São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

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OMBUDSMAN
Seja o editor, teste sua ética

A questão é saber se o tropeção de Fernando Henrique Cardoso tem valor informativo
MARIO VITOR SANTOS

Tomar decisões cruciais, muitas vezes em cima da hora: esta é a sina dos editores. Com frequência, essas resoluções envolvem questões éticas. São opções que podem provocar grandes repercussões, prejudicar gravemente a imagem de pessoas envolvidas, levar o profissional à derrota diante da concorrência, promover os piores valores.
Abaixo, seguem cinco casos de dilemas jornalísticos e éticos que poderiam criar dificuldades aos editores. Algumas das situações são reais, outras, não. A de número quatro está em relato recente de Gina Lubrano, representante dos leitores do ``San Diego Union-Tribune'', da Califórnia. Marque uma resposta para cada caso e envie cópia para o endereço no final desta coluna. Se quiser dar explicações, mande numa folha anexa. Por e-mail, cite o número do caso e a resposta escolhida. Ao trabalho, portanto. Você é o editor. Os resultados aparecerão numa futura coluna.
CASO Nš 1
Durante uma visita a Rondônia, o presidente Fernando Henrique Cardoso tropeça e cai na escada de madeira que conduzia ao palanque presidencial. Ele é amparado por um segurança.
Você publicaria a foto da queda na Primeira Página?
(A) Sim. A queda foi o grande acontecimento fotográfico do dia, ilustra a situação atual do presidente, com dificuldades em várias áreas. Além disso, imagens do fato já foram veiculadas na TV.
(B) Não. A fotografia não informa nada relevante, apenas um acontecimento banal, sem consequências, que não merece ser destacado apenas porque afeta o presidente.
CASO Nš 2
Um hipotético fotógrafo, seu subordinado, presente na situação descrita acima, em condições de auxiliar o presidente e impedir sua queda, deixa de registrá-la para tentar amparar Fernando Henrique. Não consegue ajudá-lo e perde a foto, publicada no dia seguinte em todos os jornais. Você:
(A) Elogia o fotógrafo, por seu impulso de solidariedade humana, pela atitude moral que confere a seus atos, inclusive no trabalho.
(B) Critica o profissional, por não cumprir sua pauta: registrar o que acontecia com o mais importante personagem de noticiário do país.
CASO Nš 3
Esse é comum na relação entre imprensa e polícia. Delegado investiga caso de assassino em série e descobre o nome do único suspeito (que ele assegura ser o criminoso). O suspeito está à solta e representa um perigo. O delegado fornece o nome do suspeito a todos os órgãos de imprensa que o procuram. Como não há tempo para checar a informação antes do fechamento da edição, seu repórter de polícia defende a não-publicação do nome. Você aceita.
No dia seguinte, seu jornal é o único da cidade a não trazer a informação, que logo se revela verdadeira. Você:
(A) Elogia o repórter, por seu rigor na observação dos princípios éticos de só publicar informações checadas.
(B) Critica-o, por não entender que a checagem às vezes não é possível, que a divulgação da informação poderia evitar crimes e se houvesse erro ele resultaria de uma intenção correta: informar o público de algo relevante.
CASO Nš 4
Aconteceu no ``Fort Worth Star Telegram'', um jornal texano, após a explosão de uma bomba caseira no Parque Olímpico, em Atlanta, durante os Jogos de 96. Um ilustrador do jornal apresenta desenho intitulado ``Ingredientes de bomba caseira''. O quadro traz oito itens geralmente usados para montar esses artefatos. Você:
(A) Não usa o desenho, para não incentivar a fabricação de bombas desse tipo. Já houve várias ameaças de atentado, logo em seguida ao episódio de Atlanta.
(B) Usa o desenho, que afinal não trazia instruções. Era só uma ilustração para mostrar como é fácil e barato obter os ingredientes de uma bomba mortal. Instruções podem ser conseguidas numa biblioteca ou na Internet.
CASO Nš 5
Você revelaria quem matou Odete Roitman? Bem no início dos capítulos da série ``Twin Peaks'', levada ao ar no Brasil no início da década, você, editor de caderno cultural, já sabe quem matou Laura Palmer, ou seja, sabe o desfecho da série, que fora transmitida anteriormente nos Estados Unidos, com grande sucesso, aumentando a expectativa no Brasil. De posse da informação, você:
(A) Fura toda a concorrência e publica a identidade do assassino, mas apenas no corpo de um texto -não revela a identidade em título- e toma a precaução de avisar os leitores que não desejarem saber para não avançar no texto, pois a identidade do assassino será revelada logo abaixo.
(B) Não publica o nome do assassino. Mesmo com todas as precauções, quem lesse a informação acabaria comentando com a pessoa que não deseja saber, ou com algum seu amigo, que comentará com ele. Será como um pequeno buraco no casco do navio. Logo todos saberão.

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