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OMBUDSMAN
Seja o editor, teste sua ética
A questão é saber se o tropeção de Fernando Henrique Cardoso tem valor informativo
MARIO VITOR SANTOS
Tomar decisões cruciais,
muitas vezes em cima da hora:
esta é a sina dos editores. Com
frequência, essas resoluções envolvem questões éticas. São opções que podem provocar grandes repercussões, prejudicar
gravemente a imagem de pessoas envolvidas, levar o profissional à derrota diante da concorrência, promover os piores
valores.
Abaixo, seguem cinco casos
de dilemas jornalísticos e éticos
que poderiam criar dificuldades aos editores. Algumas das
situações são reais, outras, não.
A de número quatro está em
relato recente de Gina Lubrano, representante dos leitores
do ``San Diego Union-Tribune'', da Califórnia. Marque
uma resposta para cada caso e
envie cópia para o endereço no
final desta coluna. Se quiser
dar explicações, mande numa
folha anexa. Por e-mail, cite o
número do caso e a resposta
escolhida. Ao trabalho, portanto. Você é o editor. Os resultados aparecerão numa futura
coluna.
CASO Nš 1
Durante uma visita a Rondônia, o presidente Fernando
Henrique Cardoso tropeça e cai
na escada de madeira que conduzia ao palanque presidencial. Ele é amparado por um
segurança.
Você publicaria a foto da
queda na Primeira Página?
(A) Sim. A queda foi o grande
acontecimento fotográfico do
dia, ilustra a situação atual do
presidente, com dificuldades
em várias áreas. Além disso,
imagens do fato já foram veiculadas na TV.
(B) Não. A fotografia não informa nada relevante, apenas
um acontecimento banal, sem
consequências, que não merece
ser destacado apenas porque
afeta o presidente.
CASO Nš 2
Um hipotético fotógrafo,
seu subordinado, presente na
situação descrita acima, em
condições de auxiliar o presidente e impedir sua queda, deixa de registrá-la para tentar
amparar Fernando Henrique.
Não consegue ajudá-lo e perde
a foto, publicada no dia seguinte em todos os jornais. Você:
(A) Elogia o fotógrafo, por
seu impulso de solidariedade
humana, pela atitude moral
que confere a seus atos, inclusive no trabalho.
(B) Critica o profissional, por
não cumprir sua pauta: registrar o que acontecia com o
mais importante personagem
de noticiário do país.
CASO Nš 3
Esse é comum na relação
entre imprensa e polícia. Delegado investiga caso de assassino em série e descobre o nome
do único suspeito (que ele assegura ser o criminoso). O suspeito está à solta e representa um
perigo. O delegado fornece o
nome do suspeito a todos os
órgãos de imprensa que o procuram. Como não há tempo
para checar a informação antes do fechamento da edição,
seu repórter de polícia defende
a não-publicação do nome.
Você aceita.
No dia seguinte, seu jornal é
o único da cidade a não trazer
a informação, que logo se revela verdadeira. Você:
(A) Elogia o repórter, por seu
rigor na observação dos princípios éticos de só publicar informações checadas.
(B) Critica-o, por não entender que a checagem às vezes
não é possível, que a divulgação da informação poderia evitar crimes e se houvesse erro ele
resultaria de uma intenção
correta: informar o público de
algo relevante.
CASO Nš 4
Aconteceu no ``Fort Worth
Star Telegram'', um jornal texano, após a explosão de uma
bomba caseira no Parque
Olímpico, em Atlanta, durante
os Jogos de 96. Um ilustrador
do jornal apresenta desenho
intitulado ``Ingredientes de
bomba caseira''. O quadro traz
oito itens geralmente usados
para montar esses artefatos.
Você:
(A) Não usa o desenho, para
não incentivar a fabricação de
bombas desse tipo. Já houve
várias ameaças de atentado,
logo em seguida ao episódio de
Atlanta.
(B) Usa o desenho, que afinal
não trazia instruções. Era só
uma ilustração para mostrar
como é fácil e barato obter os
ingredientes de uma bomba
mortal. Instruções podem ser
conseguidas numa biblioteca
ou na Internet.
CASO Nš 5
Você revelaria quem matou
Odete Roitman? Bem no início
dos capítulos da série ``Twin
Peaks'', levada ao ar no Brasil
no início da década, você, editor de caderno cultural, já sabe
quem matou Laura Palmer, ou
seja, sabe o desfecho da série,
que fora transmitida anteriormente nos Estados Unidos, com
grande sucesso, aumentando a
expectativa no Brasil. De posse
da informação, você:
(A) Fura toda a concorrência
e publica a identidade do assassino, mas apenas no corpo
de um texto -não revela a
identidade em título- e toma
a precaução de avisar os leitores que não desejarem saber
para não avançar no texto,
pois a identidade do assassino
será revelada logo abaixo.
(B) Não publica o nome do
assassino. Mesmo com todas as
precauções, quem lesse a informação acabaria comentando
com a pessoa que não deseja
saber, ou com algum seu amigo, que comentará com ele. Será como um pequeno buraco
no casco do navio. Logo todos
saberão.
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