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HERANÇA E OMISSÃO
Além de tentar convencer Severino, Planalto quer associar ao PSDB a imagem de oposição golpista
José Dirceu e Aldo vão tentar barrar processo contra Lula na Câmara
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto já desencadeou articulação para convencer o presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti
(PP-PE), a barrar o pedido de
abertura de processo por crime de
responsabilidade contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mesmo tempo, tentará colar
no PSDB o carimbo de oposição
venezuelana, golpista.
Dirigentes do PP já disseram a
membros da cúpula do governo
que a tendência de Severino é
mandar arquivar o pedido feito
pelo PSDB. "Será oferecida uma
primeira flor ao governo", segundo expressão de um dos envolvidos na articulação.
O Palácio do Planalto já fez o levantamento de quantos pedidos
semelhantes contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram arquivados na Câmara:
21 em oito anos de governo (1995-2002). Muitos desses pedidos foram feitos por petistas. A diferença, dirão o governo e o PT, é que a
cúpula petista não endossou o
"Fora FHC" encampado pelos setores mais radicais do partido.
Outro argumento do Planalto:
Lula insistirá na versão de que, ao
mandar um auxiliar fechar "a boca", queria evitar acusações levianas. Ou seja, não teria mandado
abafar corrupção ao ser informado por um "alto companheiro" de
que um "processo de corrupção"
quebrara uma instituição federal.
A Folha apurou que os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política)
falarão com Severino, que ontem
fazia check-up em São Paulo e que
hoje viaja para o Rio Grande do
Sul. Dirceu, por exemplo, já acionou Pedro Henry (MT), ex-líder
do PP na Câmara e ministeriável.
O retorno de Severino a Brasília
está previsto para terça-feira. Na
segunda, ele visitará Rondônia e
Amazonas. Ou seja, a análise formal do pedido deverá ser apreciada só na terça ou quarta, dando
tempo para que articulações de
bastidor levem a um acerto do governo com o PP. Negociações para a reforma ministerial estão coladas à articulação com Severino.
Na próxima semana, Lula tratará da reforma ministerial. Estão
previstas conversas com peemedebistas, como o presidente do
Senado, Renan Calheiros (AL), e o
senador José Sarney (AP), e com
pepistas, como Severino e Henry,
além do presidente do PP, Pedro
Corrêa (PE), e do líder do PP na
Câmara, José Janene (PR).
Se falhar a articulação direta
com Severino, o governo avalia
que terá como barrar o pedido de
abertura de processo por crime de
responsabilidade no plenário da
Câmara. São necessários dois terços dos 513 deputados federais
para que o pedido seja aceito.
Ao deixar o hospital Sírio-Libanês ontem, após fazer exames de
rotina, Severino evitou comentar
qual decisão irá tomar sobre o pedido de abertura de processo. O
pepista afirmou que, somente
quando retornar a Brasília, irá
"tomar conhecimento" do assunto. "Até agora não sei de nada",
disse o presidente da Câmara.
A Venezuela é aqui
Fora do front legislativo, o governo e o PT também deverão subir o tom dos ataques ao PSDB e a
FHC. A intenção é dizer que os tucanos flertam com tipo de oposição "a la Venezuela", país no qual
os críticos de Hugo Chávez defenderam um golpe de Estado. A diferença seria a tentativa de dar um
golpe no "tapetão", segundo expressão ouvida pela Folha.
Para Lula, FHC avaliava que ele
faria um governo péssimo, que
geraria crise no curto prazo e que
o tucano teria chance de voltar à
Presidência em 2006. Como não
veio o caos, o ex-presidente tentaria desestabilizar o governo.
Em nota, o PT já ensaiou o discurso. "Ao agir de forma sectária,
setores da oposição parecem querer apostar no caminho da desestabilização política do governo e
do Brasil", disse o presidente do
PT, José Genoino, no texto.
Colaborou a Redação
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