São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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Secretário de Defesa dos EUA vem ao país negociar parceria

Robert Gates desembarca em Brasília em meados de abril para tratar de política regional e da venda de armamentos

Compra de caças para a FAB deve ficar fora da pauta de discussões; Embraer quer vender 200 aviões para a Marinha norte-americana


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, fará uma visita ao Brasil em meados de abril -a data final ainda está sendo negociada.
Segundo a Folha apurou, as discussões com o governo brasileiro deverão ter como foco as negociações militares, a política regional e a elaboração de um documento de parceria estratégica.
Gates deverá passar também por outros países da América do Sul que ainda não foram anunciados. A viagem ao Brasil ocorre após convite do ministro Nelson Jobim (Defesa), que se encontrou com o secretário americano em Nova York no mês de fevereiro.
Pelo menos um grande negócio será discutido. A Embraer quer fornecer aviões Super Tucano para a Marinha dos EUA, e já há tratativas para uma eventual compra, que pode chegar a 200 unidades.

Caças
Já a compra de caças pela FAB, negócio bilionário que se arrasta há uma década e tem um concorrente americano na disputa, não deverá ser discutida caso o cronograma anunciado por Jobim seja cumprido. Ele diz que a escolha ocorrerá até a Páscoa, e o F-18 americano é dado como descartado.
O temor em alguns setores do governo e da indústria é de que a quase certa escolha do caça francês Rafale pelo Brasil afete a compra dos Super Tucanos e outros negócios da empresa brasileira, que depende de fornecedores americanos. Para os EUA, mesmo se o F-18 não for escolhido, a seleção do preferido da FAB, o sueco Gripen, seria mais palatável.
Gates deverá também avançar na negociação de um acordo de parceria estratégica com o Brasil, mas sabe que há resistências no Itamaraty em torno de uma percepção de alinhamento a Washington. É mais provável que seja anunciada uma parceria mais genérica.

Tensão regional
O secretário americano deverá ainda manter conversas sobre um dos focos de tensão regional, o contencioso Venezuela-Colômbia. O antagonismo da pró-EUA Bogotá e a anti-EUA Caracas é uma das situações mais inflamáveis no subcontinente hoje. Alguns no lado brasileiro esperam que a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) entre na pauta.
A questão do uso de sete bases em território colombiano pelos EUA, que gerou protestos brasileiros e uma crítica estridente de boa parte da Unasul ano passado, por ora é dada como resolvida.
No ano passado, a Unasul firmou um documento que diz que "os EUA se comprometem formalmente" a fazer com que pactos não sejam fonte de ameaça também à estabilidade e que não terão efeito sobre nem o território nem espaço de outros Estados.
A visita de Gates chega pouco após o Brasil receber a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, no começo do mês. O presidente Barack Obama também poderá ir ao país ainda neste semestre. Para analistas, porém, existem poucas chances de haver uma aproximação prática real, devido à divergência de interesses.


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