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Presidente ouve conselhos de Dirceu
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em encontro sigiloso que manteve com Luiz Inácio Lula da Silva
há cerca de uma semana, José Dirceu sugeriu ao presidente uma
providência de impacto: o afastamento de Henrique Meirelles da
presidência do Banco Central. Seria, na opinião de Dirceu, uma
maneira de deixar claro que o governo promoverá em 2006 um vigoroso crescimento da economia.
Lula e Dirceu conversaram na
Granja do Torto. Jantaram a sós.
Colocaram a conversa em dia.
Não se viam desde outubro do
ano passado.
Lula ouviu mais do que falou.
Trocaram impressões sobre a sucessão presidencial. Coordenador
da vitoriosa campanha de Lula
em 2002, o ex-ministro deu conselhos ao ex-chefe. Antes de viajar
para a Venezuela, onde participa
do Fórum Social Mundial, Dirceu
reproduziu detalhes da conversa
para pelo menos dois amigos.
Contou ter recomendado a Lula
que se concentre na economia.
Acha que este será o tema central
da campanha. Mais importante
do que a discussão sobre ética e
moral. Acha que Lula irá recuperar rapidamente o prestígio no
instante em que o eleitor perceber
que o governo será capaz de prover crescimento econômico.
De acordo com o relato feito por
Dirceu a seus amigos, ele disse a
Lula que não basta incluir a promessa de crescimento num programa de governo para o próximo mandato. Avalia que é preciso
promover mudanças já na atual
gestão. A começar pela política
fiscal. Na avaliação do ex-deputado, os juros transformaram-se
numa espécie de fetiche nacional.
E Henrique Meirelles seria, no
imaginário nacional, o grande vilão dos juros altos.
O melhor momento para a mudança, na opinião de Dirceu, seria
o mês de fevereiro, quando Lula
planeja fazer uma reforma ministerial, substituindo os auxiliares
que serão candidatos.
Ao relatar a conversa para os
amigos, Dirceu disse que Lula
concordou com a avaliação de
que o governo precisa adotar imediatamente a linha desenvolvimentista. Mas não informou qual
foi a resposta à sugestão de demissão de Henrique Meirelles.
Quanto à avaliação do quadro
político, Dirceu e Lula puseram-se de acordo em dois pontos: 1) o
principal adversário do PT será
mesmo o PSDB; 2) entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, avaliaram que o
primeiro seria mais fácil de ser batido. Alckmin, como é menos conhecido, encarnaria mais facilmente a imagem do "novo". Serra
seria mais facilmente identificável
com o "velho", representado pela
gestão de Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002), à qual serviu como ministro do Planejamento e da Saúde.
Lula revelou-se preocupado durante a conversa com o teor do livro que Dirceu está escrevendo
em parceria com o jornalista e escritor Fernando Morais. O ex-ministro o tranqüilizou. Disse que já
não tem tanta certeza de que o livro sairá. De resto, comprometeu-se a ajudar Lula na estruturação de sua campanha à reeleição.
Anistia
Antes de viajar para a Venezuela, Dirceu reuniu-se com advogados e amigos para articular um
projeto de lei de anistia para anular os efeitos da cassação do seu
mandato. O ex-ministro move-se
nas frentes jurídica e política.
No front jurídico, pediu aos advogados que apressem os estudos
sobre a viabilidade do projeto. Na
frente política, quer a coleta de pelo menos um milhão de assinaturas de apoio à proposta, que chegaria ao Congresso como uma
iniciativa popular.
O grosso das assinaturas será
coletado, segundo Dirceu informou ao grupo, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra).
Dirceu revelou aos amigos que
já conversou a respeito do assunto com o principal líder do MST,
João Pedro Stedile. A julgar pelo
que disse o ex-ministro, Stedile teria se comprometido a obter as
assinaturas para o projeto.
Josias de Souza escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" no endereço
www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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