São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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ELIO GASPARI

A primeira novidade do ano: a TungaNet


A primeira briga do ano será uma beleza. A Associação Brasileira de Provedores da Internet (Abranet) encrencou com o Bradesco, que está oferecendo aos seus correntistas acesso gratuito à rede mundial de computadores.
É tunga.
Os provedores da Internet sabem que o negócio de cobrar pelo simples acesso está com os dias contados. Antes do fim do próximo semestre o mercado brasileiro será atacado por empresas que prestarão esse serviço de graça, como acontece em boa parte da Europa. Quem tem amor à vida já está se preparando para parar de cobrar pelo acesso puro e simples, oferecendo serviços já existentes ou adicionais que os consumidores julguem valer o preço de uma assinatura.
Na Europa, os provedores dão acesso gratuito porque recebem das companhias telefônicas uma percentagem do custo das ligações pelas quais trafegam os seus internautas.
Nos Estados Unidos, onde as ligações locais são gratuitas, nem isso. A competição, essa alma bondosa do capitalismo, fez com que ainda assim alguns provedores resolvessem ir buscar o pedaço do mercado que não quer pagar mensalidade. Eles acreditam que podem ganhar dinheiro (e muito) com a publicidade que vendem em seus portais.
A Abranet condenou a provisão de acesso gratuito exatamente nos dias em que o mercado americano foi sacudido pelo anúncio de que a Juno (um dos maiores provedores dos Estados Unidos) deixaria de cobrar pela entrada na rede. Ao simples anúncio, as ações da empresa valorizaram-se em 130%. (Valiam US$ 1,1 bilhão.) A NetZero, que não cobra, diz que já se tornou o segundo provedor do país, com 2 milhões de assinantes. Só perde para a America Online. Seu valor de mercado chegou a US$ 3 bilhões. Outra empresa, a Freei.Net, está recebendo 150 mil novos clientes por dia.
O aparecimento dessa nova modalidade de serviço faz parte do jogo de bilhões que é hoje a Internet. As empresas não oferecem serviços gratuitos porque gostam mais dos clientes do que do seu dinheiro. Elas acreditam que o negócio não precisa cobrar mensalidades para viver.
É difícil entender que a Abranet queira convencer a choldra de que o serviço gratuito (do Bradesco ou de quem quer que seja) possa ser motivo de "inconformidade", "preocupação" e "desconforto". Para quem acredita que, de graça, até ônibus errado é bom, a simples proposição soa louca.
A associação de provedores sustenta que se o acesso se tornar gratuito, poderá destruir empresas que estão no mercado. Se o negócio dos internautas fosse preservar espécies, eles dariam o dinheiro da assinatura para ajudar a preservar o mico-leão.
Numa segunda linha de raciocínio, a Abranet argumenta que enquanto as telefônicas-espelho não estiverem funcionando, as atuais concessionárias poderão negociar em condições monopolísticas os rebates das ligações que os provedores canalizam. Pode ter razão.
Se o problema é esse, o caminho é o da denúncia das telefônicas, por práticas desleais. Vai uma diferença muito grande entre isso e o que ela quer. Uma coisa é saudar a chegada do acesso gratuito e combater as deslealdades. Bem outra é condenar o acesso gratuito e continuar cobrando as assinaturas sob o argumento de que o acerto da Telefônica com o Bradesco é impertinente. Isso cheira a manobra dilatória. Fecha-se o mercado por mais uns meses, com o único propósito de ajudar a quem cobra e, depois, sai-se de fininho.
Os internautas brasileiros devem à Abranet e ao falecido ministro Sérgio Motta a luta contra os embratecas que pretendiam transformar o acesso num monopólio estatal (procurando inibi-lo, porque temiam que a rede fizesse concorrência à telefonia). A existência dessa associação só fez bem aos consumidores. É uma pena que ela queira impedir que alguém dê de graça aquilo que outro cobra. Se conseguir, deve mudar de nome. TungaNet seria uma boa idéia.

