São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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Racha em encontro forma 3 grupos

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora os governadores tenham assinado um documento de consenso ontem, em Brasília, a atitude deles está longe de ser unânime. Pelo contrário, a reunião que foi realizada num hotel vizinho ao Palácio da Alvorada marcou uma divisão entre os chefes dos executivos estaduais.
A governadora Rosinha Matheus (PMDB-RJ) fez a seguinte análise ao final: "Chegamos a um meio termo. O tema mais importante da reunião foi a forma de calcular a receita líquida real dos Estados para o pagamento das dívidas. Esse assunto está no documento final e terá de ser debatido com o presidente -se ele nos convidar para uma reunião". O encontro entre a governadora e o presidente deve ocorrer amanhã.
Para Rosinha, "há duas maneiras de resolver o problema" de como calcular qual é a receita líquida real de cada Estado -que é o valor sobre o qual se aplica o percentual de pagamento das dívidas estaduais. "A primeira solução seria administrativa, com o governo federal editando uma MP indicando como deve ser a maneira correta de se calcular essa receita líquida. A outra forma é irmos ao Supremo Tribunal Federal e pedir que seja especificada a melhor forma de se fazer esse cálculo". Rosinha quer a exclusão de alguns gastos, como educação e saúde.
Por ora, o Rio não vai ao Supremo. "Vamos esperar um pouco para que o governo se manifeste", disse Rosinha. Quanto tempo? "É um problema urgente", respondeu, sem fixar prazos. Pelos cálculos dela, o Rio poderia economizar até R$ 300 milhões por ano com um recalculo da receita.
Quando a reunião começou, foi projetado numa tela um documento divulgado por peemedebistas na semana passada. O primeiro ponto era a renegociação da dívida dos Estados. Logo no início das discussões, Rosinha foi ao banheiro, e o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) sugeriu a mudança da ordem da pauta. "Não devemos discutir primeiro a dívida, mas o crescimento econômico, que eleva a arrecadação e resolve nosso problema".
Germano Rigotto (RS), do partido de Rosinha, concordou. Ao chegar, ela reclamou em tom ríspido: "Assim não dá para confiar. Me levanto e vocês mudam tudo".

Três grupos
Foi possível identificar três grupos principais entre os governadores, algo bem diferente das reuniões sem dissenso de 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomava a iniciativa de marcar os encontros. São eles: 1) os governistas explícitos, como o petista Jorge Vianna (AC), Ronaldo Lessa (PSB-AL) e Paulo Hartung (PSB-ES); 2) os "do contra", como Roberto Requião (PMDB-PR) e Rosinha; e 3) a turma do "deixa disso", de Alckmin, Aécio Neves (PSDB-MG) e Rigotto.
Num dado momento da reunião, após Requião e Rosinha insistirem em incluir a rediscussão da dívidas estaduais, Alckmin fez uma intervenção, pedindo ponderação aos colegas: "Não podemos sair daqui como pedintes".
"O problema são os governadores que falaram com o Zé Dirceu", disse Rosinha, ao final, referindo-se ao fato de o ministro José Dirceu (Casa Civil) ter mantido contato com governadores para evitar posição final muito beligerante. Isso surtiu efeitos. O documento dos peemedebistas falava até em recurso à Justiça. Só Requião e Rosinha mantiveram a posição.


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