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JANIO DE FREITAS
Bonitinha, mas ordinária
Como sempre neste governo, há
a versão oficial, bonitinha, que
prevalece na maioria dos jornais e
televisões. Sua origem nem sempre é palaciana. Em geral, provém
da interessante combinação das
imaginações palacianas com as
falsamente jornalísticas.
A parte mais recente do caso dos
grampos na versão bonitinha oferece uma gentil narrativa da demissão quádrupla. Um estalo indicou a Luiz Carlos Mendonça de
Barros que só com a sua e a demissão de André Lara Resende "isso
teria fim". "Isso" são as publicações pelos jornais e revistas. Lara
Resende dispôs-se a ceder à contra-argumentação de Fernando
Henrique, mas o outro Mendonça
de Barros, José Roberto, levantou
a resistência.
Argumento para a demissão: o
PFL e PMDB não defenderam
Luiz Carlos nem no Senado, e,
pior ainda, o teor das gravações
foi servido aos jornalistas por gente do próprio Planalto (parlamentares do PSDB têm dito que Luiz
Carlos lhes citou o nome de
Eduardo Jorge, outros dizendo
que ainda acrescentou o de Clóvis
Carvalho, do Gabinete Civil).
A versão oficial não resiste. André Lara Resende é, com toda certeza, o mais abalado pelo episódio. Mesmo sem conhecer as famílias dos demais, é possível ter certeza de que não podem estar mais
sensibilizadas que a de André. Sobre essa situação, recaíram os jornais e revistas do fim-de-semana.
E, com efeito particular, um achado cruel, como costumam ser esses
achados humorísticos, de Agamenon Mendes Pedreira, ficção esplêndida proveniente do esplêndido Casseta & Planeta.
Agamenon, parodiando o título
da peça de Nelson Rodrigues "Bonitinha mas Ordinária ou Otto
Lara Resende", lançou num alto
de página muito dominical: "Bonitinho mas ordinário ou André
Lara Resende". Alguém dizer, depois disso, que Lara Resende era o
disposto a continuar aceitando a
avalanche, e que a demissão era
puxada pelo arrogante Luiz Carlos, é mais do que pobreza de imaginação.
José Roberto demitiu-se em solidariedade ao irmão. Mas Luiz
Carlos Mendonça de Barros e André Lara Resende não saíram do
governo por causa do PFL ou do
PMDB, muito menos porque "o líder do governo no Senado, Élcio
Álvares, ficou de costas para Luiz
Carlos no Senado". Essa historieta é de um profundo ridículo. Os
dois se demitiram porque a cada
dia se viam comprometidos em
mais revelações e a cada dia se
mostravam menos capazes de
inocentar-se. Também a cada dia,
as consequências disso mais cresciam nos jornais.
Às versões que os governistas
têm que produzir, com frequência, não lhes falta, jamais, o pormenor desastroso. No caso, para
dar um reforço ao motivo fútil da
zanga dos demissionários com o
PFL e o PMDB, a versão oficial encampou a divulgação das fitas por
gente do Planalto. Foi o instante
de veracidade da versão bonitinha, mas ordinária. Esse instante,
porém, não se dissipará com a
mesma velocidade. Vai render.
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