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Desigualdade também afeta elite brasileira
DA SUCURSAL DO RIO
Sob a denominação de 10%
mais ricos do Brasil estão desde
trabalhadores de classe média
baixa com rendimento médio
mensal de R$ 1.540 até aqueles
que apresentam um rendimento
médio próximo de R$ 9.480. Ou
seja, mesmo na "elite" do país, há
desigualdades brutais.
Uma maneira de verificar essa
desigualdade é imaginar que o
Brasil fosse composto apenas desses 10% de trabalhadores mais ricos. Sobraria, então, apenas cerca
de 18 milhões de pessoas. Mesmo
assim, seria um país desigual.
"Cada subconjunto da sociedade brasileira reproduz o desenho
da desigualdade de todo o país. A
sociedade brasileira tem mecanismos de reprodução cotidiana da
desigualdade que afetam tanto os
decis de menor quanto os de
maior renda. Dentro dos 10%
mais ricos, um trabalhador com
rendimento de R$ 1.500 vai ter um
acesso à Justiça, por exemplo, totalmente diferenciado daquele
cujo rendimento é de quase R$
10.000", afirma o economista Sérgio Besserman, ex-presidente do
IBGE e diretor de informações
geográficas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos.
Besserman alerta, no entanto,
que captar a renda das pessoas em
pesquisas domiciliares é um desafio em qualquer lugar do mundo:
"As pesquisas domiciliares do
IBGE são excelentes e confiáveis,
mas há sempre uma dificuldade
grande de pesquisar a renda tanto
no estrato mais alto quanto no
mais baixo. Em ambos os casos, a
maior dificuldade é captar a renda
que não vem do trabalho assalariado".
Para o economista Marcio
Pochmann, da Unicamp, há uma
grande subestimação da renda
dos mais ricos porque boa parte
dela vem de fontes como lucros,
venda ou aluguel de imóveis ou
investimentos. "Os ricos não estão na Pnad, e isso não é culpa do
IBGE. É mais difícil ter certeza da
renda auferida por outras fontes
que não o trabalho", diz Pochmann, que coordenou um estudo
sobre os ricos no Brasil dentro do
projeto Atlas da Exclusão Social.
Nesse estudo, estimou-se que
aproximadamente 20 mil famílias
no Brasil possuem algo em torno
de 80% dos títulos públicos federais. Essa concentração, segundo
Pochmann, prejudicou também a
classe média, parte significativa
desse contingente de 10% mais ricos, beneficiando apenas os estratos extremamente ricos.
"A diminuição do papel do Estado e o processo de financeirização da economia afetaram os empregos da classe média. Com isso,
se forma uma maioria política dos
extremamente pobres, que recebem recursos do governo, com os
extremamente ricos, que são os
mais beneficiados com os juros
altos, ao mesmo tempo em que
diminui o peso da classe média."
A constituição da riqueza brasileira a partir do mercado financeiro também concentra a riqueza
nos Estados mais ricos do Brasil,
especialmente em São Paulo. "São
Paulo tem seis em cada dez ricos
no Brasil. É aqui que estão a bolsa
de valores e os bancos."
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