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São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

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Chanceler brasileiro, em discurso em Davos, afirma que "papel do governo é governar", e não "agradar o mercado financeiro"

Mercado não deve ser adulado, diz Amorim

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez uma dura crítica ao neoliberalismo em sua participação no Fórum Social Mundial, em Davos, na Suíça, justamente o local que mais concentra defensores do regime pró-mercado numa reunião anual.
"A receita neoliberal já se sabe que simplesmente não funciona. Acho que nós não temos que ter a preocupação de ficar agradando ao mercado. Acho que temos de fazer as coisas certas. Se nós fizermos as coisas certas, o mercado vai compreender e vai agir de maneira correta", disse durante uma entrevista na manhã de ontem.
Completou dizendo como deve ser o comportamento do governo: "Não podemos ficar a cada minuto procurando adular o mercado. Isso não é o papel do governo. O papel do governo é governar".
O chanceler brasileiro fazia um relato sobre os encontros bilaterais mantidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Davos. O presidente ainda não havia discursado, mas já havia decidido incluir em seu discurso a proposta de criação de um fundo internacional para combater a fome.
As declarações de Amorim funcionaram com uma espécie de defesa preventiva da idéia que seria em seguida apresentada por Lula. "Nós temos reenfatizado que as políticas macroeconômicas serão saudáveis. O ministro [Antonio" Palocci está aí e tem dito tudo com muita clareza", declarou.
Esse tipo de comentário, vindo de um diplomata, não era comum durante o governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. Para sustentar sua tese de que o governo não deve "adular" o setor financeiro, disse que "o mercado tinha reagido de uma maneira negativa" quando foi anunciado o programa Fome Zero, quando Amorim ainda servia como embaixador do Brasil em Londres. "Logo depois o mercado compreendeu que não era assim. Que a sustentabilidade social é importante", disse.
Ele criticou indiretamente o modelo econômico mexicano, de grande integração com os EUA. Para ele, o sistema desse país latino-americano deve ser julgado pelos mexicanos. "Mas não precisamos achar que necessariamente o que é bom para o México é bom para o Brasil, não é?"
O presidente mexicano, Vicente Fox, havia discursado no dia anterior e Amorim diz ter notado que algumas experiências mexicanas não funcionam muito bem: "Ele [Fox] próprio mencionou ontem [anteontem] o fato de que muitas empresas que haviam investido no México -pelo que eu entendi são as maquiladoras- fugiram para a China, atraídas por outros incentivos".
Para Celso Amorim, é necessário que os investimentos tenham raízes no país. "Hoje em dia, não são só os capitais financeiros que são voláteis. Esses investimentos industriais também podem ser", afirmou o chanceler.

Encontros bilaterais
Ao longo do dia, o presidente Lula teve vários encontros bilaterais com autoridades governamentais de outros países. Falou com o rei da Jordânia, com a presidenta da Finlândia, com o presidente da Federação Suíça e com o primeiro-ministro da Ucrânia.
Todas essas reuniões foram fechadas e a imprensa não teve acesso direto. Celso Amorim disse que o objetivo principal foi estabelecer um contato inicial para que "os líderes possam se conhecer". Pouco ou nada de concreto foi acertado.


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