d.
Cláudio, vai ser uma ponte entre o Brasil e o Vaticano, entre
os diferentes setores da igreja.
Com isso, o papa restabeleceu os laços institucionais, a
CNBB voltou a ser chamada para ter relações com o Vaticano.
Bento 16 busca um dialogo com
as igrejas, reconhecendo a importância das igrejas dos países, não é continuidade.
FOLHA - D. Cláudio diz que equilibrou as relações dentro da igreja de
São Paulo. Como ele é no dia-a-dia?
BEOZZO - É uma pessoa com
quem os progressistas conseguem conversar. É uma pessoa
que você pode procurar, falar.
Quando não concorda, ele vai te
dizer. Mas não exclui. Deu espaço para todos.
FOLHA - A igreja do Brasil se "enquadrou" aos moldes do Vaticano?
BEOZZO - Enquadrar não é a palavra. O episcopado de hoje não
é o de 30 anos atrás. Foi uma relação de 30 anos de tentativas.
João Paulo 2º nomeou 300 bispos no Brasil, substituiu o episcopado. Trocou e imprimiu a linha que hoje vigora.
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