São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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HERANÇA E OMISSÃO

Além de tentar convencer Severino, Planalto quer associar ao PSDB a imagem de oposição golpista

José Dirceu e Aldo vão tentar barrar processo contra Lula na Câmara

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto já desencadeou articulação para convencer o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), a barrar o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, tentará colar no PSDB o carimbo de oposição venezuelana, golpista.
Dirigentes do PP já disseram a membros da cúpula do governo que a tendência de Severino é mandar arquivar o pedido feito pelo PSDB. "Será oferecida uma primeira flor ao governo", segundo expressão de um dos envolvidos na articulação.
O Palácio do Planalto já fez o levantamento de quantos pedidos semelhantes contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram arquivados na Câmara: 21 em oito anos de governo (1995-2002). Muitos desses pedidos foram feitos por petistas. A diferença, dirão o governo e o PT, é que a cúpula petista não endossou o "Fora FHC" encampado pelos setores mais radicais do partido.
Outro argumento do Planalto: Lula insistirá na versão de que, ao mandar um auxiliar fechar "a boca", queria evitar acusações levianas. Ou seja, não teria mandado abafar corrupção ao ser informado por um "alto companheiro" de que um "processo de corrupção" quebrara uma instituição federal.
A Folha apurou que os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) falarão com Severino, que ontem fazia check-up em São Paulo e que hoje viaja para o Rio Grande do Sul. Dirceu, por exemplo, já acionou Pedro Henry (MT), ex-líder do PP na Câmara e ministeriável.
O retorno de Severino a Brasília está previsto para terça-feira. Na segunda, ele visitará Rondônia e Amazonas. Ou seja, a análise formal do pedido deverá ser apreciada só na terça ou quarta, dando tempo para que articulações de bastidor levem a um acerto do governo com o PP. Negociações para a reforma ministerial estão coladas à articulação com Severino.
Na próxima semana, Lula tratará da reforma ministerial. Estão previstas conversas com peemedebistas, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP), e com pepistas, como Severino e Henry, além do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), e do líder do PP na Câmara, José Janene (PR).
Se falhar a articulação direta com Severino, o governo avalia que terá como barrar o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade no plenário da Câmara. São necessários dois terços dos 513 deputados federais para que o pedido seja aceito.
Ao deixar o hospital Sírio-Libanês ontem, após fazer exames de rotina, Severino evitou comentar qual decisão irá tomar sobre o pedido de abertura de processo. O pepista afirmou que, somente quando retornar a Brasília, irá "tomar conhecimento" do assunto. "Até agora não sei de nada", disse o presidente da Câmara.

A Venezuela é aqui
Fora do front legislativo, o governo e o PT também deverão subir o tom dos ataques ao PSDB e a FHC. A intenção é dizer que os tucanos flertam com tipo de oposição "a la Venezuela", país no qual os críticos de Hugo Chávez defenderam um golpe de Estado. A diferença seria a tentativa de dar um golpe no "tapetão", segundo expressão ouvida pela Folha.
Para Lula, FHC avaliava que ele faria um governo péssimo, que geraria crise no curto prazo e que o tucano teria chance de voltar à Presidência em 2006. Como não veio o caos, o ex-presidente tentaria desestabilizar o governo.
Em nota, o PT já ensaiou o discurso. "Ao agir de forma sectária, setores da oposição parecem querer apostar no caminho da desestabilização política do governo e do Brasil", disse o presidente do PT, José Genoino, no texto.


Colaborou a Redação

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