Saraminda


José Sarney decidiu poupar a vida de Saraminda. Ela é uma negra linda, de olhos verdes e bicos dos seios amarelos como ouro. Seu nome dá o título ao novo romance do ex-presidente. O livro está pronto, com 400 páginas, mas Sarney está cortando os advérbios e os "adjetivos que não foram convidados". Espera deixá-lo com 280 páginas.
Quando o senador começou a escrevê-lo, estava certo de que Saraminda morria no fim, degolada por Serapião, um garimpeiro que a comprou em Caiena por dez quilos de ouro. Esse seria o preço de suas infidelidades e seu sangue serviria para alimentar a lenda dos garimpeiros, certos de que ele chama o ouro.
Para escrever Saraminda, Sarney meteu-se nos garimpos da fronteira com a Guiana, com caderno de notas, gravador e máquina fotográfica.
O livro deve sair em abril.
Há uma certa implicância com a literatura de Sarney. Ainda não se conhece o texto de Saraminda, mas nunca é demais lembrar que seu último romance, "O Dono do Mar", foi recebido tepidamente no Brasil e hoje, traduzido em seis idiomas, carrega críticas entusiasmadas de leitores como o antropólogo Claude Lévi-Strauss e o escritor francês Alain Peyrefitte.

O Golpe da Menoridade


Quando o petista Tarso Genro propôs que fossem convocadas novas eleições presidenciais para que os brasileiros escolhessem um substituto para FFHH, ele foi chamado (inclusive aqui) de golpista.
A proposta de Tarso Genro era golpista, mas tinha a seu favor o argumento de que exigiria a votação de uma emenda constitucional pelo Congresso. Portanto, se golpe houvesse, seria parlamentar.
O governo lavou-se em água de rosas ao ver que a idéia da oposição foi repudiada. Pois agora é ele mesmo quem está propondo a abertura do debate parlamentarista.
É duplamente golpista.
Primeiro, porque o povo brasileiro já repudiou o parlamentarismo duas vezes, ambas em plebiscitos.
Segundo, porque se o parlamentarismo fosse uma coisa tão boa, devia-se convocar o terceiro plebiscito para a semana que vem, comendo-se um pedaço do mandato presidencialista de FFHH.
O golpismo parlamentarista é um expediente destinado a manter a coligação tucano-pefelê no poder. Ofende a inteligência das pessoas que defendem sinceramente o regime parlamentar.
É a velha mão de gato do andar de cima. Durante a última revisão constitucional, quando Luiz Inácio Lula da Silva estava com 40% nas pesquisas de opinião, encurtou-se o mandato do presidente da República de cinco para quatro anos. Eleito FFHH, começou-se a dizer que a reeleição era necessária porque o mandato era curto.
Agora, a mesma turma tem diante de si o dilema da incompatibilidade de gênios. Suas bancadas no Congresso podem fazer coligações, mas está difícil conseguir um candidato capaz de unir as duas tribos e ganhar a eleição. Para preservar o poder, querem mudar o regime.
Nesse tipo de negócio, o governo deveria pisar fundo. Não basta o parlamentarismo. Deve-se proclamar a monarquia, entregar a coroa ao professor Cardoso, pedir-lhe que cresça a barba e governe com o parlamentarismo do Império. A turma da escravatura começou a se arrumar em 1840, quando deu o Golpe da Maioridade. Graças a ele, D. Pedro 2º foi decretado adulto aos 14 anos. Agora articula-se o Golpe de Menoridade, decretando que o povo brasileiro, por infantil, não pode eleger o presidente da República quando há o risco da coligação tucano-pefelê ter que sair do governo. (Quando não há esse risco, defendem a reeleição.)

