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PESQUISA DATAFOLHA
Para 88%, governo deve reajustar salário mesmo que isso prejudique as contas da Previdência
Mínimo ideal é de R$ 383, diz paulistano
da Redação
O salário mínimo ideal para o
Brasil deveria ser de, em média,
R$ 383,30 -valor equivalente hoje a cerca de US$ 216-, segundo
pesquisa Datafolha realizada na
cidade de São Paulo.
Mais: 88% dos entrevistados defendem o reajuste do salário mesmo que isso venha a causar prejuízos à Previdência. O motivo:
96% consideram baixo o valor
atual do mínimo, de R$ 136.
O levantamento indica que, se
quisesse seguir a opinião dos moradores de São Paulo, o governo
federal teria de elevar o salário
mínimo em 182% -ou seja, quase triplicar o valor.
O valor médio ideal apontado
pelos paulistanos supera o salário
mínimo de países como México,
Paraguai, Peru e Uruguai.
Segundo dados de dezembro de
1999 compilados pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, ligada à Organização
das Nações Unidas), os salários
mínimos pagos em dezembro
passado nesses países eram, respectivamente, de cerca de US$
102, US$ 169, US$ 99 e US$ 89. O
cálculo leva em conta a taxa de
câmbio entre as moedas locais e o
dólar na última sexta.
O resultado da pesquisa não reflete, também, uma certa "advocacia em causa própria". Dos entrevistados, 73% não recebem
rendimentos baseados no valor
do salário mínimo. Nesse grupo, a
média obtida foi de R$ 381,80.
Entre os 27% que têm rendimentos vinculados ao salário mínimo, o valor tido como ideal é R$
387,50, apenas cerca de R$ 4 acima da média geral obtida entre
todos os entrevistados.
Propostas
Um aumento do salário mínimo beneficia cerca de 4,5 milhões
de trabalhadores com ou sem carteira assinada e quase 12,2 milhões de aposentados e pensionistas da Previdência Social -que
têm os benefícios vinculados ao
valor do salário mínimo.
O governo pode antecipar o
anúncio do reajuste, previsto para
abril, e acena com a possibilidade
de conceder um aumento acima
da inflação acumulada entre maio
de 1999 e abril deste ano -que
deve ficar em cerca de 7%.
Com esse índice, o novo salário
mínimo chegaria a R$ 145, ficando muito abaixo do valor pretendido pelos paulistanos.
Nem mesmo a proposta de um
mínimo equivalente a US$ 100
-uma "bandeira" lançada pelo
PFL no início deste mês- agradaria aos entrevistados. Para 60%,
esse valor, que significaria um salário mensal de aproximadamente R$ 177,40 (conforme a taxa de
câmbio de sexta-feira), é baixo.
A maioria dos moradores de
São Paulo (78%) tomou conhecimento da proposta do PFL, sendo
que 23% do total acreditam estar
bem informados sobre ela.
Na disputa pelo eleitorado que
sucedeu o anúncio dos pefelistas,
o PSDB lançou a proposta de elevar o mínimo para R$ 160, um número intermediário que provavelmente também seria rejeitado
pelos moradores de São Paulo.
Previdência
Na avaliação do governo, um
salário mínimo maior contribuiria para reduzir a pobreza no país,
como aconteceu no início do Plano Real. Em 1995, o governo concedeu um abono de R$ 15 de janeiro a abril e, em maio, elevou o
mínimo de R$ 70 para R$ 100.
Mas a ampliação do rombo nas
contas da Previdência, uma consequência natural do reajuste do
mínimo, emperra a decisão sobre
o tema. A pressão é maior da área
econômica, responsável pelo controle das contas públicas e pelo
cumprimento das metas de ajuste
fiscal acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Um reajuste de 7% elevaria os
gastos do governo em aproximadamente R$ 800 milhões em 2000,
segundo as contas do governo.
Se o reajuste fosse de 32% -o
que significaria elevar o salário a
US$ 100-, as despesas aumentariam em cerca de R$ 2,2 bilhões.
Para o Ministério da Fazenda, esse aumento elevaria a inflação em
um ponto percentual.
Em simulações, o Banco Central
concluiu que, caso o reajuste seja
de 10% -índice que daria um aumento real ao mínimo, como
quer o presidente Fernando Henrique Cardoso-, o dispêndio extra chegaria a R$ 900 milhões.
Para o BC, isso exigiria aumento
de receitas ou corte de gastos, mas
a situação seria administrável.
Já o reajuste de 32% poderia levar a uma elevação da taxa de juros, hoje em 19%, para que a meta
de uma inflação de 6% neste ano
fosse cumprida.
Renda e educação
Ainda conforme a pesquisa Datafolha, quanto mais alta a renda
familiar mensal do entrevistado,
maior o valor proposto para o salário mínimo. A mesma tendência acontece quando é observado
o grau de escolaridade.
No grupo de renda inferior, o
valor ideal para o mínimo seria de
R$ 359,10, e no grupo intermediário, de R$ 436,50. No estrato superior (renda acima de 20 mínimos,
ou R$ 2.720), o valor ideal para o
salário seria de R$ 457,30 -o
mais alto resultado entre as diferentes divisões de entrevistados.
Na média, as pessoas com primeiro grau acham que o salário
mínimo deveria ser de R$ 352,20.
O grupo com segundo grau sugere o valor de R$ 408,6, enquanto
as pessoas com nível superior de
escolaridade consideram R$
439,01 o valor ideal.
O Datafolha ouviu 615 pessoas
na cidade de São Paulo. A margem de erro do levantamento é de
quatro pontos percentuais, para
mais ou para menos.
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