|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO CC5
José Mentor (PT), da comissão do Banestado, quis evitar quebra de sigilo bancário de Antônio Cipriani, ligado ao partido
Relator tenta favorecer empresário em CPI
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O relator da CPI do Banestado,
deputado José Mentor (PT-SP),
tentou, por duas vezes em sessões
na comissão, impedir a quebra do
sigilo bancário do empresário
Antônio Celso Cipriani, ex-presidente da empresa de aviação
Transbrasil, que quebrou financeiramente em 2001, deixando R$
910 milhões em dívidas.
Segundo o presidente da comissão e autor do pedido contra Cipriani, senador Antero Paes de
Barros (PSDB-MT), o empresário
remeteu para o exterior cerca de
US$ 35 milhões por meio de doleiros e recebeu recursos de contas da Beacon Hill, uma "offshore" retransmissora de fundos que
sofre uma devassa de promotores
de Nova York (EUA).
Mentor reconheceu ontem, em
entrevista à Folha, que é "amigo
pessoal" do advogado de Cipriani, Roberto Teixeira, há "mais de
40 anos", e que foram contemporâneos de faculdade. Mentor disse
ter recebido Teixeira e Cipriani,
em audiência, em seu gabinete,
antes da votação da quebra do sigilo bancário. Essa proximidade
com Teixeira não impediu que
Mentor opinasse nas sessões contrariamente ao pedido que atacava os interesses de Cipriani.
O deputado, indicado para relator da comissão após entendimentos entre o PT e o Palácio do
Planalto, primeiro pediu o "sobrestamento" (suspensão) da
quebra do sigilo de Cipriani. Ele
alegou "critérios técnicos" e argumentou que a CPI não poderia
"pinçar" nomes. Até dezembro
último, porém, a comissão já havia quebrado o sigilo de 1.350 pessoas e empresas "pinçadas" de
uma investigação que envolve dezenas de milhares de correntistas.
Os membros da CPI decidiram
acolher o pedido de Antero. Na
sessão seguinte, com o voto vencido, Mentor alegou uma questão
de ordem para tentar reverter a
votação que havia prejudicado
Cipriani. As manobras não tiveram sucesso.
"Nunca tinha visto algo assim
por parte do relator", disse o presidente da comissão, Antero Paes.
De acordo com o depoimento
de uma ex-assessora de Cipriani
na Transbrasil, ao qual a Folha teve acesso, o empresário é "amigo"
do ministro José Dirceu (Casa Civil) e do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, além de
ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça), deputados federais
e do senador Romeu Tuma (PFL-SP) -outro que se manifestou
contrário à quebra do sigilo.
A professora Isabel Maria Miranda Rodrigues trabalhou por
sete anos como assessora direta
de Cipriani. Foi funcionária da
Transbrasil entre 1985 e 2002. Hoje ela move uma ação trabalhista
contra a empresa. O depoimento
foi prestado em 8 de março de
2002 ao procurador da República
no Distrito Federal Guilherme
Schelb. "Em relação ao sr. José
Dirceu a depoente pode dizer que
ele é amigo pessoal do sr. Cipriani
e que recebeu passagens aéreas no
ano de 1996", disse Isabel.
Segundo a ex-assessora, havia
um "procedimento padrão interno" na Transbrasil para "disfarçar
que o bilhete havia sido fornecido
gratuitamente". A estratégia consistiria em emitir o bilhete e depois "estorná-lo" (retificar um
documento).
Compadre
Roberto Teixeira, compadre de
Lula, na casa de quem ele morou
por anos, é advogado de Cipriani
e da Transbrasil em pelo menos
cinco ações judiciais. Teve papel
destacado na tentativa de vender
a empresa a outros sócios, em
2002, quando chegou a presidir
uma assembléia de acionistas e
intermediar oficialmente contatos com possíveis compradores.
A reportagem esteve no início
da semana na portaria do prédio
do escritório de advocacia de Teixeira, na rua Padre João Manuel,
755, nos Jardins, em São Paulo. A
funcionária da portaria informou
à reportagem que Antônio Celso
Cipriani trabalhava no mesmo escritório de Teixeira.
A informação, segundo ela,
constava do controle interno do
edifício. Ela chamou o ramal de
Cipriani e informou, a uma assessora de nome Grace, a presença
da reportagem. Após alguma espera, foi informada pela funcionária que Cipriani "não trabalhava mais" naquele endereço.
Instantes depois, outra secretária de Teixeira, de nome Ivete, disse à reportagem, no telefone da
portaria, que Cipriani "nunca trabalhou" para Teixeira. Ele seria
apenas um cliente do advogado.
Indagada sobre o registro do ramal de Cipriani no sistema de
computadores da portaria do prédio, a secretária afirmou que o sistema estava equivocado.
Texto Anterior: Militares fazem movimento por salários maiores Próximo Texto: Outro lado: Deputado alega "critérios técnicos" para barrar quebra Índice
|