Coisa séria


Na manhã do último dia 3, uma senhora chegou a Monte Carlo, voltando de viagem e foi cuidar de sua conta bancária no banco Republic. Descendo a escarpa do principado, viu um incêndio num prédio que julgou ser o do hotel Hermitage. Ao chegar ao Republic, percebeu que estava isolado pela polícia. Não tinha a menor idéia do que estava acontecendo.
Explicou a um policial que precisava ir ao banco e ele lhe disse que a agência estava fechada. Subitamente, saindo do nada, apareceu um senhor de terno, falando inglês (sem razão para isso, porque ela falava francês). Pediu-lhe que o acompanhasse.
Andaram algumas centenas de metros e ele a deixou na porta de outra agência do banco. Lá a senhora foi informada que, devido ao incêndio poderia sacar até US$ 100 mil. (Ninguém lhe mencionou o fato do dono do banco, Edmond Safra, ter morrido.)
Evidentemente, não havia limite para depósitos.

A segunda lista da turma 10 do Enem


Aqui vai a segunda lista dos estudantes que tiraram 10 na prova de redação do Enem e pediram que isso fosse registrado, sobretudo porque se noticiou aqui que nenhum dos 315 mil jovens que fizeram a prova conseguiu semelhante sucesso:
Alice Caroline Santos Prado, do colégio Delta, de Goiânia.
Ana Silvia Meira, do Santa Maria, de Santa Maria (RS).
Cibele Lourdes dos Santos, do Universo, de Praia Grande (SP).
David Carletti Levy, Centro Federal de Educação Tecnológica, do Rio.
Diego Luiz Boava, de Itatiba (SP).
Felipe Costa Fuchs, do Farroupilha, de Porto Alegre.
Fabiano Jesus de Souza, do José de Anchieta, de Vila Prudente, São Paulo. O cachorro dele comeu um naco do boletim, mas poupou o pedaço onde estava a nota.
Fernanda Zuffellato, do Bandeirante, de São Paulo.
Gabriela Andrade Vasques, do Crummond, de Lorena, SP. (9,5 em conhecimentos gerais.)
Gisele Moriel, do Objetivo, de Santo André (SP).
Jorge Luís Oliveira Tostes. Tem 37 anos, mora em Bauru (SP) e concluiu o curso médio em 1980, no Instituto de Educação Governador Roberto Silveira, de Caxias, RJ. (9,4 em conhecimentos gerais.)
José Borbolla Neto, do Bandeirantes, de São Paulo.
Leonardo Lage Bertschinger, do Farroupilha, de Porto Alegre.
Manoel Moacir Rocha Farias Junior, do Sete de Setembro, de Fortaleza.
Marco Antonio Cochar Pisani, Liceu de Artes e Ofícios, de São Paulo.
Milton Minoru Miyamoto, de São Paulo.
Paulo Roberto de Morais Almeida, tinha concluído o curso secundário há 12 anos, na Escola Estadual Antonio Lordello, em Limeira (SP). Fez vestibular para direito na USP e, com as notas do Enem, elevou sua média de 104 para 112,1, o que praticamente lhe assegurou a aprovação. (Teve 9,0 na prova de conhecimentos.)
Renata Yuri Takemura, do Rainha dos Apóstolos, São Paulo.
Renato Antunes dos Santos, Curso Anglo, de Tatuí (SP).
Tamara Rangel Vieira, Colégio Pedro 2º, do Rio.
Tatiana Lisita Ribera, do Disciplina, de Goiânia.
Thaís Maria Novellino Natale, do Colégio São Paulo, São Paulo.
Thiago Jung Bauermann, do Marista, de Curitiba. (9,5 em conhecimentos).
Tiago Rodrigues de Oliveira, do Colégio Militar, de Porto Alegre. (9,0 em conhecimentos gerais.)
Wagner Hosokawa, da Escola Estadual Conselheiro Crispiniano, de Guarulhos (SP).
Karin Ribeiro Nascimento Cardoso, do Rio, não tirou 10. Tem 16 anos e ficou com 9,5, mas sua mãe, Maria Marta Nascimento, ficou de tal maneira orgulhosa da filha, que não custa nada acrescentá-la à lista. Karin tem um sonho: conhecer o jornalista Ziraldo. Tomara que consiga.


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