São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Só confissão revela origem de dinheiro, diz PF

Polícia Federal e Ministério Público apuram suspeita de participação de Daniel Dantas e do presidente do PT de São Paulo

Banqueiro diz que versão não tem fundamento; petista Paulo Frateschi afirma que nunca lidou com arrecadação de recursos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A origem do cerca de R$ 1,7 milhão usado para a compra do dossiê contra políticos tucanos continua sem esclarecimento total. É a parte mais complicada da investigação, pois a Polícia Federal acredita que só uma confissão de um dos "aloprados" poderá solucionar o caso cabalmente.
No entanto, o delegado federal Diógenes Curado, responsável pelo inquérito do dossiegate, e o procurador da República Mário Lúcio Avelar, encarregado de investigar o escândalo das ambulâncias superfaturadas, suspeitam de dois novos personagens que teriam participado na arrecadação dos recursos. O banqueiro Daniel Dantas (grupo Opportunity) seria um dos contribuintes, e o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, uma espécie de centralizador de algumas fontes do dinheiro.
Essas suspeições dependem de mais investigações para serem confirmadas. É possível que o delegado federal, por exemplo, a prefira manter ainda em sigilo para evitar dar pistas a acusados.
Tanto Dantas como Frateschi negam envolvimento no caso da tentativa de compra do dossiê e dizem que a suspeita da PF é falsa e não tem fundamento. O presidente do PT de São Paulo diz que nunca trabalhou com arrecadação de recursos (leia texto nesta página).
A Folha apurou que informes de investigadores do Rio e de São Paulo levam a PF a acreditar que parte significativa dos reais que compunham o R$ 1,7 milhão estava fora de circulação havia algum tempo. Dantas teria uma grande reserva em moeda nacional para uso em operações dessa natureza, suspeitam os investigadores.
De acordo com a suspeita, Frateschi teria se disposto a ser um canal do banqueiro com o governo favorito à reeleição. Dantas teria interesse em reabrir portas para resolver seu conflito com a Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil _o banqueiro disputa com a Previ o controle acionário da Brasil Telecom, uma grande empresa de telefonia, e enfrentou a oposição de grupos dentro do primeiro mandato petista.
Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas, integrantes do "núcleo de inteligência" da campanha de Lula, disseram que o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antonio Vedoin, queria dinheiro em troca do dossiê e da entrevista contra Serra. Berzoini, então, teria contatado o presidente do PT paulista. Ambos teriam avaliado que valia a pena pagar pela denúncia.
A PF e o Ministério Público não sabem se o senador Aloizio Mercadante concordou com o pagamento. Em depoimento, o senador negou saber a origem do dinheiro e disse que não houve caixa dois em sua campanha. Afirmou que Hamilton Lacerda, o homem da mala segundo a investigação, não tinha atribuições de arrecadação.
Uma versão apurada pelos investigadores dá conta de que Lacerda teria sido apenas o transportador da quantia levantada sobretudo por Frateschi. Outra versão aponta participação mais ativa de Lacerda na captação dos recursos: entre 2 de agosto e 14 de setembro, ele trocou 15 ligações telefônicas com o gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa.
A PF não sabe qual teria sido o montante da eventual ajuda de Dantas. Suspeita do empresário por conta de informes que recebeu de investigações no Rio e em São Paulo.
Sobre Frateschi, a PF e o Ministério Público trabalham com indícios de que ele centralizou a arrecadação e de que o dinheiro teria mais de uma fonte. Na CPI, Valdebran Padilha deu uma pista de que o processo foi pulverizado ao dizer que o PT não conseguiu coletar os R$ 2 milhões acertados com os Vedoim.
Valdebran, preso ao lado de Gedimar passos em 15 de setembro com o R$ 1,7 milhão que seria destinado ao dossiê, é a principal esperança da PF e do Ministério Público para elucidar o caso, já que os dois órgãos avaliam que sem uma confissão de um dos envolvidos dificilmente tudo será descoberto. (KENNEDY ALENCAR)

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