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Marina critica termelétricas, Angra 3 e colega de governo
Ministra afirma que não admite desenvolvimento sem conservação ambiental
No Chile, o presidente Lula afirmou que não existem barreiras "ambientais" ao crescimento econômico do Brasil, mas entraves "legais"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL AO CHILE
A ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) criticou ontem, em audiência na Câmara,
a construção de usinas térmicas como alternativa às hidrelétricas do rio Madeira, caso não
obtenham licença ambiental.
Ela reiterou que o Meio Ambiente é contra a construção da
usina nuclear de Angra 3 e disse
que as termelétricas a carvão
"estão na contramão do que está sendo feito no mundo".
De acordo com o Ministério
de Minas e Energia, essas seriam as opções para substituir a
geração estimada em 6.450
MW de energia nas usinas de
Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, e evitar crise no abastecimento a partir de 2013.
À noite, em entrevista no Palácio do Planalto, Marina repetiu o raciocínio e citou o ministro de Minas e Energia, Silas
Rondeau: "Há uma preocupação em geração de energia, o
que é correto da parte do ministro, o que não significa que ele
não tenha que se preocupar
com as questões ambientais
igualmente importantes".
De acordo com estudos do
Ministério de Minas e Energia,
as alternativas às usinas do Madeira poderão aumentar a
emissão de gás carbônico na atmosfera de pouco mais de 100
milhões de toneladas para pouco menos de 200 milhões de toneladas em 2016. Marina disse
que não há prazo para o Ibama
decidir sobre o licenciamento
de usinas do Madeira.
"Está se criando uma idéia de
que o país está paralisado por
causa da questão ambiental",
criticou a ministra. Segundo
ela, as exigências aumentaram
e o processo de licenciamento
demora quando os estudos são
falhos. Citou o exemplo da hidrelétrica de San Salvador (divisa doe GO e TO), que teria obtido licença ambiental no prazo
recorde de seis meses.
"Para mim, é um falso dilema. Não se pode admitir que
pessoas advoguem o desenvolvimento sem que se promova a
conservação ambiental", disse.
No Chile, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou
que não existem barreiras "ambientais" ao crescimento econômico do Brasil, mas sim entraves "legais".
Lula assinou oito acordos de cooperação com a
presidente Michelle Bachelet,
alguns na área energética.
"O problema da construção
de hidrelétricas não é ambiental, é legal. A política do meio
ambiente é regulada por um
conjunto de leis do Congresso
que dá aos homens e mulheres
obrigados a fazer a fiscalização
os aparatos legais para agirem
como agem", disse.
O cerimonial da Presidência
não respondeu à solicitação da
Folha para falar com o ministro Silas Rondeau, que integrava a comitiva de Lula.
O presidente afirmou ainda
que pretende flexibilizar a legislação por meio de um pacote
de mudanças enviado ao Congresso junto com o PAC [Plano
de Aceleração do Crescimento], sem medidas açodadas.
"É melhor demorar um pouco mais e fazer as coisas bem
feitas do que fazer um monumento à insanidade como foi
feito em Balbina na década de
80", disse Lula, em referência à
hidrelétrica, no Amazonas, que
causou grande impacto ambiental e tem baixa produtividade. "O mundo hoje exige de
nós preocupações ambientais
(...) Não significa que você vai
deixar de fazer uma obra."
Durante a audiência na Câmara, Marina sugeriu como
fontes alternativas de energia a
biomassa (produzida a partir
da queima de resíduos agrícolas ou outro material orgânico),
a energia eólica, a energia solar
e os biocombustíveis. No caso
dos biocombustíveis, defendeu
o aumento da produção sem
aumento do desmatamento.
Questionada se ficaria ao lado de técnicos do Ibama ou cederia à pressão do governo, disse: "Não temos de culpar o aparelho de ressonância magnética porque descobriu que estamos com um tumor maligno".
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de
Brasília
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