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COMENTÁRIO
Atraso foi 'conveniente'
MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Ciência
Prevista para o começo de dezembro passado, a divulgação
dos dados sobre o desmatamento da Amazônia foi protelada pelo governo devido a pelo
menos dois motivos: a visita do
presidente Fernando Henrique
Cardoso ao Reino Unido e a
conferência das Nações Unidas
sobre o aquecimento global,
em Kyoto, no Japão.
Em Londres, no dia 4 de dezembro, FHC anunciou ao governo britânico que pretende
até o ano 2000 fazer com que
10% das florestas brasileiras sejam transformadas em áreas
protegidas por lei.
Parte dos desmatamentos
corresponde a queimadas, que
emitem gases responsáveis pelo aquecimento do planeta. Os
dados de queimadas da Amazônia em 1997 foram dos maiores dos últimos anos.
A estratégia protelatória consistiu em segurar os dados de
desmatamentos referentes a
1995 (29.059 km2) e 1996
(18.161 km2), nitidamente desconfortáveis, para apresentá-los com a projeção obtida
para 1997 (13.037 km2), vendendo a notícia de que a devastação diminuiu.
O recorde de desmatamento
anual na região, correspondente a 1995, não é o único dado preocupante no anúncio de
ontem. Em apenas três anos de
governo FHC, ocorreram cerca
de 10% de todos os desmatamentos da Amazônia desde o
descobrimento do Brasil.
E, além de tudo isso, uma
constrangedora comparação:
de conversa em conversa do
governo, a cada vez que anuncia os índices de desmatamento da Amazônia, chegamos a
uma área desflorestada na região quase do tamanho da
França, que tem 551 mil km2.
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