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Chanceler brasileiro, em discurso em Davos, afirma que "papel do governo é governar", e não "agradar o mercado financeiro"
Mercado não deve ser adulado, diz Amorim
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez uma
dura crítica ao neoliberalismo em
sua participação no Fórum Social
Mundial, em Davos, na Suíça, justamente o local que mais concentra defensores do regime pró-mercado numa reunião anual.
"A receita neoliberal já se sabe
que simplesmente não funciona.
Acho que nós não temos que ter a
preocupação de ficar agradando
ao mercado. Acho que temos de
fazer as coisas certas. Se nós fizermos as coisas certas, o mercado
vai compreender e vai agir de maneira correta", disse durante uma
entrevista na manhã de ontem.
Completou dizendo como deve
ser o comportamento do governo: "Não podemos ficar a cada
minuto procurando adular o
mercado. Isso não é o papel do
governo. O papel do governo é
governar".
O chanceler brasileiro fazia um
relato sobre os encontros bilaterais mantidos pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em Davos. O presidente ainda não havia
discursado, mas já havia decidido
incluir em seu discurso a proposta de criação de um fundo internacional para combater a fome.
As declarações de Amorim funcionaram com uma espécie de defesa preventiva da idéia que seria
em seguida apresentada por Lula.
"Nós temos reenfatizado que as
políticas macroeconômicas serão
saudáveis. O ministro [Antonio"
Palocci está aí e tem dito tudo
com muita clareza", declarou.
Esse tipo de comentário, vindo
de um diplomata, não era comum
durante o governo anterior, de
Fernando Henrique Cardoso. Para sustentar sua tese de que o governo não deve "adular" o setor
financeiro, disse que "o mercado
tinha reagido de uma maneira negativa" quando foi anunciado o
programa Fome Zero, quando
Amorim ainda servia como embaixador do Brasil em Londres.
"Logo depois o mercado compreendeu que não era assim. Que
a sustentabilidade social é importante", disse.
Ele criticou indiretamente o
modelo econômico mexicano, de
grande integração com os EUA.
Para ele, o sistema desse país latino-americano deve ser julgado
pelos mexicanos. "Mas não precisamos achar que necessariamente
o que é bom para o México é bom
para o Brasil, não é?"
O presidente mexicano, Vicente
Fox, havia discursado no dia anterior e Amorim diz ter notado que
algumas experiências mexicanas
não funcionam muito bem: "Ele
[Fox] próprio mencionou ontem
[anteontem] o fato de que muitas
empresas que haviam investido
no México -pelo que eu entendi
são as maquiladoras- fugiram
para a China, atraídas por outros
incentivos".
Para Celso Amorim, é necessário que os investimentos tenham
raízes no país. "Hoje em dia, não
são só os capitais financeiros que
são voláteis. Esses investimentos
industriais também podem ser",
afirmou o chanceler.
Encontros bilaterais
Ao longo do dia, o presidente
Lula teve vários encontros bilaterais com autoridades governamentais de outros países. Falou
com o rei da Jordânia, com a presidenta da Finlândia, com o presidente da Federação Suíça e com o
primeiro-ministro da Ucrânia.
Todas essas reuniões foram fechadas e a imprensa não teve
acesso direto. Celso Amorim disse que o objetivo principal foi estabelecer um contato inicial para
que "os líderes possam se conhecer". Pouco ou nada de concreto
foi acertado.
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