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JANIO DE FREITAS
Arremedo de país
O tamanho de um país, orgulho dos brasileiros, não vale
nada -os suíços que o digam.
Estados Unidos e Brasil se
equivalem em tamanho, até
nos recursos territoriais, e, no
entanto, um é o dominador, e
o outro, o dominado. O tamanho não importa, mas ilude.
De repente, porém, basta um
Calabi qualquer cair do galho
e, pronto, o país grandalhão
cai no seu tamanho verdadeiro. Mostra as dimensões que
não enxerga em si mesmo.
E quem é esse tal Calabi que
caiu? Ninguém. Alguém que
nunca fez ou disse alguma coisa que merecesse ser notada.
Do qual jamais se esperou o
que não fez nem faria, mesmo.
Apenas mais um elemento da
patota de paulistas federais citado, como quase todos, em
histórias de negócios suspeitosos. Entre os mais recentes, um
contrato questionado com o
Jari de lastimáveis memórias,
manobras para um grupo ultranegocista de São Paulo e
outras dessas gracinhas muito
em moda.
O tal Calabi chegara ao
BNDES com a declaração de
que o banco se dedicaria a
promover grandes fusões. Pegou mal, porque ficaram visíveis as impressões digitais do
grupo ultranegocista, e logo
uma declaração substituta
anunciava apoio ao crescimento das empresas brasileiras. Nada foi além da boca e
da xaropada das ilegíveis páginas econômicas. Calabi continuou sendo ninguém.
Assim como chegou, foi-se. E
então o país aproveitou para
se mostrar, mais uma vez, no
seu tamanho verdadeiro. Em
nenhum outro um acontecimento tão banal, tão insignificativo, se tornaria manchete
de toda a imprensa nacional.
Por dois dias, por três em televisões e grande parte dos jornais. Páginas e páginas e mais
páginas desde o começo da semana. Como se houvesse um
grande acontecimento. Para
não fugir ao espeto de pau:
nesta Folha de tantos feitos,
todas as páginas de notícia do
Brasil ainda foram ocupadas,
já na quinta-feira, pela substituição do tal Calabi. Dez páginas.
Só em país muito miúdo,
muito chinfrim, a exoneração
do presidente de um banco,
presidente e banco sem a menor expressão nas circunstâncias, pode ocupar maior espaço e tempo da mídia. E só no
Brasil ocupar tanto tempo e
tanto espaço. Um país alienado, em todos os sentidos da
palavra. Nesse país idiotizado
a saída de um presidente de
banco estatal tem a dimensão
que o exterior dá à morte do
papa, à renúncia forçada de
um Nixon, a um fato gigantesco como a queda do Muro de
Berlim.
E o que são o BNDES e o seu
presidente? Um banco estatal
e um funcionário que deve dirigi-lo segundo a orientação
do ministério a que a entidade
se subordina. Terceiro nível de
governo e olhe lá -caso houvesse política industrial, o que
exigiria a existência de um governo com programa de ação.
No Brasil só existe programa
de inação: tudo ameaça a estabilidade do real.
A lógica é precisa: um Calabi ganha importância porque
os empresários são calabis, os
intelectuais são calabis, os políticos são calabis, o Brasil é
um país de calabis. Ou melhor, é um território de calabis, que país é outra coisa
muito diferente.
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