São Paulo, terça, 27 de janeiro de 1998.



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COMENTÁRIO
Atraso foi 'conveniente'

MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Ciência

Prevista para o começo de dezembro passado, a divulgação dos dados sobre o desmatamento da Amazônia foi protelada pelo governo devido a pelo menos dois motivos: a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Reino Unido e a conferência das Nações Unidas sobre o aquecimento global, em Kyoto, no Japão.
Em Londres, no dia 4 de dezembro, FHC anunciou ao governo britânico que pretende até o ano 2000 fazer com que 10% das florestas brasileiras sejam transformadas em áreas protegidas por lei.
Parte dos desmatamentos corresponde a queimadas, que emitem gases responsáveis pelo aquecimento do planeta. Os dados de queimadas da Amazônia em 1997 foram dos maiores dos últimos anos.
A estratégia protelatória consistiu em segurar os dados de desmatamentos referentes a 1995 (29.059 km2) e 1996 (18.161 km2), nitidamente desconfortáveis, para apresentá-los com a projeção obtida para 1997 (13.037 km2), vendendo a notícia de que a devastação diminuiu.
O recorde de desmatamento anual na região, correspondente a 1995, não é o único dado preocupante no anúncio de ontem. Em apenas três anos de governo FHC, ocorreram cerca de 10% de todos os desmatamentos da Amazônia desde o descobrimento do Brasil.
E, além de tudo isso, uma constrangedora comparação: de conversa em conversa do governo, a cada vez que anuncia os índices de desmatamento da Amazônia, chegamos a uma área desflorestada na região quase do tamanho da França, que tem 551 mil km2.



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