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SÃO PAULO
Nossa Caixa fez propaganda com duas agências sem contrato; Promotoria apura suposto favorecimento a deputados
Publicidade de banco estadual é investigada
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo vai investigar a suspeita de favorecimento, por meio
da veiculação de publicidade da
Nossa Caixa, a deputados estaduais alinhados com o governador tucano Geraldo Alckmin.
O suposto esquema foi apontado em denúncia anônima ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo
César Rebello Pinho, sobre irregularidades na publicidade do
único banco público estadual.
Durante um ano e nove meses, a
Nossa Caixa operou com duas
agências de publicidade sem contrato firmado. Uma sindicância
interna -aberta há cinco meses
pela direção do banco- ainda
não apontou os responsáveis pela
situação irregular dos contratos
com as agências Colucci & Associados Propaganda Ltda. e a Full
Jazz Comunicação e Propaganda
Ltda. Juntas, elas respondiam por
uma conta de R$ 28 milhões.
A denúncia recebida pelo Ministério Público sugere a investigação de dois pontos: a) as agências sacariam dinheiro adiantado
da verba de publicidade do Estado; b) deputados alinhados com o
governo paulista, ligados a revistas e a emissoras de rádio e de TV,
teriam sido beneficiados na distribuição de recursos para publicidade do banco.
A instituição nega as práticas
apontadas e refuta a suspeita de
favorecimento a parlamentares
para reforçar o apoio a Alckmin.
Mas não permitiu o acesso aos
documentos da sindicância.
O presidente da Nossa Caixa,
Carlos Eduardo Monteiro, diz que
não recebeu nenhuma solicitação
do Palácio dos Bandeirantes para
beneficiar parlamentares. "Eu recebo muitos deputados e prefeitos, mas a interferência do governador aqui é zero", afirmou.
"Houve um desarranjo administrativo, isso não poderia acontecer. É uma irregularidade formal séria", disse Monteiro, ao comentar a questão dos contratos.
Ele afirmou que, ao tomar conhecimento da distorção, em junho,
pediu imediatamente uma auditoria interna para levantar os gastos de publicidade: "Não há despesas não justificadas nem despesas acima dos padrões."
Os contratos com as duas agências venceram em setembro de
2003. Até julho último, quando
suspendeu os serviços, o banco
promoveu seus produtos, com a
Full Jazz, e sua imagem institucional, com a Colucci, sem a prorrogação formal dos contratos e sem
realizar uma nova licitação. Em
junho, os serviços da Full Jazz totalizaram R$ 1,5 milhão e os da
Colucci, R$1,4 milhão.
A Colucci questiona na Justiça o
rompimento e nega as acusações
da denúncia. A Full Jazz, procurada pela Folha, não se manifestou.
O procurador-geral Rebello Pinho confirmou que a denúncia foi
distribuída à Promotoria da Cidadania. O Ministério Público vai
pedir informações à Nossa Caixa
e requisitar cópia da sindicância
interna. "Ainda não dá para fazer
nenhum juízo de valor", disse Rebello Pinho.
O Ministério Público Estadual
foi alertado para a circunstância
de que Monteiro poderia estar
agindo como investigador e investigado, pois foi diretor-jurídico do banco, de janeiro a outubro
de 2004, antes de assumir a presidência. A informação anônima
aos procuradores relata que o gerente de Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior, afastado do cargo por Monteiro, teria
avisado várias vezes o atual presidente e seu antecessor, Valderi
Frota de Albuquerque, de que os
contratos estavam vencidos, circunstância que teria sido ignorada por ambos.
"Eu tento não interferir na sindicância, até porque ele [Castro
Júnior] é vinculado a mim", diz
Monteiro. A denúncia ao Ministério Público Estadual sugere que o
gerente de marketing poderá ser
apontado como único responsável, espécie de "bode expiatório".
O presidente da Nossa Caixa diz
que aguarda o resultado da sindicância. "Mas, aparentemente, a
responsabilidade é dele, pois ele
era o gestor do contrato."
Castro Júnior foi procurado pela Folha e se recusou a informar
os argumentos da defesa que ofereceu à comissão de sindicância.
Albuquerque não foi localizado.
Em 29 de junho, Monteiro distribuiu à diretoria circular sobre
"fato grave que está acontecendo
em contratos de prestação de serviços cuja alçada é de nossa diretoria". No documento, relatou
que recebera pedido para encontro com Castro Júnior em um hotel. Disse que o gerente, acompanhado de uma funcionária, estava
"transtornado" quando lhe informou que os contratos estavam
vencidos e que, "apesar das iniciativas para para sua prorrogação
antes do vencimento", os atos formais não haviam sido adotados
("submissão às alçadas competentes para aprovação, formalização dos respectivos instrumentos,
publicação, encaminhamento ao
TCE etc.", revela o documento).
Monteiro pediu a presença no
local de um diretor da Nossa Caixa. Dias depois, afastou Castro Júnior e a funcionária, instituiu comissão de inquérito e determinou
suspender a prestação de serviços
pelas agências e o pagamento de
serviços já prestados, até a realização de estudos. E mandou providenciar a elaboração de edital para contratar novas agências, com
recursos ampliados para R$ 40
milhões (R$ 23 milhões para a publicidade comercial e R$ 17 milhões para a publicidade institucional e legal).
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