São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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PESQUISA DATAFOLHA

Para 88%, governo deve reajustar salário mesmo que isso prejudique as contas da Previdência
Mínimo ideal é de R$ 383, diz paulistano

da Redação

O salário mínimo ideal para o Brasil deveria ser de, em média, R$ 383,30 -valor equivalente hoje a cerca de US$ 216-, segundo pesquisa Datafolha realizada na cidade de São Paulo.
Mais: 88% dos entrevistados defendem o reajuste do salário mesmo que isso venha a causar prejuízos à Previdência. O motivo: 96% consideram baixo o valor atual do mínimo, de R$ 136.
O levantamento indica que, se quisesse seguir a opinião dos moradores de São Paulo, o governo federal teria de elevar o salário mínimo em 182% -ou seja, quase triplicar o valor.
O valor médio ideal apontado pelos paulistanos supera o salário mínimo de países como México, Paraguai, Peru e Uruguai.
Segundo dados de dezembro de 1999 compilados pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, ligada à Organização das Nações Unidas), os salários mínimos pagos em dezembro passado nesses países eram, respectivamente, de cerca de US$ 102, US$ 169, US$ 99 e US$ 89. O cálculo leva em conta a taxa de câmbio entre as moedas locais e o dólar na última sexta.
O resultado da pesquisa não reflete, também, uma certa "advocacia em causa própria". Dos entrevistados, 73% não recebem rendimentos baseados no valor do salário mínimo. Nesse grupo, a média obtida foi de R$ 381,80.
Entre os 27% que têm rendimentos vinculados ao salário mínimo, o valor tido como ideal é R$ 387,50, apenas cerca de R$ 4 acima da média geral obtida entre todos os entrevistados.

Propostas
Um aumento do salário mínimo beneficia cerca de 4,5 milhões de trabalhadores com ou sem carteira assinada e quase 12,2 milhões de aposentados e pensionistas da Previdência Social -que têm os benefícios vinculados ao valor do salário mínimo.
O governo pode antecipar o anúncio do reajuste, previsto para abril, e acena com a possibilidade de conceder um aumento acima da inflação acumulada entre maio de 1999 e abril deste ano -que deve ficar em cerca de 7%.
Com esse índice, o novo salário mínimo chegaria a R$ 145, ficando muito abaixo do valor pretendido pelos paulistanos.
Nem mesmo a proposta de um mínimo equivalente a US$ 100 -uma "bandeira" lançada pelo PFL no início deste mês- agradaria aos entrevistados. Para 60%, esse valor, que significaria um salário mensal de aproximadamente R$ 177,40 (conforme a taxa de câmbio de sexta-feira), é baixo.
A maioria dos moradores de São Paulo (78%) tomou conhecimento da proposta do PFL, sendo que 23% do total acreditam estar bem informados sobre ela.
Na disputa pelo eleitorado que sucedeu o anúncio dos pefelistas, o PSDB lançou a proposta de elevar o mínimo para R$ 160, um número intermediário que provavelmente também seria rejeitado pelos moradores de São Paulo.

Previdência
Na avaliação do governo, um salário mínimo maior contribuiria para reduzir a pobreza no país, como aconteceu no início do Plano Real. Em 1995, o governo concedeu um abono de R$ 15 de janeiro a abril e, em maio, elevou o mínimo de R$ 70 para R$ 100.
Mas a ampliação do rombo nas contas da Previdência, uma consequência natural do reajuste do mínimo, emperra a decisão sobre o tema. A pressão é maior da área econômica, responsável pelo controle das contas públicas e pelo cumprimento das metas de ajuste fiscal acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Um reajuste de 7% elevaria os gastos do governo em aproximadamente R$ 800 milhões em 2000, segundo as contas do governo.
Se o reajuste fosse de 32% -o que significaria elevar o salário a US$ 100-, as despesas aumentariam em cerca de R$ 2,2 bilhões. Para o Ministério da Fazenda, esse aumento elevaria a inflação em um ponto percentual.
Em simulações, o Banco Central concluiu que, caso o reajuste seja de 10% -índice que daria um aumento real ao mínimo, como quer o presidente Fernando Henrique Cardoso-, o dispêndio extra chegaria a R$ 900 milhões.
Para o BC, isso exigiria aumento de receitas ou corte de gastos, mas a situação seria administrável.
Já o reajuste de 32% poderia levar a uma elevação da taxa de juros, hoje em 19%, para que a meta de uma inflação de 6% neste ano fosse cumprida.

Renda e educação
Ainda conforme a pesquisa Datafolha, quanto mais alta a renda familiar mensal do entrevistado, maior o valor proposto para o salário mínimo. A mesma tendência acontece quando é observado o grau de escolaridade.
No grupo de renda inferior, o valor ideal para o mínimo seria de R$ 359,10, e no grupo intermediário, de R$ 436,50. No estrato superior (renda acima de 20 mínimos, ou R$ 2.720), o valor ideal para o salário seria de R$ 457,30 -o mais alto resultado entre as diferentes divisões de entrevistados.
Na média, as pessoas com primeiro grau acham que o salário mínimo deveria ser de R$ 352,20. O grupo com segundo grau sugere o valor de R$ 408,6, enquanto as pessoas com nível superior de escolaridade consideram R$ 439,01 o valor ideal.
O Datafolha ouviu 615 pessoas na cidade de São Paulo. A margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.



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