São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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Desigualdade também afeta elite brasileira

DA SUCURSAL DO RIO

Sob a denominação de 10% mais ricos do Brasil estão desde trabalhadores de classe média baixa com rendimento médio mensal de R$ 1.540 até aqueles que apresentam um rendimento médio próximo de R$ 9.480. Ou seja, mesmo na "elite" do país, há desigualdades brutais.
Uma maneira de verificar essa desigualdade é imaginar que o Brasil fosse composto apenas desses 10% de trabalhadores mais ricos. Sobraria, então, apenas cerca de 18 milhões de pessoas. Mesmo assim, seria um país desigual.
"Cada subconjunto da sociedade brasileira reproduz o desenho da desigualdade de todo o país. A sociedade brasileira tem mecanismos de reprodução cotidiana da desigualdade que afetam tanto os decis de menor quanto os de maior renda. Dentro dos 10% mais ricos, um trabalhador com rendimento de R$ 1.500 vai ter um acesso à Justiça, por exemplo, totalmente diferenciado daquele cujo rendimento é de quase R$ 10.000", afirma o economista Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE e diretor de informações geográficas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos.
Besserman alerta, no entanto, que captar a renda das pessoas em pesquisas domiciliares é um desafio em qualquer lugar do mundo: "As pesquisas domiciliares do IBGE são excelentes e confiáveis, mas há sempre uma dificuldade grande de pesquisar a renda tanto no estrato mais alto quanto no mais baixo. Em ambos os casos, a maior dificuldade é captar a renda que não vem do trabalho assalariado".
Para o economista Marcio Pochmann, da Unicamp, há uma grande subestimação da renda dos mais ricos porque boa parte dela vem de fontes como lucros, venda ou aluguel de imóveis ou investimentos. "Os ricos não estão na Pnad, e isso não é culpa do IBGE. É mais difícil ter certeza da renda auferida por outras fontes que não o trabalho", diz Pochmann, que coordenou um estudo sobre os ricos no Brasil dentro do projeto Atlas da Exclusão Social.
Nesse estudo, estimou-se que aproximadamente 20 mil famílias no Brasil possuem algo em torno de 80% dos títulos públicos federais. Essa concentração, segundo Pochmann, prejudicou também a classe média, parte significativa desse contingente de 10% mais ricos, beneficiando apenas os estratos extremamente ricos.
"A diminuição do papel do Estado e o processo de financeirização da economia afetaram os empregos da classe média. Com isso, se forma uma maioria política dos extremamente pobres, que recebem recursos do governo, com os extremamente ricos, que são os mais beneficiados com os juros altos, ao mesmo tempo em que diminui o peso da classe média."
A constituição da riqueza brasileira a partir do mercado financeiro também concentra a riqueza nos Estados mais ricos do Brasil, especialmente em São Paulo. "São Paulo tem seis em cada dez ricos no Brasil. É aqui que estão a bolsa de valores e os bancos."


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