São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente ouve conselhos de Dirceu

JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em encontro sigiloso que manteve com Luiz Inácio Lula da Silva há cerca de uma semana, José Dirceu sugeriu ao presidente uma providência de impacto: o afastamento de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central. Seria, na opinião de Dirceu, uma maneira de deixar claro que o governo promoverá em 2006 um vigoroso crescimento da economia.
Lula e Dirceu conversaram na Granja do Torto. Jantaram a sós. Colocaram a conversa em dia. Não se viam desde outubro do ano passado.
Lula ouviu mais do que falou. Trocaram impressões sobre a sucessão presidencial. Coordenador da vitoriosa campanha de Lula em 2002, o ex-ministro deu conselhos ao ex-chefe. Antes de viajar para a Venezuela, onde participa do Fórum Social Mundial, Dirceu reproduziu detalhes da conversa para pelo menos dois amigos.
Contou ter recomendado a Lula que se concentre na economia. Acha que este será o tema central da campanha. Mais importante do que a discussão sobre ética e moral. Acha que Lula irá recuperar rapidamente o prestígio no instante em que o eleitor perceber que o governo será capaz de prover crescimento econômico.
De acordo com o relato feito por Dirceu a seus amigos, ele disse a Lula que não basta incluir a promessa de crescimento num programa de governo para o próximo mandato. Avalia que é preciso promover mudanças já na atual gestão. A começar pela política fiscal. Na avaliação do ex-deputado, os juros transformaram-se numa espécie de fetiche nacional. E Henrique Meirelles seria, no imaginário nacional, o grande vilão dos juros altos.
O melhor momento para a mudança, na opinião de Dirceu, seria o mês de fevereiro, quando Lula planeja fazer uma reforma ministerial, substituindo os auxiliares que serão candidatos.
Ao relatar a conversa para os amigos, Dirceu disse que Lula concordou com a avaliação de que o governo precisa adotar imediatamente a linha desenvolvimentista. Mas não informou qual foi a resposta à sugestão de demissão de Henrique Meirelles.
Quanto à avaliação do quadro político, Dirceu e Lula puseram-se de acordo em dois pontos: 1) o principal adversário do PT será mesmo o PSDB; 2) entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, avaliaram que o primeiro seria mais fácil de ser batido. Alckmin, como é menos conhecido, encarnaria mais facilmente a imagem do "novo". Serra seria mais facilmente identificável com o "velho", representado pela gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), à qual serviu como ministro do Planejamento e da Saúde.
Lula revelou-se preocupado durante a conversa com o teor do livro que Dirceu está escrevendo em parceria com o jornalista e escritor Fernando Morais. O ex-ministro o tranqüilizou. Disse que já não tem tanta certeza de que o livro sairá. De resto, comprometeu-se a ajudar Lula na estruturação de sua campanha à reeleição.

Anistia
Antes de viajar para a Venezuela, Dirceu reuniu-se com advogados e amigos para articular um projeto de lei de anistia para anular os efeitos da cassação do seu mandato. O ex-ministro move-se nas frentes jurídica e política.
No front jurídico, pediu aos advogados que apressem os estudos sobre a viabilidade do projeto. Na frente política, quer a coleta de pelo menos um milhão de assinaturas de apoio à proposta, que chegaria ao Congresso como uma iniciativa popular.
O grosso das assinaturas será coletado, segundo Dirceu informou ao grupo, pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Dirceu revelou aos amigos que já conversou a respeito do assunto com o principal líder do MST, João Pedro Stedile. A julgar pelo que disse o ex-ministro, Stedile teria se comprometido a obter as assinaturas para o projeto.


Josias de Souza escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" no endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza


Texto Anterior: Eleições 2006/Presidência: FHC usa "povo" como argumento pró-Serra
Próximo Texto: Lula prepara ida à TV para falar sobre o mínimo de R$ 350
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.